Por thiago.antunes

Rio - Com os celulares em punho para iluminar o sombrio barraco na Rua Anexa, no Jacarezinho, os quatro policiais da UPP acusados de estuprar uma menor e duas mulheres, na madrugada de terça-feira, teriam submetido as vítimas, segundo depoimentos, a uma verdadeira sessão de orgia. Diante dos relatos, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, informou que irá solicitar a expulsão sumária dos PMs, que estão presos na Unidade Especial da Polícia Militar, em Benfica.

Na 25ª DP (Engenho Novo), que investiga o caso, as vítimas, que têm 16, 18 e 35 anos e não possuem antecedentes por consumo de drogas, contaram que os cerca de 30 minutos de terror na favela foram marcados por ordens para introdução de objetos nas partes íntimas, sexo oral em conjunto e ato sexual sem preservativo.

Uma das mulheres, a qual depoimento O DIA teve acesso, afirma que três dos quatro PMs presos participaram diretamente da suspeita de estupro. O quarto acusado teria ficado na porta do barraco, localizado próximo à linha do trem, dando, segundo a polícia, suporte e incentivo aos companheiros.

Os policiais militares foram à delegacia para que as vítimas fizessem o reconhecimento dos agressores. Quatro foram acusadosFernando Souza / Agência O Dia

Foram detidos em flagrante Gabriel Machado Mantuano, Renato Ferreira Leite, Wellington de Cássio Costa Fonseca e Anderson Farias da Silva, apontado em depoimento como mais agressivo de todos. De acordo com uma das meninas, ele se intitulava o “Capeta”. Um dos suspeitos também usava touca ninja para não ser reconhecido.

Os quatro, reconhecidos pelas vítimas, irão responder pelo artigo 232 do Código Penal Militar (constranger mulher a conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça), além de abuso de autoridade. O PM Farias também foi indiciado pelo crime de roubo do celular de uma das mulheres. Outros dois suspeitos estão presos administrativamente no 3º BPM (Méier).

Em nota, Beltrame se desculpou com as vítimas, que não moram na comunidade, e parentes por causa de “um crime que causa repulsa”. Ele informou que acompanha de perto as investigações e que as circunstâncias das denúncias agravam ainda mais o caso. “Infelizmente, a polícia não está imune de admitir em seus quadros pessoas que vão trair a missão de servir e proteger”.

Violência sexual e covardia sob ameaça de morte

O drama relatado pelas três teve início na madrugada de terça-feira, na casa de uma amiga que mora próximo ao viaduto do Jacarezinho. Após tentarem resgatar sem sucesso a irmã da mais velha, que permanecia há pelo menos três dias na cracolândia da favela, elas decidiram então fazer uma visita à colega.

Quando assistiam a TV, um grupo de policiais obrigou, sob acusações de serem viciadas, as quatro, incluindo a dona da casa, e um outro homem, a entrar em um barraco, onde todos teriam sido agredidos. Em seguida, apenas as três foram conduzidas a um beco escuro, onde foram obrigadas a retirar as roupas sob ameaças de morte. Já nuas, elas teriam entrado em um outro barraco vazio.

Com os celulares ligados, três acusados mandaram as vítimas introduzir um isqueiro e uma caneta pilot nas partes íntimas. Duas meninas também teriam feito sexo oral em um mesmo policial. Por fim, após os atos, uma das vítimas também foi obrigada a fazer sexo oral sem camisinha. Substâncias similares a esperma foram recolhidas no local.

Corregedoria da PM abriu inquérito para apurar caso

A Corregedoria interna da PM determinou abertura de Inquérito Policial Militar (IPM) e de uma Comissão de Revisão Disciplinar para apurar o caso. O coronel Sydney Camargo, corregedor da corporação, informou que dois dos suspeitos presos ouvidos no IPM confessaram ter estado no local do crime. Um deles, inclusive, negou a participação direta no estupro.

O comando-geral da Polícia Militar também se manifestou por meio de nota. Segundo o comunicado, a corporação repudia o que classifica como “comportamento intolerável” dos policiais. Advogado de um dos suspeitos, Felipe da Silva Simão negou a acusação. “É mais uma ação do tráfico para desmoralizar a polícia. Hoje qualquer pessoa, por ordem do tráfico, presta depoimento contra o PM. Essa acusação de estupro é mentirosa”, afirmou.

Ao contrário do divulgado, nenhuma das vítimas é usuária de drogas

Ao contrário do que foi publicado na edição de quarta-feira, quando testemunhas do caso e policiais da UPP denunciaram à reportagem que as vítimas tinham envolvimento com o consumo de drogas, nenhuma das três possui passagem por este tipo de crime.

Na verdade, usuários de drogas que vivem próximo ao local da denúncia de estupro e que prestaram depoimento como testemunhas, contaram informalmente à equipe do DIA que todos os envolvidos seriam consumidores. Através do depoimento, faz-se esclarecer que apenas a amiga das vítimas, que não foi violentada, é que teria algum tipo de vício.

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