Rio - A possível revelação da identidade de influente dirigente suíço da Fifa, chamado de ‘tubarão’ pela Polícia Civil do Rio e suspeito de chefiar quadrilha internacional especializada na venda ilegal de ingressos nas últimas quatro Copas do Mundo, pode abalar a cúpula da entidade máxima do futebol, acredita o promotor Marcos Kac, da 9ª Promotoria de Investigação Penal (PIP). “Seria impossível conseguir 20% dos melhores ingressos sem a ajuda de alguém de dentro. Isso (a revelação do membro da Fifa suspeito de envolvimento com o esquema) vai abalar a estrutura da Fifa”, prevê.
Segundo a investigação, o grupo lucra até R$ 200 milhões por competição. E cobrava até R$ 35 mil por ingresso para a decisão do Mundial, marcada para o dia 13, no Maracanã.
Em entrevista coletiva ontem, o delegado Fábio Barucke, responsável pela investigação da 18ª DP (Praça da Bandeira), disse que as pistas sobre a identidade do ‘tubarão da Fifa’ envolvido no esquema foram dadas pelo advogado paulista José Massih, que chegou quarta-feira ao Rio, onde está preso. Ele é apontado pela investigação como o braço direito do francês de origem argelina Mohamadou Lamine Fofana, acusado de ser o principal articulador da quadrilha.
Uma escuta telefônica obtida com exclusividade pelo DIA mostrou diálogo dele com o empresário Roberto de Assis Moreira, irmão e empresário do jogador Ronaldinho Gaúcho. Na conversa de cinco minutos, registrada no dia 17 de junho, Assis liga para saber se os amigos dele entraram em contato com Lamine para conseguir os ingressos.
“Dois amigos seus me ligaram e tivemos um pequeno problema. Ele me ligou e, 15 dias depois, achou que o ingresso era o mesmo. E eu não sou cambista”, ironizou.
Lamine também foi flagrado em escuta telefônica com o ex-jogador e técnico Dunga, capitão da seleção brasileira tetracampeã na Copa de 1994. Segundo a investigação, Dunga teria ligado para um dos sete suspeitos foragidos após a prisão das 11 pessoas acusadas de participar da quadrilha, demonstrando preocupação.
Eles serão intimados a depor nos próximos dias. Em outra escuta, o suspeito Alexandre Vieira, também preso, disse que assistia ao jogo entre a seleção brasileira e o Chile ao lado de Neymar da Silva, empresário e pai do atacante Neymar.
Cerca de 50 mil ligações
Além do suíço, a Polícia Civil também investiga outras seis pessoas. Entre elas, um chinês que age em São Paulo e um DJ da Vila Kennedy, que venderia ingressos enviados a ONGs. As outras fontes de ingresso seriam as cortesias dadas a jogadores e empresas patrocinadoras.
O argelino estava hospedado com a família em um apartamento alugado por um mês do ex-jogador Júnior Baiano. O argelino teria dito, nas ligações, que tem escritório em Genebra, casa em Dubai e nos Estados Unidos. Segundo a investigação, com base em 50 mil ligações, o grupo enviava ingressos por malotes a outros estados.
‘ELE NUNCA RECEBEU DINHEIRO’
O advogado Alexandre Correa, representante de Mohamadou Lamine Fofana, buscou informações sobre o inquérito em conversa com o promotor Marcos Kac, ontem à noite. Contratado pelo filho do suspeito, ele criticou a prisão do seu cliente.
1. Como o senhor avalia a prisão de Lamine?
—Não tive acesso aos autos. Mas a prisão, a princípio, demonstrou-se arbitrária, com base no que foi veiculado na mídia. O fato é atípico, mas não configura crime.
2. Lamine aparece em escuta falando da venda de ingressos com o irmão de Ronaldinho Gaúcho.
— Não há prova de qualquer pagamento. Ele nunca recebeu dinheiro por ingressos.Com ele, só havia quatro ingressos. O material apreendido com ele não configura venda superfaturada de ingressos da Copa.
3. O que o seu cliente fala sobre as acusações?
— Fui contratado pelo filho dele e tivemos duas conversas de 15 minutos cada, ontem (anteontem) e hoje (ontem), em Bangu 10. Ele nega veementemente todas as acusações que são feitas. Ele fala que foi tudo um mal-entendido.
4. Ele demonstrou alguma preocupação?
— Ele está abatido com as acusações. Diz que só dormiu na noite de ontem (anteontem). Mas confia que a Justiça será feita e que ele vai sair o mais rápido possível da cadeia.
5. Como ele tinha credencial da Fifa?
— Não faço a menor ideia. Só sei que ele é agente esportivo.
6. Qual era o contato que ele tinha com os outros suspeitos?
— Ele não conhece as pessoas envolvidas. Isso desqualifica o delito de associação criminosa.