Por thiago.antunes

Rio - Agências de turismo no país e até no exterior integravam a lista de clientes da quadrilha acusada de vender ilegalmente entradas para os jogos da Copa. O DIA teve acesso com exclusividade a documentos que comprovam transações envolvendo os integrantes da máfia dos ingressos. No balcão de negócios do grupo, que usava empresas para passar credibilidade aos clientes, consta a venda de 254 entradas para uma agência uruguaia.

A negociação, que também envolveu a associação de futebol da Costa Rica, país adversário do Uruguai na primeira fase, foi sacramentada no dia 28 de março por 101.600 dólares — o equivalente a R$ 225.561,68, de acordo com a cotação da moeda americana, nesta quinta. No documento, enviado no dia 28 de março, o representante da agência solicitou ingressos para os três jogos do Uruguai na primeira fase da competição. “Somos uma agência com 30 anos no mercado uruguaio. Estamos comercializando pacotes para a Copa do Mundo e por essa razão solicitamos a compra dos ingressos”, escreveu.

Cheques a Júlio Soares, ligado à quadrilha que agiu na CopaArte%3A O Dia

Para fechar o contrato, os uruguaios exigiram que fossem estipulados valores para os jogos das oitavas e quartas de final. A empresa teria direito em adquirir outros 1,3 mil ingressos. A empresa também estipulou um prazo de entrega até 14 de maio.

Os cheques com os pagamentos foram encontrados na casa do empresário Júlio Soares da Costa Filho quando ele foi detido, no dia 7 de julho. Um deles, de 15 mil dólares, emitido no dia 2 de abril no Banco Nacional da Costa Rica, era referente ao pagamento da associação de futebol do país. A polícia ainda encontrou, na casa dele, 20 comprovantes de transações bancárias, 105 ingressos da Copa. O empresário é apontado pela investigação da 18ª DP (Praça da Bandeira) como o responsável pela remessa de ingressos para as cidades-sede.

A polícia também encontrou cartões dele como representante da J Sport Soccer and Company, com telefones no Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Portugal. E R$ 19.900, divididos em três depósitos feitos para a Junior’s Eventos, agência de turismo que pertence a Ernani Alves da Rocha Júnior e Fernanda Carrene Paulucci, que também integram o grupo.

Defesa de Whelan quer gravações

A defesa do inglês Raymond Whelan, apontado pela polícia como o ‘tubarão’ da Fifa, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o acesso à íntegra das interceptações telefônicas feitas com autorização da Justiça durante a investigação da máfia dos ingressos.

Whelan é acusado de fornecer ingressos para quadrilha de cambistasO Tempo

Ex-diretor executivo da Match Services, empresa com a exclusividade na comercialização de ingressos dos jogos da Copa, Whelan é acusado de ser o principal fornecedor da quadrilha chefiada pelo francês Mohamadou Lamine Fofana. Ele está preso desde o dia 14 de julho, quando decidiu se apresentar à Justiça, depois de ser considerado foragido por quatro dias.

Escutas obtidas pelo DIA flagraram o empresário Ernani Alves da Rocha Júnior negociando ingressos com o funcionário de um hotel no dia de abertura da Copa do Mundo. Júlio Soares possui uma extensa ficha de antecedentes criminais. Em 2005, foi condenado pela 1ª Vara Criminal de Niterói a dois anos de prisão, por fazer uso de documentos falsificados. Ele também responde a outras quatro ocorrências por lesão corporal decorrentes de violência doméstica, registradas entre 2005 e 2013.

Escutas - 12 de junho

Ernani Alves da Rocha Júnior, um dos comparsas de Júlio no esquema, aparece em escuta negociando com o funcionário de um hotel. No diálogo, no dia da abertura da Copa, ele oferece comissão em troca da indicação de um cliente.

Cambista - “Ingresso pra Copa, você está vendendo também?”
Júnior - “Tô vendendo. Não soltei folder nos hotéis porque tem alguns hotéis que estão receosos de vender, mas estou vendendo.”
Cambista - “É... Não, lá inclusive a gente nem está podendo vender.”
Júnior - “Não. Mas se tu pegar o cliente, tu me chama, eu tiro ele do hotel, faço a venda e dou sua comissão, entendeu?” (...)
Cambista - (...) “Eles vão chegar.”
Júnior - “Eu passo, eu vendo no cartão também se você precisar, tá? Vou aí de moto e tiro o cliente da recepção pra não dar problema pra vocês.”

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