Por thiago.antunes

Rio - As divisórias laranjas que separam as pistas da Avenida Rio Branco já fazem parte da paisagem há mais de seis meses. A mão dupla exclusiva para ônibus e táxis, criada em fevereiro como parte do plano de desafogamento das obras na Região Portuária, chegou a ser vista com desconfiança, mas hoje agrada à boa parte de quem passa pela via. Motoristas e pedestres ouvidos pelo DIA na última semana comemoram a redução de veículos que circulam por lá e reconhecem que o cenário de caos imaginado não se cumpriu.

Passageiros de ônibus, por sua vez, aproveitam os pontos antes inexistentes. Contudo, ainda existem ajustes a serem feitos. Durante as quatro horas em que a equipe de reportagem esteve no local na quinta-feira, por exemplo, foram contabilizados 28 veículos de passeio circulando pela via fora do horário permitido.

“Não é fácil. Muitos motoristas desrespeitam os pontos do bloqueio e entram na pista em alta velocidade. Também temos dificuldades com pedestres que atravessam as pistas fora das faixas. Diariamente presenciamos acidentes”, lamentou o agente da CET-Rio Marcelo Miguel, um dos 35 controladores que atuam, exclusivamente, na Rio Branco.

Os cones laranjas separam as pistas da Rio Branco há mais de seis meses%3A mão dupla hoje agrada a boa parte de quem passa pela avenidaJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

De acordo com o órgão, desde a implantação da mão dupla, guardas municipais aplicaram 1.468 multas. No mesmo período, os 22 radares eletrônicos espalhados pelos mais de dois quilômetros de extensão da via imputaram 4.100 sanções. Os números correspondem a mais de 50% do total de multas. “Não me arrisco. Sigo pelo Aterro do Flamengo em direção a Ipanema”, disse o contador Jorge Almeida, um dos muitos que confessam que imaginaram congestionamentos piores, na época do anúncio. “Passo por aqui há 20 anos. Sempre tivemos trânsito similar”, ressalta.

É graças à desistência dele e de outros motoristas que, de acordo com a Secretaria municipal de Transportes, o número total de veículos que costumavam passar na via tenha diminuído 28%. Os antes 29.900 automóveis que passavam em direção à Cinelândia, hoje são 21.600, somados os dois sentidos.

Vitor Brandão reduziu em 45 minutos tempo para chegar à CinelândiaJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

O fluxo de coletivos, ordenado pelas faixas de BRTs, é comemorado por passageiros. “Em outros tempos, cheguei a demorar uma hora para chegar à Cinelândia. Hoje, faço o trajeto em 15 minutos”, garante o estudante Vítor Brandão, que também aproveita os pontos em direção à Presidente Vargas. “Na volta para casa, caminhava por 20 minutos até a Presidente Vargas”, lembra.

Ponto final de intermunicipais é alvo de queixas

Com a previsão de conclusão das obras da Via Expressa, que substituirá a Perimetral, para 2016, motoristas continuarão sem poder circular pela Rio Branco entre 5h e 21h durante a semana e entre meia-noite e 15h, de sábado. Domingo, o tráfego é liberado. Quem segue para a Zona Sul pode acessar a Via Binário ou o Aterro do Flamengo pela Avenida Passos. Os túneis Santa Bárbara e Rebouças são as melhores alternativas para quem parte da Zona Sul em direção ao Centro.

Agentes da CET-Rio têm dificuldades com pedestres que atravessam fora da faixa. Muitos ainda se confundem com a sinalização da viaJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

Passageiros de linhas intermunicipais e executivas que tiveram os locais dos pontos finais alterados, por sua vez, reclamam das distâncias agora percorridas. “Pego dois ônibus, pois tenho dificuldades para andar. Como não tenho Bilhete Único, gasto o dobro. Fica impossível gostar dessa mudança”, disse a moradora de Paracambi Suzana Reis.

Lucros e custos maiores para o comércio na região

Não são apenas os passageiros que deixaram de andar até dois quilômetros que comemoram a criação de 14 novos pontos de ônibus no lado da via, que hoje ruma em direção à Cinelândia. Comerciantes formais e informais da região também relatam aumento nas vendas, graças às novas paradas.

“A todo instante as pessoas descem por aqui e se deparam com as vitrines. Antes, quem estava em trânsito sequer atravessava a rua”, disse o comerciante Sérgio Lagareira. Dono de um restaurante próximo a Rua Sete de Setembro, ele garante ter registrado aumento de cerca de 20% nas vendas desde fevereiro. O camelô Tiago Rodrigues também comemora os lucros.

“Faço sucesso nas filas dos ônibus. Quem está parado sempre tem tempo para olhar meu mostruário”, ironiza. “Esse aumento surpreende a todos. Quando a mão dupla foi anunciada, ficamos temerosos pela proibição de parada de taxistas e motoristas”, lembrou o dono do restaurante.

Porém, os empresários também têm queixas: os altos custos de manter os horários de carga e descarga de produtos. “Além da segurança ser menor, pois a região fica deserta, fica caro manter um profissional em expediente noturno para receber mercadorias”, diz o presidente da Câmaras dos Lojistas do Rio de Janeiro, Aldo Gonçalves. De acordo com ele, empresários da região pedem, há meses, a criação de horários fixos, durante a manhã e à noite, para o trabalho de veículos leves na Rio Branco.

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