Por thiago.antunes

Rio - O jogador do Flamengo Luiz Antônio de Souza Soares, de 23 anos, que foi intimado a prestar esclarecimentos por suposta doação de carro de luxo a um dos chefes da milícia Liga da Justiça, acusada de torturar, extorquir e até matar moradores da Zona Oeste, será investigado por estelionato, pois teria dado o chamado ‘golpe do seguro’. E ainda poderá responder por formação de quadrilha.

No dia 11 de janeiro deste ano, durante festa dos criminosos, Luiz Antônio, conforme testemunha que colabora com a polícia, teria presenteado Marcos José de Lima Gomes, o Gão, com um Ford Edge, avaliado em R$ 130 mil. Em seguida, o pai do jogador, Luiz Carlos Francisco Soares, também intimado a depor, registrou suposto roubo do automóvel.

Luiz Antônio%2C em treino%3A ele teria se aproximado de bandidos da Liga da Justiça através do irmão de criação%2C o policial civil Sérgio Preto%2C presoCarlos Moraes / Agência O Dia

De acordo com a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), o possível envolvimento de Luiz Antônio com a Liga da Justiça se dava por meio do irmão de criação do atleta, Alexander da Rocha Antunes, o Sérgio Preto, policial civil lotado na 42ª DP (Recreio). Este acabou preso na Operação Tentáculos e apontado como homem do segundo escalão do bando. Alexander confeccionou o registro de roubo do carro.

Na ocorrência, escrita em poucas linhas, o comunicante informou apenas que o Ford Edge foi levado por dois homens que estavam numa moto, usando capacetes e pistolas, em Guaratiba, também na Zona Oeste. Segundo o titular da Draco, delegado Alexandre Capote, Luiz Antônio será investigado inicialmente por estelionato.

Se no decorrer do inquérito houver algum indício de ligação mais estreita com o bando, por meio de escutas telefônicas autorizadas judicialmente, por exemplo, o atleta responderá também por formação de quadrilha.

Veículo do modelo Ford Edge%2C similar ao da foto%2C foi entregue pelo jogador a Gão%2C acusado de chefiar bandoReprodução

Em janeiro, conforme apuração da Draco, quando passava por momento conturbado no Flamengo — tendo, inclusive, entrado na Justiça para pedir a rescisão de seu contrato — e numa difícil situação financeira, Luiz Antônio teria tentado dar o ‘golpe do seguro’ para receber o valor do carro da seguradora.

Naquela época, Luiz Antônio e outros jogadores de futebol do Rio, além de artistas, costumavam frequentar, de acordo com a testemunha, churrascos realizados por milicianos nos fins de semana. Ontem, agentes da Draco tentaram entregar a intimação ao apoiador em seu apartamento, num condomínio da Barra da Tijuca, mas o porteiro informou que ele teria mudado de endereço na semana passada. Ainda segundo a Draco, Luiz Antônio e o pai têm dia e hora — não revelados — para comparecerem à sede da especializada esta semana.

Em nota, o Flamengo informou que vai esperar pela conclusão da investigação para se pronunciar. O meio-campo foi titular, no domingo, contra o Sport, no Maracanã, pelo Brasileiro. O DIA tentou contato com o atleta, mas não conseguiu localizá-lo ontem.

Jogador pode ser demitido do Flamengo

Se ficar comprovado o envolvimento de Luiz Antônio em estelionato e qualquer ligação com a milícia Liga da Justiça, o jogador poderá ser demitido do Flamengo. Nos contratos assinados pela atual diretoria, há uma série de restrições em caso de envolvimento dos atletas com crimes, inclusive com rescisão de trabalho por justa causa.

Polícia durante operação na semana passada em Campo GrandePaulo Araújo / Agência O Dia

Depois de escândalos relacionados a seus jogadores — o maior deles envolvendo o goleiro Bruno de Souza, que está preso, condenado pelo assassinato da modelo Eliza Samudio —, a presidência do clube tenta evitar, dessa forma, que o nome do clube continue aparecendo nos noticiários policiais.

A revelação da suposta ligação de Luiz Antônio com a milícia da Zona Oeste deixou amigos, torcedores e parentes do jogador estarrecidos. A Liga da Justiça, segundo a Draco, é um dos bandos mais violentos do Rio.

Por mês, os negócios da quadrilha, que envolviam até o controle de condomínios do Programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, movimentava mais de R$ 1 milhão por mês. Dos 27 investigados do grupo, 21 foram presos na quinta-feira. Para intimidar moradores, desafetos eram torturados e mortos em praça pública.

Pedida a transferência de presos

O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, enviou ontem à Vara de Execuções Penais (VEP) do Rio de Janeiro solicitação para a transferência do miliciano Marcos José de Lima Gomes, o Gão, e do traficante Marcelo Cardoso, o Marcelo Pezão, para presídios federais fora do estado.

De acordo com a Secretaria de Segurança, caso o pedido seja aceito, a transferência deve demorar alguns dias, pois depende dos trâmites da Justiça estadual para depois subir para a instância federal, quando, então, haverá a definição para quais presídios os criminosos serão transferidos.

Gão foi preso terça-feira passada, dois dias antes de a Operação Tentáculos, desencadeada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público, desbaratar a quadrilha conhecida como Liga da Justiça, acusada de controlar condomínios do programa Minha Casa, Minha Vida, na Zona Oeste.

Já Marcelo Pezão está preso desde 2012 no Complexo Penitenciário de Gericinó. A polícia suspeita que ele repassava ordens a comparsas soltos e também chefiava a quadrilha que controla a venda de drogas na comunidade de Vila Kennedy, em Bangu.

Passagem para a esposa

No momento da prisão do ex-policial militar Marcos José de Lima Gomes, conhecido como Gão, a Draco apreendeu cartas que ele recebia do também ex-PM Toni Ângelo, que chefiava a milícia da Liga da Justiça antes de ser preso, em julho do ano passado.

“Quero te agradecer por comprar a passagem para a minha esposa vir me visitar”, escreveu Toni, em correspondência que exibia local e data do envio: Catanduvas, 22 de setembro de 2013, em referência ao presídio federal onde o miliciano está detido.

Toni também fala em fé e liberdade: “Meu irmão querido. É muito duro ficar longe dos amigos. Estou com fé que logo logo Deus vai enviar a liberdade”.

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