Por paulo.gomes

Rio - Um ‘tubarão’ estaria à solta na cúpula da Fifa, entidade organizadora da Copa. Ele é apontado como o possível responsável pelo desvio de ingressos que abasteciam quadrilha internacional com movimentação financeira de cerca de R$ 200 milhões por Mundial com a venda ilegal de entradas. O suspeito teve a identidade revelada, ontem, na 18ª DP (Praça da Bandeira), que investiga o caso, pelo advogado José Massih, detido em São Paulo e trazido nesta quarta-feira para o Rio. O nome do suspeito foi mantido em sigilo.

Mohamadou Lamine%2C chefe da quadrilha%2C ao ser levado por agentes da 18ª DP (Praça da Bandeira)%2C no Rio%2C na terça-feira%3A prisão preventivaSeverino Silva / Agência O Dia

Com base em interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, a 18ª DP (Praça da Bandeira) obteve a prisão temporária de 11 cambistas. Entre eles, o francês de origem argelina Mohamadou Lamine Fofana. Acusado de chefiar o grupo que agiu em quatro Copas, Lamine é dono da Atlanta Sportif International, empresa de consultoria a jogadores e clubes. Ele aparece ao lado do presidente da Fifa Joseph Blatter, além de astros de Hollywood (de Sylvester Stallone a Jack Nicholson), em foto no site da empresa.

"O Lamine era um peixe grande. Agora, estamos à caça do tubarão da Fifa, que seria um contato responsável pelo repasse dos ingressos”, disse o promotor Marcos Kac, da 9ª Promotoria de Investigação Penal. Em escuta, obtida com exclusividade pelo DIA, Lamine foi flagrado enquanto negociava ingressos com o empresário Roberto de Assis Moreira, irmão de Ronaldinho Gaúcho. E esnobou: “Tenho (ingressos) VIPs. Tenho muitos VIPs. Não tenho categoria 3”. O delegado Fábio Barucke, da 18ª DP, vai intimar o empresário nos próximos dias. “Deve ser feito na segunda fase da investigação, após análise das escutas”.

Em um vídeo do momento da prisão, Lamine confirmou ter acesso a ingressos, entregues a ele no Copacabana Palace. Ele diz, na gravação, que as entradas eram destinadas a parentes e negou ter negócios na Suíça, onde tem escritório, segundo a investigação. E, embora confirme ter acesso aos estacionamentos dos estádios que sediaram os jogos com um adesivo da Fifa, negou ter envolvimento com a venda de ingressos ilegais.

Advogado representava um jogador

Os dois suspeitos de integrar a quadrilha presos em São Paulo desembarcaram, ontem à noite, no Aeroporto Santos Dumont. De lá, partiram para a 18ª DP.

Lamine e o presidente da Fifa%2C Joseph BlatterReprodução Internet

Presidente da OAB de São Bernardo do Campo, interior paulista, Luis Davanzo, que representa o advogado José Massih, negou ligação do cliente com o grupo. “Ele tem condição financeira boa e não tem necessidade disso.”

Segundo ele, o único envolvimento de Massih com o futebol ocorreu quando ele representava o meia Elano, hoje no Flamengo. Além do advogado, o suspeito Alexandre da Silva Borges também desembarcou no Rio.

Vídeo mostra compra de uísque

As curiosas garrafas de uísque em formato de chuteira oferecidas aos ex-jogadores da Seleção Brasileira durante um evento num restaurante às margens da Lagoa, na semana passada, foram adquiridas pelo argelino Lamine por mais de R$ 9 mil. Um vídeo feito pela polícia flagrou quando o homem acusado de chefiar a quadrilha internacional de venda ilegal de ingressos fez o pagamento das bebidas, no Aeroporto Santos Dumont.

O evento ocorreu no dia 25, às vésperas do jogo entre França e Equador, no Maracanã. Entre os ex-atletas, estavam Carlos Alberto Torres e Jairzinho, tricampeões mundiais na Copa de 1970. Mozer e Ricardo Gomes, zagueiros no Mundial de 1990, e os tetracampeões Dunga e Mazinho também estiveram no local.

Uma nova escuta, inclusive, teria flagrado uma ligação de Dunga para um dos investigados. Sem antecipar o assunto, o capitão do tetra teria marcado um encontro pessoalmente com o suspeito, que ainda não foi preso.

Garrafa de uísque%2C em forma de chuteira%3A mimos saíram a R%24 9 milReprodução Internet

Máfia faturava alto nas Copas

Após três meses de investigação, a polícia prendeu 11 suspeitos por cambismo, associação criminosa e lavagem de dinheiro, e identificou três agências de turismo de Copacabana acusadas de integrar o esquema.A quadrilha pretendia vender ingressos para a final, no dia 13 de julho, no Maracanã, por R$ 35 mil. Há indícios de participação de integrantes da Fifa, CBF e de federações da Argentina e Espanha no esquema. Entre os ingressos apreendidos, havia entradas destinadas a CBF, jogadores e convidados. O ágio na venda chegava a 1.000%.

Colaborou Diego Valdevino

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