Por thiago.antunes

Rio - No mundo virtual, imagens de crianças com armas, muitas vezes maiores do que suas próprias estaturas, se tornaram frequentes. O detalhamento dos números de apreensões de 2013 no estado, quando mais de 41% dos 7.222 jovens encaminhados a delegacias foram acusados de envolvimento com o tráfico de drogas, explica esse fenômeno. Inquéritos relacionados a roubos e furtos surgem, respectivamente, em seguida.

“É notória a utilização de menores em práticas criminosas. A Polícia Militar apreende o menor, o leva à delegacia, mas esse menor retorna às ruas porque a lei permite. Nós cumprimos as leis”, enfatizou o secretário de Segurança Pública do Estado do Rio, José Mariano Beltrame. “A questão do menor tem que ser discutida pela sociedade e pelo Legislativo. Esse é um debate que vai além de ser a favor ou contra a maioridade penal”, completou Beltrame.

Imagens de crianças segurando pistolas e fuzis e ao lado de traficantes fortemente armados são comuns nas redes sociais. Fotos são publicadas em páginas que falam sobre o tráfico nas comunidades do Rio Reprodução

Conforme o DIA publicou na edição de ontem, o número de jovens detidos no estado quadruplicou de 2008 a 2013. Este ano, as apreensões de janeiro a maio superam o mesmo período do ano passado. E, somente no primeiro trimestre, a quantidade de casos já é maior do que nos 12 meses do início do projeto de pacificação das favelas do Rio.

A alta rotatividade de internos no Departamento Geral de Ações Socioeducativas, o Novo Degase, explica a preocupação das autoridades. De 2011 a maio de 2014, o número de menores infratores sob a custódia do estado triplicou, passando de aproximadamente 500 jovens para 1.444, e beirando a capacidade máxima do sistema, que é de 1.550 vagas.

No entanto, o percentual de permanência desses jovens no Degase é muito inferior diante de comparações, por exemplo, com o número total de apreensões de 2013. Para mudar a realidade dos números, a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), por meio do delegado Gilson Perdigão, investiga o uso de jovens entre 12 e 17 anos no tráfico. Os inquéritos tiveram início no Alemão, mas têm desdobramentos em outras localidades. O trabalho permite ainda a identificação dos aliciadores, que respondem por tráfico e associação ao tráfico e corrupção de menores.

No Complexo do Alemão%2C jovens do tráfico fazem 'selfie' apontando arma para os carros de polícia Reprodução

“Cada vez mais as apreensões estão relacionadas ao tráfico ou às ações ligadas ao crime. Eles ainda conseguem persuadir as crianças, dizendo que nada irá acontecer, mas os jovens também respondem por associação”, explicou o delegado.

Rotas de fuga e tráfego facilitam ação

Local de dezenas de furtos e roubos diários, o Centro do Rio sempre foi um campo fértil para a ação de menores. Em 2013, a soma dos dois crimes supera os números totais de apreensões por tráfico de drogas. Juntos, os dois delitos cometidos de janeiro a dezembro do ano passado representam 41,57% dos inquéritos envolvendo menores de 18 anos, superando os 3 mil casos.

De acordo com o comerciante Marcos José%2C a insegurança no Centro da cidade afasta a clientelaDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

“No Centro, geralmente, são menores da Zona Norte que fazem de pequenos delitos para sobreviver nas ruas. As diversas rotas de fuga e um cenário movimentado e confuso, também contribuem muito para esses crimes. Eles somem rapidamente pelos carros ou pessoas”, explicou o delegado Gilson Perdigão.
Quem trabalha ou circula pela região central da cidade, reclama do clima de insegurança.

“Com medo, as pessoas não param nas lojas, elas só passam. A gente acaba faturando menos”, disse Marcos Nascimento, 56, proprietário de uma loja próxima à Central do Brasil. No entanto, após PMs matarem um menor e balearem outro no Sumaré, acusados de furtos no Centro, o receio passou a fazer parte da rotina de quem vive na rua. “Um PM se aproximou e falou que se souber que a gente está roubando vai levar para conhecer o Sumaré”, contou um menor.

Tabela crimes cometidos por menoresArte%3A O Dia


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