Rio - A um ano de sediar o Campeonato Mundial Júnior de Remo, seu único evento-teste previsto para os Jogos Olímpicos de 2016, as águas da Lagoa Rodrigo de Freitas não estão indicadas para qualquer prática esportiva por 13 dias consecutivos. Boletim divulgado ontem pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente mostra que, desde 31 de julho, os 2,2 quilômetros quadrados de espelho d’água encontram-se impróprios pelo alto número de coliformes fecais, gerados, preponderantemente, por emissões clandestinas de esgoto.
O fato não é comum nesta época do ano e, segundo o oceanógrafo da Uerj, David Zee, foi influenciado pela pouca quantidade de chuvas, que deixa o nível da Lagoa mais baixo e, portanto, dificulta a troca de águas com o mar. A concentração aproximada de 99% de cianobactérias (comuns em águas poluídas) pode, segundo especialistas, culminar em doenças como câncer de fígado, em casos mais extremos, e provocar males dermatológicos como micoses e infecções, com maior frequência.
Além disso, apesar de a concentração de oxigênio ser considerada razoável (quatro miligramas por litro), na tarde de ontem, enquanto a equipe do DIA esteve no local, eram muitos os peixes mortos na superfície, próximos às margens. Segundo especialistas, no entanto, ainda há tempo desse quadro ser revertido para os Jogos. “A qualidade das águas da Lagoa varia de acordo com a altura das marés.
É possível que em 2016 tenhamos condições melhores, devido às condições climáticas, mas o ideal seria minimizar a probabilidade de crises, a começar, pela dragagem de áreas assoreadas”, explica Zee. Além disso, ele aponta a fiscalização nas galerias de águas pluviais da região e o combate a ligações clandestinas de esgoto como fundamentais.
Em nota, a Fundação Rio-Águas, órgão responsável pela gestão da área, informou que “realiza o monitoramento das saídas de águas pluviais na Lagoa Rodrigo de Freitas e, quando constatada alguma variação, encaminha parecer aos órgãos competentes”.
Remo convive com a sujeira
Desolados, mas esperançosos, atletas que têm nas águas da Lagoa Rodrigo de Freitas seu local de trabalho relatam doenças causados pelo contato direto com a poluição. “Tenho várias micoses por ano. Controlo com pomadas, mas meu dermatologista já avisou que, enquanto for remador, conviverei com isto”, contou o atleta e professor do Botafogo Lucas Tedesco.
A poluição faz com que uma série de protocolos seja adotada na sede náutica do clube: todos os barcos são lavados com água doce e detergentes diariamente, após os treinos, para evitar a deterioração. Os alunos, que são orientados a não passar as mãos no rosto também tomam banho após o exercício.
“É bastante normal ver pássaros se alimentando de peixes mortos por aqui”, relata o jovem Erick Oliveira, de 15 anos, que sonha em assistir às Olimpíadas com as águas limpas. “Já pensou se tivermos uma grande mortandade de peixes na véspera da disputa olímpica? Já pensou se um atleta fica preso em um detrito, em plena final, e perde a medalha? Seria uma vergonha. Tomara que a promessa de limpeza não seja apenas mais uma”, diz o professor.