Rio - O pânico tomou conta de moradores e motoristas que passavam pelas duas pistas da Rodovia Amaral Peixoto, próximo à Favela Novo México, em São Gonçalo, quando pelo menos seis homens com fuzis interromperam o trânsito, atearam fogo em três ônibus e atiraram na direção de policiais militares. Segurando objeto que parecia uma pistola, segundo especialistas em armas que viram a foto, homem que seria traficante foi flagrado pelo DIA em meio à confusão. O ataque ocorreu nesta segunda-feira de manhã, em represália à morte de dois jovens baleados durante uma operação policial na madrugada. Três pessoas feridas por estilhaços vão ser intimidas a depor.
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Um dos três motoristas de ônibus rendidos por bandidos com fuzis na Rodovia Amaral Peixoto, em São Gonçalo, precisou sair do veículo em chamas para não ser atingido pelo fogo. Ele pediu para não ser identificado
1. O que aconteceu?
— Dois bandidos com fuzis estavam no meio da pista quando mandaram todo mundo descer pela traseira. Aí, chegou um outro, um menor de idade com uma pistola, que me mandou manobrar o ônibus para fechar a pista. Virei a chave na ignição e o veículo não pegou. Quando eu percebi, o fogo estava se alastrando no ônibus, e eu precisei sair.
2. Qual foi o momento mais crítico?
— Quando eu tentava ligar o ônibus, um dos bandidos começou a jogar gasolina em cima do capô.
3. Você achou que poderia morrer ali mesmo?
— Eles iam atear fogo comigo ali! Pensei que ia morrer queimado, dentro do ônibus. Quando saí, um dos meus sapatos ficou preso no banco. Também deixei a mochila com documentos e dinheiro. Foi tudo muito rápido.
A ação começou às 7h20, quando os bandidos pararam um ônibus no sentido Tribobó, ordenando os passageiros a descer, e o motorista, a colocar o coletivo no meio da pista, impedindo a passagem de outros carros. Em seguida, atacaram outros dois motoristas. Irritados, colocaram gasolina no capô e atearam fogo em um deles com o motorista na direção, porque ele não conseguia manobrar. Mas a vítima conseguiu sair de lá sem ferimentos, com o veículo em chamas.
O clima era de desespero. Mães corriam com os filhos no colo para buscar proteção. Um homem gritava: “Estão tacando fogo no ônibus com gente dentro!”, enquanto corria pela pista. O fogo só foi controlado e o trânsito da via liberado nos dois sentidos por volta das 11h30.
O caso é investigado pela 73ª DP (Neves), que irá analisar imagens obtidas em motel nas imediações, mostrando quando policiais buscaram refúgio dos tiros atrás de um muro. “Trabalhamos com a hipótese de que só os bandidos atiraram. Estamos atrás de testemunhas”, disse a delegada Norma Lacerda.
Homens do 7º BPM (São Gonçalo), 12º BPM (Niterói) e Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) ocupam a região por tempo indeterminado, segundo a PM. À tarde, Otacílio Barros de Lima Júnior foi detido com uma pistola quando se deslocava da Favela Novo México para o Morro do Castro. Autuado por porte ilegal de armas e associação para o tráfico, ele será investigado pelo ataque na Amaral Peixoto.
Os bandidos deram início ao ataque depois da confirmação das mortes de Hélio Pacheco Campos e Emerson Santos da Conceição, ambos de 16 anos, baleados numa operação do 7º BPM (São Gonçalo) para recuperar um veículo roubado no Novo México. Feridos ao serem atingidos quando estavam em uma moto em fuga, os suspeitos caíram ao colidirem em portão de madeira de uma casa.
Eles chegaram a ser levados ao Hospital Alberto Torres, mas não resistiram. Com eles, os policiais militares apreenderam uma escopeta calibre 12, uma pistola 9 milímetros e uma pequena quantidade de drogas.
Entretanto, moradores acusam os policiais de execução. “Meu irmão estava de moto com o amigo. Estava indo buscar uma roupa em casa. Eles chegaram atirando”, disse Everton Campos, irmão de Hélio.
Chamas atingem duas residências
Moradores que vivem às margens da rodovia tiveram as casas parcialmente queimadas. À tarde, a fuligem ainda subia quando os carros passavam por ali. Um homem que se identificou como Geninho estava com a mulher e quatro netos quando o incêndio atingiu a parede de casa.
Mas o prejuízo foi apenas material. Um computador, um aparelho de TV, um liquidificador e quatro pares de tênis foram inutilizados pelas chamas. O carro dele, que estava no estacionamento, no primeiro piso, foi parcialmente queimado.
“Acordei com o calor do fogo e saí correndo. O fogo subiu e queimou tudo. O carro só não explodiu por sorte, porque é a gás”, disse Geninho, que irá dormir na casa de parentes.
A rodovia, uma das principais rotas de ligação entre São Gonçalo e Niterói, registrou congestionamentos de cerca de dez quilômetros no sentido Niterói e sete quilômetros no sentido Alcântara.