Por tabata.uchoa

Rio - A disputa entre Rio e São Paulo pelas águas do Rio Paraíba do Sul provocou um conflito hídrico entre os dois estados, ainda sem solução à vista. No entanto, se depender de parte da população fluminense, os paulistas poderão bombear água do rio para socorrer seus reservatórios. Quase metade (48%) dos 870 entrevistados pelo Instituto Gerp, a pedido do DIA, entre os dias 23 a 29 de maio, concorda com a medida desde que não prejudique o abastecimento no Estado do Rio.

“Se for feito com planejamento e não afetar o serviço, não vejo problemas”, aprova o analista de marketing Rômulo Medina, de 24 anos, que, embora seja solidário ao estado vizinho, já sofre com a falta d’água em Nilópolis, na Baixada Fluminense. O apoio, contudo, enfrenta resistência de 37% dos moradores ouvidos. “Sou contra. Cada um com a sua água”, desaprova a moradora da Tijuca Ana Lúcia Leite de Melo, de 49.

Fluminenses são solidários na crise de água do vizinhoAgência O Dia

Na opinião do diretor do Instituto Ecológico Aqualung Marcelo Szpilman, a preocupação com o desabastecimento é real. “A ameaça existe, mas é menor no Rio do que em São Paulo”, diz o biólogo marinho, que atribui a crise à devastação da natureza provocada, entre outras razões, pela favelização.

“Os mananciais de captação de água estão com suas capacidades reduzidas, pois os rios estão assoreados”, explica. Para Szpilman, a solução está na mudança de velhos hábitos. “A água tem que ser racionada. No Rio, os porteiros lavam a calçada com mangueira e o morador do condomínio desperdiça porque não percebe o custo da água”, ressalta.

A pesquisa apontou que a maioria dos entrevistados (85%) se diz preocupada em economizar água no dia a dia, porém, são os mais velhos os mais conscientes em relação ao desperdício. “Toda vez que abro a torneira, penso na situação de São Paulo. Tomo banho em cinco minutos e uso a máquina de lavar uma vez por semana”, conta o taxista Francisco José Siepierski.

A pesquisa revelou também que 65% das pessoas fecham o chuveiro enquanto ensaboam o corpo ou lavam os cabelos, da mesma forma que fecha a torneira enquanto escova os dentes (74% dos entrevistados). “Se cada um fizer um pouquinho, não vai faltar água”, ensina a cuidadora de idosos Ana Lúcia, que cultiva bons hábitos dentro e fora de casa. “Não deixo nada pingando, fecho a torneira, enquanto lavo a louça, limpo a calçada reutilizando a água do enxágue da máquina de lavar e, se tiver vazamento na rua, tento achar o responsável”, dá o exemplo.

Paraíba do Sul%3A crise de desabastecimento de reservatórios de São Paulo tornou as águas do rio alvo de disputa que ainda não chegou ao fimAntonio Cruz

Água: 40% são perdidos no caminho

A falta d’água é um problema recorrente para cerca de 29% das pessoas ouvidas na pesquisa. Moradores de Niterói-Manilha e Baixada Fluminense relataram que ficaram sem o serviço nos últimos três meses. Desses, 61% contaram que ficaram sem abastecimento de uma a três vezes no período.

“Às vezes, fica quase uma semana sem água. Quem não tem bomba para puxar a água e encher a caixa fica sem nada”, conta a moradora de Nilópolis Marlene Braga, de 65, que é o ‘termômetro’ da rua.
“Quando percebo que começa a cair água, corro para alertar os vizinhos”, diz a dona de casa, que para economizar costuma aproveitar a água utilizada na máquina de lavar para limpar a cozinha.

Um dos moradores do Centro de Nilópolis avisados por dona Marlene é o analista de marketing Rômulo Medina, 24. “Não é todo dia que tem água. Quando cai tem que aproveitar para encher a caixa d’água. A gente vive na corda bamba. Mas a conta vem sem falta todo mês”, critica.

Como ele, 86% têm medo de que no futuro falte água em suas casas. De acordo com a Agência Nacional de Águas, cerca de 40% da água captada e tratada se perde no caminho até as torneiras, devido à falta de manutenção das redes, à falta de gestão adequada do recurso e ao furto nas ligações clandestinas.

Qualidade da água é confiável apenas para 50%

De cada 10 moradores do Estado do Rio, somente cinco confiam na qualidade da água que chega a suas casas. A confiança é maior entre as pessoas entrevistadas nos municípios do Norte Fluminense (82%), das Baixadas (75%) e do Sul Fluminense (67%). Já nas regiões Noroeste (82%), Niterói-Manilha (79%) e na capital (48%), as incertezas aumentam.

“Me preocupo com a água que eu bebo, mesmo usando filtro. Acho as tubulações muito antigas”, diz a moradora da Tijuca Ana Lúcia Leite de Melo.

De acordo com a pesquisa, 17% das pessoas ouvidas têm o hábito de comprar água mineral. A maioria (61%) consome água da torneira, com filtro. E 21% disseram que não bebem água filtrada. Além disso, a enquete mostrou que, quanto mais elevada a renda familiar, maior o uso de filtro em casa.

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