Por bianca.lobianco

Rio - O ‘tubarão’ da Fifa na máfia de ingressos da Copa caiu na rede da polícia. O inglês Raymond Whelan, executivo da Match Services, empresa autorizada pela entidade organizadora do Mundial a vender entradas de jogos, foi preso temporariamente ontem à tarde enquanto estava hospedado numa suíte no quinto andar do Copacabana Palace. A polícia irá investigar se ele é sócio do executivo Philippe Blatter, sobrinho de Joseph Blatter, presidente da Fifa.

Acusado de ser um dos principais fornecedores da quadrilha internacional de cambistas chefiada pelo francês Mouhamadou Lamine Fofana, Whelan foi indiciado por associação criminosa e pelo artigo 41-G do Estatuto do Torcedor, por “fornecer, desviar ou facilitar a distribuição de ingressos para venda por preço superior ao estampado no bilhete”. Com ele, os policiais apreenderam computadores, celular e 82 ingressos para jogos da Copa, incluindo entradas da final.

O contato entre Lamine Fofana e Whelan foi intenso durante o Mundial, como comprovaram as interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, que grampeou o celular do chefão do grupo. Num intervalo de apenas 20 dias, em meio à primeira fase da competição, eles se comunicaram através de 900 registros telefônicos, incluindo ligações e mensagens de texto. O principal teor das conversas eram pedidos de ingressos feitos pelo franco-argelino ao ‘tubarão’ da Fifa. O telefone do inglês constava na agenda do celular de Lamine Fofana como “Ray Brazil”.

Polícia prende Ray Whelan%2C 'tubarão' da Fifa que agia dentro da máfia do ingressoDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Em maio de 2013, Whelan assinou contrato de fornecimento de ingressos com a Atlanta Sportif International, empresa de consultoria a jogadores e clubes do franco-argelino. “Ele era o facilitador para a distribuição ilegal de ingressos da Copa”, garantiu o delegado Fábio Barucke, responsável pelas investigações conduzidas pela 18ª DP (Praça da Bandeira).

O inquérito será concluído e entregue ao Ministério Público com o pedido de prisão preventiva dos 12 detidos acusados de integrar o grupo. E, a partir de hoje, abrirá novo procedimento para identificar outros envolvidos no esquema. Em nota, a Fifa disse estar colaborando com as investigações.

O inglês, que desfrutou dos luxos da hospedagem do Copacabana Palace nos últimos dias, passará a noite na carceragem da delegacia. De lá, deve ser transferido ainda hoje pela Polinter para a Penitenciária de Bangu.

Whelan nega participação em esquema

A operação para prender o ‘tubarão’ da Fifa começou à tarde. Um agente infiltrado ficou no corredor do hotel, enquanto o delegado Fábio Barucke e o promotor Marcos Kac, da 9ª Promotoria de Investigação Penal (PIP), foram à suíte de Raymond Whelan, para cumprir mandado de busca e apreensão.

Acompanhados por dez agentes, eles tentaram conversar com o inglês. De acordo com o promotor, Whelan disse apenas ter falado com Lamine Fofana sobre o fornecimento de ingressos como cortesia aos ex-jogadores da seleção brasileira.

Kac contou que, no momento da prisão, estava na suíte Enrique Byrom. Ele é um dos proprietários da Match Hospitality, fornecedora de ingressos e acomodação a atletas, e reclamou da operação. “Ele disse: ‘Vocês não sabem o mal que estão fazendo para a Copa’. Disse que isso ia prejudicar o Brasil. Acho o contrário. Essa investigação deixa um legado para que a Fifa reavalie a forma de distribuição e venda de ingressos”, revelou o promotor.

Executivo ditava regras no setor hoteleiro desde 2007

Há pelo menos sete anos, Ray Whelan já tinha ligação com a Fifa e dava as cartas, por meio da Match Services, terceirizada pela federação, nas redes hoteleiras das cidades-sede da Copa. Ele ditava as regras antes mesmo de o Brasil ser escolhido oficialmente para sediar o Mundial. Nos últimos dois anos, Whelan se fixou no Rio. Seus filhos, Ellen e Paul, também executivos da Match, moram na Barra da Tijuca.

Whelan organizava e planejava acomodações e vendas de ingressos VIPs para parentes de jogadores, funcionários da Fifa e turistas internacionais.

Ontem, representantes dos setores de turismo e hotelaria evitaram comentar o assunto. “Me lembro desse senhor. Me parecia um homem tranquilo e com ar de poderoso”, comentou, sem se identificar, o gerente de um dos 15 hotéis que Whelan vistoriou em Belo Horizonte (MG) e no Rio de Janeiro, em meados de 2007.

A Match, por meio de Whelan, controlava tudo, estabelecendo até valores de tarifas que deveriam ser cobradas pelos hotéis. Com discurso eloquente, o britânico sempre fazia questão de destacar “a importância da garantia da prestação de um serviço de qualidade” por parte da rede hoteleira, e que por isso as consultas tinham começado tão cedo.

“O retorno (financeiro, para os hotéis) vai depender do nível de investimentos realizados”, disse Whelan no início de agosto de 2007, conforme registrado por jornais na época. Cabia à Match também a divulgação dos estabelecimentos que, na visão dele, obedecia a perfis de alto padrão exigidos por turistas e integrantes da Fifa. Para atrair a confiança dos hoteleiros, o consultor gostava de ressaltar que transações efetuadas não seriam canceladas. “Protegemos a empresa, os hotéis e os clientes”, dizia.

Colaborou Francisco Edson Alves

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