Rio - O Artigo 402 do Código Penal Brasileiro de 1890 previa detenção de até dois anos para quem praticasse o crime de “capoeirismo”. Associado à vadiagem e à desordem, a mistura de dança e luta que hoje ganha o mundo como ferramenta de inclusão social só foi descriminalizada em 1937, depois que o então presidente Getúlio Vargas assistiu a uma apresentação. Passados 77 anos, a expressão cultural nascida nas senzalas pode se tornar Patrimônio da Humanidade reconhecido pela Unesco.
É o que espera o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que escolheu a capoeira como representante brasileira para eleição que será realizada em outubro, na França, para selecionar novos bens imateriais da Humanidade. Como requisito, foi levada em consideração a representatividade que a arte marcial assumiu em vários cantos do planeta. No Rio, o Cristo Redentor já recebeu a mesma condecoração, em 2012.
Animados, capoeiristas veem a titulação com esperança de maiores investimentos em projetos sociais e sonham com a inclusão da capoeira como disciplina obrigatória na rede pública de ensino. Segundo o Iphan, a necessidade de preservação da história foi um dos critérios levados em consideração para a seleção.
“A capoeira merece esse título não somente pelo que faz pelo Brasil, mas pelo poder de integração social que já mostrou ter mundo afora”, disse o mestre Flávio Saudade, que há seis anos é contratado pela Organização das Nações Unidas para ministrar aulas da arte marcial na Missão Brasileira de Paz, no Haiti: “Não existe uma arte marcial praticada com tanta alegria e que esteja presente tanto em campos de guerra quanto em academias na Europa”.
Para o menino Anderson Ferez, de 8 anos, corda branca da modalidade, por sua vez, a notícia soou com uma esperança. “Tomara que com isso capoeira seja incluída nas Olimpíadas do Rio e eu possa disputar”, disse, sem saber, porém, que a luta não poderá ser incluída a tempo.