Por thiago.antunes

Belo Horizonte - Quatro anos após o sequestro e morte da modelo Eliza Samudio, o corpo da ex-amante do goleiro Bruno Souza, que é mãe de um filho dele, pode finalmente ser encontrado. Na quinta e surpreendente versão sobre o destino dado à vítima, o primo do jogador disse em entrevista à ‘Rádio Tupi’ que a jovem, então com 25 anos na época do crime, fora enterrada perto do Aeroporto de Confins, em Belo Horizonte (MG). A polícia mineira começa a partir das 9h desta sexta-feira, mais uma busca aos restos mortais de Eliza, no terreno indicado por Jorge Luiz Rosa Sales, em depoimento na quinta-feira. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa convocou o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar (MG) para dar o apoio na operação.

“As informações que ele deu são cabíveis de verificação. Mas isso não muda em nada a situação de quem já foi julgado e condenado”, afirmou o delegado Wagner Pinto, referindo-se aos três condenados pela morte da modelo: Bruno, acusado de ser o mandante do crime; o ex-amigo dele, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão; e Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, condenado pela execução e ocultação do corpo de Eliza.

Jorge Luiz Rosa Sales no Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa%2C em Belo Horizonte%2C ontem à tarde%2C após prestar depoimentoO Tempo

Jorge viajou ontem mesmo para a capital mineira, escoltado em viaturas descaracterizadas da PM do Rio. Seu novo advogado, Nélio Andrade, pediu apoio à corporação porque Jorge diz temer ser morto. O primo de Bruno levou o defensor ao terreno onde o corpo estaria enterrado antes de se apresentar à polícia mineira. Nélio Andrade contou que Jorge resolveu falar o que sabia porque entrou para igreja evangélica.

“O arrependimento e o apoio de um tio fizeram ele falar. De 0 a 10, ele tem certeza absoluta do que contou. Tenho um nome a zelar, se não acreditasse nele, eu não faria nada”, afirmou o advogado, acrescentando que o rapaz — que cumpriu medida socioeducativa pelo crime quando era menor — não vai entrar em programa de proteção à testemunha.

Bruno%2C Bola e Macarrão foram condenados pela morte de Eliza%2C em 2010%3A crime teria sido cometido porque goleiro não queria assumir filhoDivulgação

O terreno fica a cerca de 13 quilômetros de Vespasiano, cidade onde Bola morava e, de acordo com o Ministério Público, local da morte. Jorge afirmou que a vítima não foi esquartejada, como contou anteriormente. “A mão dela foi cortada ainda em vida e decepada com uma faca de açougueiro, depois de morta. O corpo foi enrolado em um lençol e lacrado em um saco preto”, garantiu.

Assistindo ao crime, ele disse que segurava no colo Bruninho, filho do jogador com a modelo, cujo valor da pensão alimentícia originou a desavença. “O menino chorava muito. Parecia que sabia que a mãe estava sendo morta”. O local teria sido indicado por Bola. Jorge afirma que um buraco profundo, cavado por trator, estava aberto. “Tiramos o corpo da mala do EcoSport, da avó de Bruno, e jogamos terra por cima”, garantiu.

Contradições marcam depoimentos do jovem

Ao longo das investigações, Jorge Luiz Rosa Sales mudou sua versão sobre o crime várias vezes. Ele, que chegou a contar com proteção policial por ter fornecido detalhes do crime, sustentou, nos primeiros depoimentos, que o corpo de Eliza teria sido esquartejado e dado como comida a cães da raça rottweiler. O que sobrou teria sido concretado em uma parede.

Depois, afirmou que a modelo foi levada para a casa do jogador na Barra da Tijuca, onde permaneceu por dois dias, até ser levada para o sítio em Esmeraldas (MG). Ontem, porém, garantiu que ela saiu de hotel direto para Minas, sem passar pela casa do goleiro.

Os depoimentos de Jorge também mostram contradições em relação a presença de Dayanne, ex-mulher de Bruno, no sítio de Esmeraldas. Em entrevista no ano passado, Jorge chegou a insinuar que Bruno sabia desde o início do plano de matar Eliza, ao contrário do que disse ontem à ‘Rádio Tupi’.

Sonhos de mãe, pedido do neto

Maria Lúcia Borges, advogada de Sônia Moura, revelou que a mãe de Eliza teve um sonho com a filha uma semana antes da revelação do suposto paradeiro do corpo. Em novembro, Sônia contou ao DIA que, toda vez que sonhava com Eliza, algo importante acontecia no processo. Foi assim dias antes da condenação de Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, ex-amigo de Bruno.

“Sônia contou que sonhou com Eliza saindo de uma vala, flutuando. Ela abria os braços e perguntava pelo filho. Foi muito real para ela”, afirmou Maria Lúcia, acrescentando que Bruninho, 4 anos, pergunta diariamente pela mãe. “Ele fala: ‘Se Papai do Céu existe, por que não mostra minha mãe?’. É muito triste”, lamentou.

Advogados se surpreendem

Na entrevista à ‘Rádio Tupi’, Jorge alegou que mentiu no primeiro depoimento por orientação do seu ex-advogado, Eliezer de Almeida. O defensor negou e disse que nunca soube dessa nova versão. “Ele nunca me contou essa história. Se eu soubesse, o teria convencido a falar”, alegou Eliezer , que suspeita da veracidade do relato, já que é o quinto de Jorge.

Maria Lúcia, advogada da mãe de Eliza, ficou surpresa: “Se for comprovado que o corpo está lá, como o Jorge confirmou sua participação, deve ser denunciado por ocultação de cadáver. Se for mentira, pode ser por falso testemunho”.

Advogado Nélio Andrade pediu escolta da PM do Rio para levar a testemunha a MinasErnesto Carriço / Agência O Dia

Leonardo Diniz, que defende Macarrão, se recusou a comentar a entrevista, dizendo que as acusações não terão relevância para o processo. “Meu cliente está julgado. Não existe revisão para prejudicar réu”, disse. Já Fernando Magalhães, defensor de Bola, contou que seu cliente reagiu com indiferença. “Jorge tem questão pessoal contra Bola e há anos tumultua a vida dele. Se fosse verdade, tentaria uma revisão e até anulação do processo, já que não houve esquartejamento nem a qualificação pela forma cruel que o crime teria sido cometido. Caso o corpo apareça, Bola será o principal interessado na perícia que, certamente, o inocentará”, concluiu.

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