Por paulo.gomes
Corpo da engenheira Patrícia Amieiro, morta em junho de 2008 após sair de uma festa, nunca foi localizadoReprodução

Rio - A Justiça determinou que o Estado do Rio indenize a família da engenheira Patrícia Amieiro, morta em 2008 após sair de uma festa no Morro da Urca, Zona Sul, em direção à Zona Oeste do Rio. Segundo a sentença assinada pelo juiz Ricardo Coimbra Barcelos, da 10ª Vara da Fazenda Pública, a família vai receber a indenização no valor de R$ 780 mil por danos morais. O pai e a mãe de Patrícia receberão R$ 250 mil cada, os dois irmãos, R$ 100 mil cada, e o avô, R$ 80 mil.

O advogado da família, João Tancredo, disse que entrará com um recurso pedindo o aumento dos valores. Na sentença, o magistrado afirma que a engenheira contribuiu com a própria morte ao furar uma blitz da Policia Militar na entrada do Túnel do Joá, em São Conrado.

"Vamos recorrer ao aumento da indenização, para afastar a conclusão do Juiz, que o comportamento justificou a ação dos PMs. A primeira batalha foi vencida, já que representa o reconhecimento de que Patricia foi morta pelos policiais, mas dizer que ela contribuiu com a própria morte não é verdade. Pretendemos buscar o valor de 2 mil salários mínimos. A Patricia não parou na blitz porque era uma situação estranha: uma viatura apenas, e apagada. Certamente, ela teve medo de ser uma blitz falsa, como qualquer cidadão teria", disse João Tancredo.

Segundo as investigações da Polícia Civil, um dos PMs, que estava em uma viatura em São Conrado entrou em contato por rádio com outra patrulha, que estava na Estrada da Barra da Tijuca. Na saída do Túnel do Joá, os policiais teriam atirado contra o carro da jovem, que caiu perto do Canal da Barra. Ainda de acordo com as investigações, os agentes jogaram o carro no canal e o corpo nunca foi localizado.

Os quatro policiais acusados (Marcos Paulo Nogueira Maranhão, Willian Luis do Nascimento, Fábio da Silveira Santana e Márcio Oliveira dos Santos) estão em liberdade e devem ir a júri popular ainda este ano. De acordo com o advogado da família, que acompanhou a perícia feita no veículo, o parabrisa estava totalmente quebrado e projéteis deflagrados foram encontrados no interior.

"Nada vai trazer a nossa filha de volta. Nada. Dinheiro algum no mundo. A condenação do estado a pagar a indenização é só a prova de que esses caras são bandidos mesmo. Agora, é aguardar o júri popular. Esses policiais tem que ficar na cadeia", lamentou Antônio Celso Franco, pai de Patrícia.

PMs não responderão por ocultação de cadáver

Para Tancredo, a ideia da indenização é mostrar que esse tipo de crime fica caro para a sociedade. "O governo tem que melhorar a estrutura da polícia. Esses profissionais tem que proteger a população e não matar as pessoas aleatoriamente. O Estado tem que indenizar a família da vítima, mas isso não acaba com a dor, tenta amenizar o constrangimento moral", explicou o advogado.

Segundo informações do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) desta quinta-feira, os quatro policiais militares acusados respondem por homicídio qualificado. A assessoria de imprensa do TJ-RJ informou, que os quatro policiais não respondem mais por ocultação de cadáver. O Tribunal de Justiça também negou que Fábio da Silveira Santana e Márcio Oliveira dos Santos respondam por fraude processual.

Relembre o caso

Em junho de 2008, o Fiat Palio da engenheira foi encontrado no Canal de Marapendi, que cruza a Autoestrada Lagoa-Barra. A princípio, o caso foi tratado como acidente, mas, como o corpo de Patrícia Amieiro não foi encontrado, a polícia começou a trabalhar com a hipótese de homicídio.

Após exames realizados, a perícia descobriu marcas de tiros no capô. Em 2012, foram encontradas roupas femininas no Sítio Vitória, no Itanhangá, cogitando-se que poderiam ser da engenheira, mas, com o exame de DNA, a hipótese foi descartada. Na ocasião, a família da engenheira pediu que as buscas continuassem.

O Ministério Público retificou a denúncia. O MP disse que os policiais Marcos Paulo e William Luis teriam disparado contra o veículo da vítima, atingindo-o e fazendo-o perder a direção e colidir com dois postes e um muro. O órgão registrou que, por conta da má pontaria dos PMs, o crime não se consumou de fato. Após a batida, o corpo foi retirado do local, e os quatro teriam modificado o cenário, jogando o veículo da ribanceira.

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