Rio - O francês Mohamadou Lamine Fofana, acusado de chefiar a máfia dos ingressos na Copa, demonstrou preocupação com outra polêmica envolvendo a Fifa. Escutas obtidas com exclusividade pelo DIA registraram quatro conversas dele em francês com um homem que se identifica como ‘Claude’ para falar sobre um possível interrogatório. O assunto, segundo a polícia, estaria ligado a um amistoso organizado pelo francês entre uma ‘seleção brasileira pirata’ e um combinado local em Terek Grozni, Chechênia, sem o aval da entidade máxima do futebol.
Em março de 2011, o empresário convocou uma equipe formada por Romário, Bebeto, Cafu, Dunga e outros ex-atletas. Com a camisa oficial da seleção brasileira, incluindo a logomarca de uma das patrocinadoras da CBF, os veteranos bateram o combinado local checheno por 6 a 4. Na época, Lamine Fofana foi contratado por Ramzan Kadyrov, líder separatista e acusado de violações dos direitos humanos. Três anos depois, o episódio ainda preocupava o chefão da máfia dos ingressos.
As escutas ocorreram em 13 de junho, em meio a outras interceptações sobre negociação de ingressos, e foram parcialmente traduzidas. Em uma das conversas, Claude pergunta sobre o pagamento das passagens aéreas aos jogadores, cita iPads presenteados pelo empresário aos ex-atletas e fala sobre um processo criminal, possivelmente motivado por irregularidades no contrato firmado para o amistoso da equipe chamada por Fofana na época de ‘Brazil Stars’ — estrelas do Brasil, em inglês.
Para formar a equipe, montou-se parceria que se repetiu na Copa durante a venda ilegal de ingressos, segundo denúncia do Ministério Público ao Juizado do Torcedor. O advogado paulista José Massih, ex-agente de jogadores e também acusado de participar do esquema, usou da sua influência no meio do futebol para ajudar na formação da equipe.
Entre os ex-jogadores chamados com a ajuda dele estava Júnior Baiano, que já participou de outra negociação intermediada por Massih. A pedido do francês, o advogado alugou o apartamento do ex-jogador, na Barra da Tijuca, por R$ 20 mil durante a Copa. “Se há uma ação, o meu cliente desconhece. A função dele, na época, era fazer contatos com os jogadores”, explicou o advogado Luiz Davanzo, que representa Massih. Contatados pela reportagem, os advogados de Lamine Fofana não quiseram falar sobre o assunto.
Avião particular e presentes a atletas
Lamine Fofana usou um avião particular para se deslocar de Genebra, na Suíça, até a Chechênia, onde organizou o jogo entre um combinado local e a ‘seleção brasileira pirata’. Antes de viajar, contou com a ajuda do porteiro do hotel suíço onde os ex-atletas estavam para presenteá-los com iPads.
As revelações foram feitas pelo francês em três conversas telefônicas interceptadas com a autorização da Justiça, no dia 13 de junho. Só neste dia, foram 22 ligações, média de um telefonema a cada 45 minutos em ligações entre 4h35 e 21h05 no dia seguinte à abertura do Mundial no país.
Ainda era noite quando Fofana começou a tratar dos desdobramentos de supostas irregularidades feitas durante o amistoso. Porque o homem que o ligou estava em Genebra, na Suíça, onde o fuso horário está cinco horas à frente do Brasil.
Escuta - Cliente VIP
Em conversa registrada às 14h14 do dia 13 de junho, José Massih liga para Lamine Fofana para pedir um camarote reservado para 12 pessoas para o jogo entre Brasil e Camarões, em Brasília, pela primeira fase da Copa do Mundo. Sem revelar o nome do cliente interessado, o francês o identifica como ‘amigo nosso’.
MASSIH - É camarote super vip, super vip. Super ultra o que você tiver de melhor pra 12 pessoas, Brasília. Não adianta que não interessa o vip.
FOFANA - Não entendi.
MASSIH - Ó, 12 pessoas.
FOFANA - Sim.
MASSIH - Camarote super vip, pra Brasília. Brasil e Camarões.
FOFANA - Brasil e Camarão, ok.
MASSIH - Não interessa aqueles 40 VIPs, tem que ser top. Você já sabe por que, né? Tem que ser top, Lamine.
FOFANA - Pra quem?
MASSIH - Você já sabe quem é.
FOFANA - Amigo nosso.
MASSIH - É. Outra coisa. Só tem que ser camarote sozinho. Não pode ter 20 pessoas, ter 12 dele e oito outro. Ele quer o negócio reservadíssimo.