Por adriano.araujo

Rio - Pela primeira vez, 33 anos após o atentado no Riocentro, em 30 de abril de 1981, o coronel reformado Wilson Machado apareceu em público para falar sobre o caso em audiência para tomada de depoimentos da Comissão Nacional da Verdade, no Arquivo Nacional do Rio, no Centro. Acusado em fevereiro deste ano pelo Ministério Público Federal (MPF) por tentativa de homicídio, associação criminosa armada e por transporte de explosivo, ele pouco falou.

Sorridente, o militar chegou ao local acompanhado do seu advogado, Rodrigo Rocca. Entretanto, ele se recusou a responder perguntas justificando que "tudo já foi investigado". "Já prestei todos os esclarecimentos à Justiça por três vezes. Fui julgado pelo supremo (Supremo Tribunal Militar). Prestei todos os esclarecimentos ao MPF, sem advogado, por livre e espontanea vontade", disse.

O coronel Wilson Machado se recusou a falar sobre o atentadoAgência Brasil

Além dele, também foram denunciados em fevereiro o ex-delegado Claudio Guerra e os generais reformados Nilton Cerqueira e Newton Cruz. Wilson Machado pode pegar até 66 anos de prisão.

Relembre o caso

Em 30 de abril de 1981, durante a realização de um show para comemorar o Dia do Trabalhador, no complexo do Riocentro, uma bomba explodiu no colo do sargento Guilherme do Rosário dentro do carro onde ele estava, no estacionamento do local, matando o militar na hora e deixando gravemente ferido o então capitão Wilson Machado. Na mesma noite, outra bomba foi lançada na subestação de eletricidade do complexo, com o objetivo de cortar a energia.

As explosões queriam causar pânico no público presente de quase 20 mil pessoas e na sociedade. O plano dos militares era atribuir o atentado à esquerda, para justificar outro endurecimento da ditadura. Mas, por algum erro dos militares, a explosão ocorreu no carro dos agentes.

Os procuradores da República Antonio do Passo Cabral, Sergio Suiama, Ana Cláudia de Sales Alencar, Tatiana Pollo Flores, Andrey Mendonça e Marlon Weichert observam que o caso não está coberto pela Lei da Anistia. “Compreender que fatos posteriores a 1979 podem estar cobertos pela Lei de Anistia seria dar carta branca para todos os crimes do futuro”, afirmou Cabral.

A cena que virou História%3A objetivo era atribuir atentado à esquerdaBanco de imagens

Além da investigação do Ministério Público Federal, outros dois inquéritos já foram feitos pelas Forças Armadas em 1981 e 1999, mas arquivados pelo Supremo Tribunal Militar.

Quatro novos acusados pelo atentado

As investigações do MPF duraram quase dois anos e envolveram a análise de 38 volumes de documentos. Foram tomados depoimentos de 42 testemunhas e investigados. Entre as novas provas apresentadas pelos procuradores está um depoimento do major reformado Divany Carvalho Barros admitindo que foi ao local da explosão, com a missão de apagar provas que incriminassem os militares.

Dos seis acusados, apenas Newton Cruz e Wilson Machado já haviam sido tratados como suspeitos anteriormente. A responsabilização é motivada porque o general Newton Cruz admitiu que ficou sabendo do plano do atentado uma hora antes. Já o general Nilton Cerqueira suspendeu o policiamento do Riocentro no dia. Segundo o MPF, o coronel Edson Sá Rocha fazia parte do grupo que planejou o atentado.

Outro documento importante no trabalho foi a agenda do então comandante do Destacamento de Operações de Informações (DOI) no Rio, Tenente-Coronel Julio Miguel Molinas Dias, morto em 2012. Nela, o militar relatava, minuto a minuto, as informações que recebia a respeito do caso.

O MPF informou que a investigação segue, pois parte dos investigados ainda não foi identificada e um acordo de delação premiada pode ser oferecido.

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