Por thiago.antunes

Rio - A certeza de impunidade por parte dos integrantes da Liga da Justiça, acusados de controlar condomínios do Programa Minha Casa Minha Vida na Zona Oeste, era tanta que, além se apoderarem de apartamentos e cobrarem taxas abusivas dos moradores, bens das vítimas também eram rifados e reutilizados pela própria quadrilha. Ontem, mais um suspeito foi detido, totalizando 22 mandados de prisão cumpridos, de um total de 27. A Operação Tentáculos foi desencadeada pela Polícia Civil e Ministério Público.

Em depoimento a que O DIA teve acesso, X. conta que, após ser expulso, seus maquinários de trabalho foram colocados como premiação de um bingo, realizado em março deste ano. Antes porém, bens de seu apartamento também foram subtraídos após não ter tido dinheiro para as “taxas extras” sobre as contas, que giravam em torno de R$ 225.

Na ocasião, Alexandre da Rocha Antunes, o “Sérgio Preto”, que está preso, pegou em sua casa uma geladeira, um aparelho de som, uma televisão e um aparelho de DVD. “A geladeira estaria no quintal da casa de Jorge Luiz da Silva Caldeira, o Jorginho (que segue foragido), sendo utilizada pelo mesmo para gelar cerveja em seus momentos de lazer”.

Ademir Horácio (de rosa)%2C um dos ‘síndicos’. À direita%2C o delegado Braga%2C que coordenou a investigaçãoPaulo Araújo / Agência O Dia

As “taxas” variavam de R$ 20 a R$ 50 sobre cada conta de luz, água, condomínio ou gás. Além de serem expulsos, os que não concordavam com o mecanismo de cobrança eram mortos. Nos últimos anos, alguns moradores “desapareceram”.

“Em julho de 2012, uma vítima foi agredida com pauladas. Depois sumiram com o corpo. Os milicianos haviam matado o rapaz pelo fato do mesmo ter sido expulso de sua casa e ter tentado voltar para pegar alguns pertences sem autorização”, revela outro trecho dos depoimentos. Em março de 2013, um morador,indignado, teria chamado a polícia ao ser expulso. Após ser conduzido, supostamente, pelos próprios PMs até a 35ª DP (Campo Grande), seu corpo foi encontrado, no dia seguinte, amarrado com os braços abertos em uma árvore, nos fundos do condomínio.

Negócios rendiam R$ 1 milhão por mês

Os negócios da quadrilha, que incluíam revenda e aluguel de imóveis, rendiam até R$ 1 milhão por mês. Entre os detidos está o subtenente da PM João Henrique Barreto, o Cachorrão, lotado no 40º BPM (Campo Grande). Ele era o braço direito do ex-PM Toni Ângelo, preso em 2013. Da cadeia, ele mandava as instruções por meio de cartas.

Dos 27 procurados, 13 são agentes públicos, sendo seis PMs, três ex-PMs, um bombeiro, um agente penitenciário, um policial civil e um militar do Exército. Pelo menos 1.600 unidades foram tomadas, com a ajuda de milicianos síndicos dos prédios, de seus proprietários. Os imóveis eram revendidos pelo valor de R$ 50 mil, mas os mutuários continuavam pagando a prestação à Caixa Econômica Federal.

Moradores sequestrados e executados

As sessões de tortura e execução seguiam protocolos para não deixar rastros. Nos últimos meses, tornou-se comum a exposição de “múmias” (vítimas enroladas em panos) nas ruas dos condomínios. “Muitos fatos não foram sequer comunicados à polícia, já que as pessoas viviam sozinhas ou os familiares tinham medo”, informou o delegado da Draco-IE, Luiz Augusto Braga.

A técnica constituía em sequestrar os “inadimplentes” na calada da noite sem que vizinhos percebessem. Após a madrugada de tortura, a vítima era conduzida a locais públicos — com o corpo enfaixado por lençóis pretos e o rosto coberto por um saco — e espancada até a morte. Os algozes usavam capuzes. “Eles conhecem as fases do processo penal e por isso temem deixar rastros. Sabem como agir sem deixar provas”, disse um policial.

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