Rio - Fiéis e integrantes da Paróquia Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, viveram ontem à tarde mais de duas horas de apreensão e desespero após Carlos Alberto de Souza Júnior, de 35 anos, entrar armado com uma pistola calibre 380 na igreja, render o padre José Ricardo e depois fazer refém o economista e ministro da Eucaristia Eduardo Amaral. Na igreja havia cerca de 500 pessoas, que assistiam à missa das 16h30. Houve tumulto e correria. O ladrão tentava fugir da PM, pouco depois de roubar uma farmácia — com a ajuda de comparsa que fugiu — e trocar tiros com agentes na Rua Visconde de Pirajá.
“Ele rendeu o padre, que levantou a mão. Logo depois a PM entrou, ele desistiu do padre e me pegou. Parecia calmo. Disse que tinha apenas uma bala e escolheria quem iria morrer: eu ou ele. Ainda bem que escolheu a vida”, disse Eduardo.
A paróquia fica na Visconde de Pirajá, em frente à Praça Nossa Senhora da Paz, uma das áreas mais movimentadas do bairro da Zona Sul. O criminoso invadiu o templo por volta das 17h e só deixou o local às 19h15 quando se entregou e libertou Eduardo. As negociações foram conduzidas pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope). O Batalhão de Choque também foi para o local. O quarteirão foi fechado.
No momento da invasão, padre Ricardo fazia a homilia (pregação do Evangelho).
“Ele entrou tranquilo, sem falar nada. Foi para a frente do altar, colocou o chapéu em cima da mesa e rendeu o padre”, contou a coordenadora de acolhimento da igreja, Célia Alves.
Segundo o coordenador dos ministros da Eucaristia, Justino Carvalho, muitas pessoas permaneceram dentro da igreja com medo de que o bandido atirasse. “Ele puxou a arma, e as pessoas que estavam sentadas na frente se abaixaram e ficaram com medo de sair, mas as que estavam atrás correram. Ontem, foi a primeira missa das 16h30 que Eduardo participou. Ele é ministro na missa das 19h30”, contou Justino.
De acordo com a polícia, minutos antes de entrar na igreja, Junior e o comparsa haviam assaltado uma farmácia na Rua Garcia D’Ávila. Na fuga, Junior tentou roubar o táxi de Pedro Eduardo Gomes, de 51 anos, 20 deles na praça. O bandido acabou ferindo o motorista, que teve corte num dos dedos da mão provocado pelo ferrolho da arma do bandido e teve que dar oito pontos no ferimento. Como não conseguiu fugir, Junior entrou na igreja, e o comparsa escapou. “Estava no sinal, e o bandido bateu na janela. Achei que quisesse informação. Abaixei o vidro, e ele anunciou o assalto. Reagi segurando a arma. Não sei como fiz isso, pois sou tranquilo”, disse Pedro.
Junior não tem antecedentes criminais. E vai responder por roubo qualificado, tentativa de roubo com emprego de arma de fogo, tentativa de homicídio e sequestro.
O Centro de Operações da Prefeitura informou que a Rua Visconde de Pirajá, na altura da Rua Joana Angélica, chegou a ser interditada para o trabalho da Polícia Militar. Durante o fechamento, o tráfego foi desviado pela Rua Henrique Dumont. A via já foi liberada e o trânsito segue normal na região.
Arcebispo do Rio pede paz
Por causa do incidente, o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta emitiu uma nota aos fiéis. "Suplico à divida misericórdia. Que haja um desfecho de paz", disse ele que está em Bogotá, na Colômbia.
Mais cedo, através do Twitter, a Arquidiocese do Rio se manifestou sobre o caso e pediu orações. "Ministro da eucaristia na Igreja N. Senhora da Paz - Ipanema é feito refém dentro do próprio templo, agora interditado p/policiais. Oremos!", dizia o tweet.
