Por daniela.lima

Rio - Da sala do seu apartamento no 15º andar, na Praia do Flamengo, com uma vista de tirar o fôlego do Pão de Açúcar, o francês Brice Roquefeuil se sente em casa. Há apenas um ano no Brasil, o atual cônsul-geral da França no Rio de Janeiro se encantou pelo jeito carioca, virou torcedor do Flamengo e adotou a Portela como escola do coração. Aos 40 anos e após duas passagens pela Rússia e Turquia, o diplomata tem como meta fomentar as parcerias na Educação e é um dos apoiadores de um grande evento de gastronomia para celebrar, no ano que vem, os 450 anos da cidade.

Brice Roquefeuil observa a paisagem de cartão-postal de seu apartamento%3A ele torce para o Flamengo%2C adotou a Portela e apresentou o ‘Trem do Samba’ ao prefeito de NiceFábio Gonçalves / Agência ODIA


Em janeiro, ele esteve à frente da iniciativa que selou a abertura da primeira escola franco-brasileira da rede pública do Ensino Médio, em Niterói, que oferece 16 horas de francês na grade curricular. E os professores do Ciep 449 Leonel de Moura Brizola ganharam treinamento financiado pelo governo de François Hollande.
Em 2015, será inaugurada uma escola profissionalizante em hotelaria, da rede pública do Ensino Médio, em parceria com a Secretaria estadual de Educação e o grupo francês Accor, dono dos hotéis Sofitel e Ibis. A unidade vai funcionar na Região Metropolitana do Rio.

“A ideia é dar oportunidade aos jovens brasileiros, profissionalizando a mão de obra e melhorando a qualidade do serviço. Na França, 50% das escolas adotam o ensino técnico. É um processo recente que favorece a inserção no mercado de trabalho”, ressalta Brice.

FEIRA GASTRONÔMICA

Além das ações na área da Educação, outra iniciativas para estreitar os laços entre os dois países é o apoio à edição latino-americana da maior feira gastronômica da Europa, a Sirha Rio, em 2015, bienal que acontece em Lyon e divulga talentos da cozinha europeia. Para dar água na boca no aniversário de 450 anos dos cariocas.

O representante dos sete mil franceses que moram no estado já foi jogador de futebol. Torcedor do Paris Saint-Germain, decidiu se unir à torcida rubro-negra depois de uma final do campeonato brasileiro no Maracanã. “Fiquei impressionado com a paixão das pessoas pelo time”, relembra ele, que se sentiu acolhido na cidade desde o primeiro dia. “O melhor do Rio são o calor e o coração dos cariocas. Todo mundo te recebe como um velho amigo”, reconhece Brice, que tem organizado exposições de arte em casa para fazer a ponte entre artistas franceses e brasileiros.

Por aqui, a pontualidade ficou um pouco esquecida. “Me atraso para não esperar muito”, revela Brice, que adquiriu outro hábito local: a academia e as caminhadas à beira-mar. Um dos programas preferidos é fazer trilhas na Floresta da Tijuca. Na agenda do cônsul, estão uma ida à Feira dos Nordestinos, ao Morro Dois Irmãos e à Igreja da Glória.

“Gosto de andar descalço na areia e beber água de coco”, dá a dica o fã de Chico Buarque e Cândido Portinari. “A música brasileira é uma poesia, ótima para aprender português”, diz num perfeito português.

MIDIATECA PARA O RIO

Ele indicou ao prefeito de Nice levar à França o ‘Trem do Samba’

No namoro entre o cônsul francês e o Rio de Janeiro nem tudo são flores. Brice não se acostumou com os termômetros acima dos 40°C e acha que o trânsito precisa melhorar. “A cidade cresceu muito rápido e a rede de transportes não acompanhou. O grande desafio é modernizar o sistema com a perspectiva dos Jogos Olímpicos pela frente”, diz o cônsul.

Segundo ele, a França emprestou 300 milhões de euros, por meio da Agência Francesa de Desenvolvimento, para financiar projetos de mobilidade urbana para as Olimpíadas. O novo Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que será usado no Centro do Rio, será fornecido pela empresa francesa Alstom. Enquanto os franceses exportam tecnologia, o VLT deles, em Nice, vai receber a legítima batucada do subúrbio carioca. O projeto ‘Trem do Samba’, idealizado pelo sambista Marquinhos de Oswaldo Cruz, vai agitar, no ano que vem, a Cote D’Azur, na Riviera Francesa, como parte das comemorações pelos 450 anos. Foi dica de Brice depois de assistir ao show de Marquinhos.

Nos próximos anos, Brice quer estreitar as relações franco-brasileiras, incentivando novos investimentos de empresas, que empregam 500 mil brasileiros. De presente para o Rio, pretende deixar uma moderna midiateca (misto de biblioteca informatizada com multimídia) da Maison de France (nova Casa Europa), que passará por uma grande reforma e reabre em março.

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