Por adriano.araujo

Rio - A suspeita de que o jogador Luiz Antônio, do Flamengo, teria presenteado o chefão de uma milícia da Zona Oeste e, em seguida, registrado o roubo do veículo para receber dinheiro da seguradora chamou a atenção para um crime difícil de ser detectado. Tal tipo de estelionato é conhecido no linguajar policial como ‘tombo no seguro’. Uma estimativa feita pela Polícia Civil em conjunto com uma associação de empresas de seguro revela que cinco pessoas a cada 24 horas vão a uma delegacia no Estado do Rio de Janeiro para registrar o falso roubo de veículo.

O levantamento leva em consideração um índice calculado com base em informações de seguradoras de 5% de falsas ocorrências em meio aos 18 mil registros de roubo de veículo entre janeiro e junho deste ano, segundo dados do Instituto de Segurança Pública. Nesse período, por essa lógica, 900 roubos registrados nunca teriam ocorrido, uma média de 150 golpes em seguradoras por mês.

Desmanche costuma ser feito em locais afastados%2C em cerca de 30 minutos. Depois%2C peças são levadas a ferros-velhos para a vendaPaulo Alvadia / Agência O Dia / 10-2-2011

A principal dificuldade da polícia é comprovar a autoria desse tipo de crime. Quando a falsa vítima procura a polícia, o veículo já está nas mãos de um intermediário. Em alguns casos, o veículo é clonado por quadrilhas especializadas. Em outros, é levado a um ferro-velho. Mas não é desmontado lá.

De acordo com a Delegacia de Roubos e Furtos de Autos (DRFA), o desmanche dos carros costuma ser feito em sítios ou locais afastados, onde são desmontados em menos de 30 minutos, longe da fiscalização. Em seguida, as peças são levadas a ferros-velhos, onde são vendidas. “A prioridade dos criminosos é quebrar os vidros, raspar o motor, o chassi e as etiquetas de identificação. Nesse caso, como vou provar que houve crime? Em tese, o dono do carro é uma vítima, não um estelionatário. Com o carro desmontado, não há mais materialidade do crime”, explica o delegado Geovan Omena, da DRFA.

Segundo a polícia, a intenção do dono do carro é recuperar o investimento no veículo, desvalorizado pelo uso. Em alguns casos, ele é ressarcido pela seguradora pelo falso roubo e ainda recebe do intermediário, que irá clonar ou desmanchar o veículo. “Todo mundo ganha nesse esquema”, reforça o delegado.

Quadrilha pode estar envolvida

No mês passado, a DRFA prendeu 13 pessoas, desarticulando a que seria a maior quadrilha de desmanche e clonagem de veículos no estado. Segundo a investigação, o grupo é responsável pelo roubo de 300 carros por mês. E pode estar envolvida com o ‘tombo no seguro’, devido ao tipo de ação dos criminosos.

O grupo desmontava os veículos em um ferro-velho na Vila Aliança, em Bangu, e revendia as suas peças. Escutas telefônicas feitas durante a investigação revelaram que Mário Lúcio de Souza, o chefe do esquema, pagava a um ladrão R$ 1 mil por carro roubado. E fazia o repasse por R$ 4 mil para interessados na clonagem.

Polícia suspeita que Luiz Antônio teria dado o ‘tombo no seguro’Foto%3A Carlos Moraes / Agência O Dia

?Vinte e dois milicianos na cadeia

?A suspeita de envolvimento do jogador Luiz Antônio na fraude contra a seguradora surgiu na semana passada, após uma operação da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE), que prendeu 22 suspeitos de atuar na Liga da Justiça, milícia que atua na Zona Oeste.

Segundo a investigação, o atleta teria presenteado o ex-PM Marcos José de Lima, conhecido como Gão, com um Ford Edge de R$ 130 mil. Em janeiro, Luiz Carlos Francisco Soares, pai do jogador, registrou ocorrência de roubo na 42ª DP (Recreio). Pai e filho prestaram depoimento e negaram ter dado o carro, sustentando a versão do roubo.

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