Por felipe.martins

Rio - Nesta segunda-feira, numa reação à aliança do PSB com o PT no Rio, que deu fôlego à candidatura do senador petista Lindbergh Farias ao governo do Estado, o PMDB fluminense anuncia a formalização de acordo com o ex-prefeito Cesar Maia, do DEM, que vai disputar o Senado na chapa encabeçada pelo governador Pezão.

Para viabilizar a coligação, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) decidiu abrir mão de concorrer à vaga de senador, dando lugar a seu desafeto político. A desistência de Cabral foi antecipada sábado no Informe do DIA. O ex-governador não deverá se candidatar a nenhum cargo na eleição.

Ex-prefeito Cesar Maia%2C do DEM%2C vai disputar o Senado na chapa encabeçada pelo governador Pezão André Luiz Mello / Agência O Dia

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, do PMDB, chamou neste domingo de “bacanal eleitoral” a aliança entre o PMDB fluminense, o DEM e o PSDB em torno da reeleição do governador Luiz Fernando Pezão. “Depois da suruba, o que se vê agora é o bacanal eleitoral, e o Rio não pode ser vítima dele”, afirmou Paes, em nota divulgada no início da noite de ontem por sua assessoria.

Contrário ao acordo, Eduardo Paes defendeu que o PMDB apoie a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, do governador Pezão e de Francisco Dornelles ao Senado “ para que o Rio de Janeiro não corra o risco de voltar a ser um campo de batalha, onde o maior prejudicado é o cidadão”. Ex-afilhado político de Cesar Maia, a quem substituiu na prefeitura, Paes alegou que a parceria entre “a prefeitura, o presidente Lula e o governador Cabral — e agora a presidenta Dilma e o governador Pezão — tem permitido tirar do papel projetos há décadas prometidos e inviabilizados justamente pelos constantes desentendimentos entre governantes anteriores”.

As negociações para a formalização da aliança do PMDB de Cabral com o DEM de Cesar Maia tiveram à frente o candidato do PSDB à República, senador Aécio Neves, e o presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani. Apesar de ala expressiva do PMDB fluminense ter lançado o movimento ‘Aezão’, que combina o voto no presidenciável tucano e em Pezão, tanto Cabral quanto o governador garantem apoio à reeleição da presidenta Dilma.

Há cerca de duas semanas, Aécio Neves tentou convencer Maia de desistir de sua pré-candidatura pelo DEM ao governo do estado. Era o caminho para que o PSDB do Rio se unisse à candidatura de Pezão. Maia resistiu e só concordou agora depois que Cabral cedeu a vaga. “O PSDB é um partido pequeno no Rio e essa coligação fortalece a candidatura do Aécio, que agora terá um bom palanque aqui”, disse a vereadora tucana Teresa Bergher. Mas parte do PSDB do Rio também estaria resistindo à aliança com o DEM e ameaça não fazer campanha para o ex-prefeito.

Lindbergh pede moderação na campanha

Acusado por correligionários de promover uma “suruba” ao se aliar ao PSB do presidenciável Eduardo Campos, o senador Lindbergh Farias pediu ontem “moderação” na linguagem usada nas campanhas eleitorais. “Vamos fazer o debate com modos. Bacanal eleitoral é muito forte”, observou o petista, candidato ao governo do Rio.

Para aliados de Lindbergh, a sua campanha sairá fortalecida com a aliança do PMDB fluminense com o DEM e o PSDB. Motivo: a presidenta Dilma Rousseff, que vinha fazendo campanha para o governador Luiz Fernando Pezão, terá agora que obrigatoriamente subir no palanque do petista.

A avaliação é que Dilma deverá passar a apoiar ostensivamente Lindbergh a medida em que ficar nítido o envolvimento de Pezão na campanha do tucano Aécio Neves. Formalmente, Dilma tem o PMDB em sua base, mas o ‘Aezão’ articulado por Jorge Picciani esvaziou o apoio.

Já interlocutores de Pezão acreditam que a aliança do PSB com o PT do Rio acabará enfraquecendo a campanha de Dilma no Estado. Afinal, a presidenta terá de dividir o palanque com o adversário Eduardo Campos, uma vez que que o Romário disputará o Senado na chapa de Lindbergh.

A crise no PMDB

Ao classificar de “bacanal eleitoral” o acordo com Cesar Maia, Eduardo Paes expõe divergências no PMDB e antecipa a possibilidade de rompimento entre seu grupo e o liderado por Sérgio Cabral e por Jorge Picciani, presidente do partido no estado. A aliança com Maia, seu adversário, fez o prefeito detonar uma crise prevista para estourar apenas depois da eleição: não é descartada a possibilidade de ele, num futuro próximo, deixar o PMDB.

Um dos problemas está relacionado à sucessão de Paes. O prefeito defende a candidatura do deputado Pedro Paulo Teixeira; Picciani articula a vaga para seu filho Leonardo Picciani, deputado federal. O presidente do PMDB-RJ quer também que seu filho mais novo, o deputado estadual Rafael, assuma a presidência da Assembleia Legislativa. O peemedebista Paulo Melo, atual presidente, quer ficar no cargo.

A entrada de Maia na chapa do PMDB-RJ reforça a ligação do diretório estadual do partido com a candidatura de Aécio Neves, apesar das juras de fidelidade feitas a Dilma Rousseff por Pezão e Cabral. No dia 11, o ‘Informe do DIA’ revelou que o PMDB negociava a entrega da vaga de candidato ao Senado ao ex-prefeito, mas temia a reação do governo federal, que não engolira o movimento ‘Aezão’. 

Reportagem de Eugênia Lopes

Análise: 'A crise no PMDB' - Fernando Molica


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