Por thiago.antunes

Rio - Sessenta e quatro menores de idade foram apreendidos, entre janeiro e maio deste ano, no Complexo do Alemão — boa parte deles sob acusação de integrar a linha de frente do tráfico de drogas na região. Conforme O DIA publicou nesta terça, levantamento do Serviço de Inteligência da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) comprova que chefes do tráfico passaram a recrutar em grande quantidade adolescentes para atuar em quadrilhas e muitos enfrentaram policiais militares. Nesta terça, novos tiroteios de madrugada e de manhã voltaram a assustar moradores e deixaram mais de 10 mil alunos sem aulas em 37 escolas.

A Polícia Civil informou que o titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Gilson Perdigão, abriu inquérito para investigar o uso de menores, entre 12 e 17 anos, em funções importantes na venda de drogas. Em nota oficial da instituição, Perdigão adiantou que ‘os maiores integrantes das quadrilhas locais, além de responderem por tráfico e associação para o tráfico, serão indiciados por corrupção de menores’.

Nos portões e muros de casas no Complexo do Alemão%2C a marca da ação violenta de traficantesAgência O Dia

O delegado da 45ª DP (Alemão), Felipe Curi, confirmou que traficantes do complexo estão colocando adolescentes e adultos sem antecedentes criminais na linha de frente contra a polícia. “Essas pessoas são orientadas a atacar a polícia e comercializar drogas de forma dissimulada. Desde a inauguração da delegacia, há sete meses, 48 mandados de prisão e de busca e apreensão foram cumpridos contra bandidos que aliciam crianças e adolescentes”.

De madrugada, PMs e traficantes trocaram tiros na Rua Antônio Rego. Por volta de 10h, disparos foram ouvidos na Favela Nova Brasília. Não houve vítimas. O policiamento em todo o complexo está reforçado com 300 policiais de diversas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

O policiamento no Complexo do Alemão foi reforçado nesta segunda-feira%2C após os confrontos no domingo. Mesmo assim%2C houve tiroteio e duas pessoas foram presasSeverino Silva / Agência O Dia

Os últimos conflitos tiveram início no sábado, após a morte de Diogo Wellington Costa, o Bebezão, de 28 anos, acusado de ser um dos chefes do tráfico no complexo, e de Matheus Alexandre Silva dos Santos, o Papa, de 18, que também seria envolvido com o tráfico.

Domingo, a base da UPP Nova Brasília foi atacada, e uma viatura, incendiada. Um policial levou tiro. O sociólogo Reginaldo de Lima, coordenador da ONG Espaço Democrático de União, Convivência, Aprendizagem e Prevenção do Morro do Alemão, lamentou a tensão. “A explicação é simples para essa tragédia anunciada: evasão escolar, mais ócio, falta de oficinas profissionalizantes e ausência da família. Isso resulta em mão de obra fácil para a criminalidade.

Maioria apoia redução de idade penal

A maioridade penal foi tema de pesquisada encomendada pelo DIA ao Instituto Gerp, entre 23 e 29 de maio. Cerca de 88% dos 870 fluminenses e cariocas ouvidos são a favor da redução de idade. Este índice bate os 95% na região da Baixada Fluminense.

Segundo especialistas, os números refletem o impacto de crimes cruéis praticados por menores e com ampla repercussão na mídia, como os assassinatos do menino João Hélio, no Rio, e a de uma dentista queimada viva, em São Paulo.

O apoio da população à pena vitalícia chega a 68%. No entanto, a maioria condena a justiça feita pelas próprias mãos: 56% são contra a prática. A diminuição da maioridade penal, em tramitação no Congresso, segundo o psicanalista Carlos Mario, é reflexo de um mal-estar coletivo na sociedade.

“As pessoas têm um apurado senso de justiça. Querem que haja reciprocidade em todos os níveis. As formas de expressão desse descontentamento passa por uma reavaliação desses mecanismos legais”, disse.

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