Rio - Dona de um terreiro religioso em Jardim Vale do Sol, em Duque de Caxias, que sofreu oito ataques violentos em oito anos, a mãe de santo Conceição de Lissá, se reuniu nesta quinta-feira com o procurador-geral de Justiça do Rio, Marfan Vieira e com o presidente da Comissão contra o Racismo, a Homofobia e a Intolerância Religiosa da Alerj, deputado estadual Carlos Minc, que vai pedir ao governo do estado a criação de uma delegacia de Combate à Intolerância Religiosa.
“Todos os casos foram registrados na delegacia de Imbariê, a 62ª DP, e não foram investigados. Vamos pedir que o Núcleo de Combate à Intolerância Religiosa da Polícia Civil investigue os oito ataques, que estão cada vez mais violentos”, contou Minc.
Ainda segundo ele, a mãe de santo pode estar sendo vítima de traficantes convertidos à igreja evangélica. “Essa é a principal hipótese. Não é uma briga de vizinhos, apenas. No Complexo do Alemão e na Ilha do Governador, grupos convertidos acabaram com terreiros de umbanda e candomblé. Só na rua do terreiro de mãe Conceição, há duas igrejas que demonizam a religião afro”, lembrou o deputado.
A mãe de santo contou para equipe de promotores do MP, que está sendo vítima de perseguição religiosa. No entanto, segundo ela, os policiais da 62ª DP têm tratado os atentados como se fossem meras brigas de vizinhos.
Dentre outros crimes, o barracão já foi invadido e teve as imagens sagradas de candomblé quebradas, sofreu incêndios e recebeu tiros. Sempre de madrugada. Dois carros de mãe Conceição já foram também queimados, provocando um prejuízo pessoal de pelo menos R$ 20 mil. A placa de um carro que rondava o barracão, antes de um dos atentados, chegou a ser anotada por um vizinho, mas a polícia ainda não chegou a um suspeito.
Num dos atentados, foi pichado numa parede a sigla CV, de Comando Vermelho. Mãe Conceição suspeita que ex-traficantes convertidos por igrejas evangélicas sejam autores da pichação e de pelo menos alguns dos atentados. “Uma vez tacaram uma bilha de aço que, se tivesse acertado a cabeça de alguém, teria matado”, disse ela.
Mãe Conceição mantém o terreiro há 13 anos e mora em outra casa na mesma rua. “Já deram tiros para dentro do centro, incendiaram o pavimento inferior e queimaram três veículos na minha porta. No último incêndio, no dia 26 de junho, o andar de cima foi destruído. Perdi todas as minhas roupas de santo e de alguns filhos, louças, móveis e eletrodomésticos. Eu estava expandindo o segundo piso e já tinha gasto mais de R$ 6 mil de material e mão de obra”, lamentou-se.