Por adriano.araujo

Rio - Quinta-feira, 13h. Enquanto Alemanha, Estados Unidos, Portugal e Gana disputavam duas vagas às oitavas de final da Copa, um escritor sueco apaixonado pelo futebol brasileiro participava de uma pelada entre músicos no Recreio dos Bandeirantes. O ambiente, o gramado do Politheama, time de Chico Buarque, era inspirador. Na parede, um quadro com uma camisa da Inter de Milão, autografada por Ronaldo Nazário.

Fredrik Ekelund, 60 anos, está no Rio para viver o Mundial no país do futebol. Ele é o autor de ‘Sambafotboll — O Livro Sobre o Esporte Nacional do Brasil’, uma espécie de almanaque do futebol brasileiro. Ekelund, que fala português fluentemente, foi o responsável pela vinda ao Brasil de Ulf Lindberg, o filho sueco de Garrincha, há oito anos. E lançou um documentário chamado ‘Garrincha e Hot Dogs’, em parceria com o cineasta Lars Westman, contando a vida de Ulf na Suécia.

Sueco Fredrik Ekelund é um fanático pelo futebol brasileiroCacau Fernandes / Agência O Dia

Sobre sua experiência no Brasil, Ekelund lançará sua terceira obra ligada ao futebol brasileiro: um livro em parceria com um escritor norueguês que mora na Suécia, publicando a troca de correspondência entre os dois. “Escrevo cartas falando sobre a cultura brasileira e a Copa. Como escritor, me interesso por coisas cotidianas que se passam nos bares, nas praias”, explica.

E o futebol funciona como pano de fundo para essas histórias. A ótica de estrangeiro ajuda Ekelund a construir impressões particulares sobre a cultura do Brasil também no cotidiano, como nas peladas e partidas de futevôlei de que participa nas areias de Copacabana. “Aqui, tudo vai muito rapidamente do tranquilo ao sério. E um jogo bonito entre amigos se transforma numa guerra. O futebol, para os brasileiros, é questão de vida ou morte”, observa.

Uma impressão que pôde ser confirmada até mesmo na pacata pelada do Chico...

Neto de Garrincha iria para o Fogão

A paixão pelo futebol brasileiro foi despertada ainda na infância. Quando o Brasil conquistou o seu primeiro título mundial na Suécia, em 1958, Ekelund tinha apenas quatro anos. Mas a herança deixada pela Seleção despertou uma admiração, nutrida até hoje. “Todo mundo falava dessa Copa. O Brasil introduziu um futebol novo, fantástico, futebol de fantasia. Pelé e Garrincha eram os maiores. Foram os primeiros jogadores que significaram algo para mim”, conta.

Quase 50 anos depois, Ekelund foi o responsável pela vinda ao Brasil de Ulf Lindberg, filho de Garrincha, fruto de um romance entre o craque das pernas tortas e uma sueca.

O almanaque do futebol brasileiro foi escrito apenas em sueco. Teve três edições%2C com mais de 500 páginas%2C contando a história do futebol no país até os dias de hojeReprodução

Ulf veio ao Brasil acompanhado pelo filho Martin, então com 16 anos. Visitou o túmulo do pai, as irmãs brasileiras e participou de uma pelada em Pau Grande, distrito de Magé, cidade de origem de Garrincha. Lá, quem brilhou foi o habilidoso Martin, que por pouco não parou nas categorias de base do Botafogo, clube que revelou ao mundo o futebol do seu avô. “Estava tudo certo. Mas ele era muito tímido e desistiu, na última hora”, lembra Ekelund.

?A missão é de fazer um futebol bonito

?“O Chico tá aí?”, perguntou um homem que queria oferecer, por R$ 10 mil, uma moeda de ouro com detalhes do Fluminense ao cantor. “Não. Tá em Paris, escrevendo um romance. Só volta depois da Copa”, respondeu um dos amigos do cantor e compositor.

Divididos os times entre coletes laranjas e azuis, Ekelund corria ao redor do gramado, enquanto os outros boleiros conversavam. O sueco se ajoelhou, esticou uma perna e alongou os braços para trás. “Estou louco para jogar futebol!”, sorriu, antes da bola rolar.

Embora fosse visível o estilo diferente em comparação aos brasileiros, com menos gingado e mais objetividade, ele mostrou intimidade com a bola, marcando cinco gols. Em um deles, acertou um chute de primeira, no ângulo.

No fim do jogo, exausto, o escritor revelou o que acredita ser uma espécie de obrigação nacional: “Os brasileiros têm uma missão de jogar um futebol bonito.” No time de Felipão, no entanto, não identifica muitos lampejos de talento. “Não vejo isso nessa seleção. Só no Neymar, que é um gênio”, avalia.

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