Por felipe.martins

Rio -  Quinta-feira, dia 10 de julho, 15h38. O inglês Raymond Whelan, acusado de ser o principal fornecedor de entradas da máfia dos ingressos durante a Copa, caminha lentamente com a mulher no corredor do quinto andar do Copacabana Palace em direção ao elevador. A passos rápidos, o advogado Fernando Fernandes aparece no segundo andar, observando algo no celular, seguido de perto por Enrique Byrom, cunhado do inglês e um dos acionistas responsáveis pela Match Services, empresa ligada à Fifa com a exclusividade na venda de bilhetes no Mundial.

Logo depois, em frente à porta do elevador no segundo andar, Fernando intercepta o inglês e o carrega pelo braço. O DIA teve acesso às cenas, registradas por câmeras do circuito interno do hotel. As imagens do vídeo estão sendo analisadas pela 18ª DP (Praça da Bandeira), que deverá indiciar o advogado por facilitação à fuga do ex-gerente executivo da Match Services. “Pelas imagens, ficou claro que a fuga foi facilitada e orientada pelo advogado”, disse o delegado Fábio Barucke.

Whelan é acusado de ser o fornecedor de ingressos da quadrilhaFernando Souza / Agência O Dia

A saída do hotel de Fernando e do homem conhecido como o ‘tubarão da Fifa’ durou cinco minutos. As imagens, feitas por oito câmeras diferentes, mostram quando o advogado chega apressado à área dos funcionários, à frente do inglês, que nem aparece no quadro. Depois de identificar o acesso, Fernando sai do vídeo e volta com Raymond Whelan.

A cena inusitada desperta a curiosidade de funcionários, que olham para trás quando eles passam. E, às 15h43, Fernando Fernandes é flagrado pelas câmeras deixando o hotel, enquanto o inglês o aguarda, sentado numa cadeira na saída. Já na rua, o advogado parece abordar um taxista. Mas muda de ideia e volta para a calçada, onde caminha como se estivesse procurando algo. E, no minuto seguinte, aparece deixando o local com o inglês.

Quando deixou o Copacabana Palace, Whelan estava com a prisão preventiva decretada. Ele só se apresentou à Justiça na segunda. Depois de ficar quatro dias foragido, o inglês foi levado ao Complexo de Gericinó, onde está detido em cela individual.

Saída é usada por celebridades

Na terça-feira de manhã, o gerente operacional do Copacabana Palace prestou depoimento na 18ª DP sobre a fuga de Raymond Whelan do hotel. Segundo ele, há sete saídas no prédio. De acordo com o seu depoimento, as portas laterais costumam ser utilizadas por celebridades para evitar o assédio da mídia e de fãs.

Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), o inglês Raymond Whelan e outros oito denunciados por envolvimento na quadrilha estão na Penitenciária Bandeira Stampa. Mas só o inglês está em cela individual.

O francês de origem argelina Mohamadou Lamine Fofana, apontado como o chefão da quadrilha, divide cela com Alexandre da Silva Borges e Sérgio Antonio Lima, acusados de integrar o grupo. Também presos, Antônio Marino Vieira e Antônio Henrique de Paula Jorge dividem outra cela em Gericinó.

‘Iríamos para reunião no meu escritório’

O advogado Fernando Fernandes recebeu duas intimações para comparecer à 18ª DP e prestar esclarecimentos sobre o episódio da fuga de Whelan do Copacabana Palace. Ontem à tarde, o advogado Wagner Gusmão, que o representa, compareceu à delegacia, onde deixou uma petição.

“Vim aqui para esclarecer que ele (Fernando Fernandes) não pode prestar declarações que se relacionem com um cliente seu. Estão querendo demonizar a atuação do advogado criminal”, criticou.
O advogado de Whelan voltou a dizer que não tinha conhecimento do mandado de prisão preventiva quando saiu com o seu cliente do Copacabana Palace.

“Iríamos para uma reunião no meu escritório. Saímos pela lateral porque queríamos deixar o hotel discretamente, por causa da imprensa. Só tomei conhecimento (do mandado de prisão) quando saí de lá”, explicou.

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