Por thiago.antunes

Rio - O bairro de Vila Isabel viveu um domingo tenso, com policiais baleados, automóveis de moradores da Rua Senador Nabuco atingidos por tiros e manifestação reprimidas com bombas e spray de pimenta no Boulevard 28 de Setembro. O caos começou na madrugada de sábado para domingo, quando dois soldados da UPP do Morro dos Macacos foram baleados durante um patrulhamento de rotina, na Rua Senador Nabuco.

Um deles foi atingido de raspão na cabeça e levado para o Hospital Central da Polícia Militar; o outro que foi alvejado por projétil na perna, teve fratura exposta do fêmur e passou por uma cirurgia de emergência no Hospital Federal do Andaraí.

A família do soldado atingido na perna só soube do ocorrido ontem pela manhã. À tarde, a mãe, a irmã e a namorada foram visitá-lo. “Ele já está conversando, se alimentando e deve ser transferido de hospital amanhã”, disse a mãe, que pediu para não ser identificada. A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) não informou os nomes dos soldados e por meio de nota, disse que o quadro de ambos é estável.

PM transporta sangue ao Hospital do Andaraí para soldado atingido por tiro e que foi operado na unidadePaulo Araújo / Agência O Dia

Também no início da tarde deste domingo, cerca de 50 moradores do Morro dos Macacos tentaram interditar o Boulevard 28 de Setembro, principal via do bairro, para protestar contra a morte de José Roberto Lorena Ramos, de 26 anos, conhecido como Dentinho Picoleli, atingido por cinco tiros na sexta-feira pela manhã, durante um tiroteio na comunidade.

A manifestação começou quando familiares e amigos, ao voltarem do enterro de Dentinho, no cemitério do Caju, resolveram saltar do ônibus na altura do Hospital Pedro Ernesto e caminhar pela rua até a Praça Barão de Drummond, bloqueando a circulação dos automóveis, durante cerca de 20 minutos.

Com o trânsito interrompido, policiais do 6º Batalhão (Tijuca) e do BP de Choque foram chamados e dispersaram o protesto com bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Os manifestantes revidaram jogando garrafas e pedras nos policiais, que não recuaram e interditaram as ruas Luiz Bezerra e Torres Homem, num dos acessos ao morro. Não houve feridos nem prisões.

Ato para chamar a atenção das autoridades

Rafael da Silva Pedro, 34 anos, ajudante de cozinha e cunhado de Dentinho, disse que a manifestação começou de forma pacífica e que eles só queriam chamar a atenção para a situação em que vivem os moradores da comunidade do Morro dos Macacos. Segundo ele, foi de repente que os policiais começaram a jogar bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta.

“Só havia família e amigos do Dentinho. A gente tinha voltado do cemitério. Ele era trabalhador, estava de folga na sexta-feira. Na véspera, foi ao shopping comprar uma chuteira para o filho, de 11 anos, que treina na escolinha de futebol do Madureira. É muita revolta”.

Na confusão, o carro do comerciante Ivan Marins, 66 anos, teve os vidros quebrados por uma barra de ferro. “Eu tinha acabado de sair do futebol com os amigos quando começou a correria. Como vai ficar o prejuízo?”, reclamou. De acordo com a assessoria de imprensa do PM, o tumulto foi contido e a comunidade segue monitorada pela UPP.

Reportagem de Márcio Allemand

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