Por thiago.antunes

Rio - O corpo do ex-traficante Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, baleado e morto no Morro da Mangueira na tarde desta terça-feira, foi enterrado às 16h desta quarta no Cemitério São João Bastista, em Botafogo, Zona Sul do Rio. Cerca de 30 pessoas, entre parentes e amigos, acompanharam o sepultamento. O coordenador da ONG AfroReggae, José Júnior, esteve no local por 15 minutos, mas não falou com a imprensa. 

Cerca de 30 pessoas%2C entre parentes e amigos%2C acompanharam o enterro de TuchinhaAlexandre Vieira / Agência O Dia

O ex-advogado de Tuchinha, Alexandre Dumans, revelou que cuidou do caso da vítima dese o começo. "Era um cara que sempre recebeu ameaças de morte, mas eu desconhecia ameaças recentes. Ele sempre quis viver na Mangueira, era o local de vida dele, onde estavam a família e os amigos. Os parentes pediam para que ele saísse de lá, mas não adiantava. Ele continuava morando com a mãe no Buraco Quente (localidade na Mangueira) e queria ficar lá. Francisco estava tocando a vida, reintegrado à sociedade", disse Dumans.

600 sem aula na Mangueira

Cerca de 600 alunos estão sem aulas nesta quarta-feira, na Mangueira, Zona Norte, no dia seguinte a morte de Tuchinha. De acordo com a Secretaria de Estado de Educação, as aulas do Ciep 241 - Nação Mangueirense foram suspensas "no sentido de garantir a integridade física e moral de seus alunos, professores e funcionários.

No dia seguinte ao assassinato de Francisco Paulo Testas Monteiro%2C o Tuchinha%2C o policiamento na Mangueira foi reforçadoFoto%3A Severino Silva / Agência O Dia

Os conteúdos das aulas perdidas serão repostos". Já a Secretaria Municipal de Educação disse que as unidades estão funcionando, mas que em apenas uma escola os próprios alunos não compareceram. O policiamento na comunidade segue reforçado. De acordo com o major Márcio Rodrigues, comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Mangueira, o comércio local está funcionando normalmente.

Morte estaria ligada com o tráfico de drogas

A suspeita de envolvimento com o tráfico de drogas e a disputa do líder da ONG AfroReggae, José Júnior, com o pastor Marcos Pereira por influência em regiões do Rio são as linhas de investigação da Divisão de Homicídios (DH) para esclarecer a morte de Tuchinha. Ex-chefe do Morro da Mangueira e empregado do AfroReggae, ONG conhecida por empregar ex-bandidos, ele foi morto na tarde de terça-feira com cinco tiros por dois homens em uma moto, por volta das 13h30, no Morro dos Telegrafos, no Complexo da Mangueira.

A morte de Tuchinha estaria relacionada à de Guilherme Augusto Souza Nascimento, com 20 tiros de pistola nove milímetros, minutos depois, a menos 150 metros, na Rua Jurupá. Testemunhas contaram à polícia que as duas vítimas chegaram juntas, no carro de Tuchinha, um Land Rover Discovery, à Rua da Prata, no Telégrafo, de manhã.

Policiais e curiosos lotaram a área onde ocorreu o crime%2C no Morro dos Telégrafos%2C a cerca de 150 metros da rua onde outro homem foi mortoPaulo Araújo / Agência O Dia

Por volta de 11h, duas horas e meia antes dos crimes, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, inaugurou o 1º Conselho de Gestão Comunitária de Segurança na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), próximo ao local dos crimes.

Os serviços de Inteligência das Polícias Civil e Militar receberam informações de que outro alvo é Alexander Mendes da Silva, o Polegar, irmão de Tuchinha. As mortes teriam sido determinadas pelos traficantes Marcelo Fonseca de Souza, o Marcelo Xará, Jean Carlos Tomaz, o Beni, por causa de dívidas. A dupla é dissidente do bando de Polegar. À tarde, o policiamento foi reforçado na região e a ordem da cúpula da PM era a de que o 4º BPM (São Cristóvão) ficasse em alerta para novos ataques de traficantes.

Depois do crime%2C comerciantes fecharam as portas na MangueiraPaulo Araújo / Agência O Dia

Parentes de Tuchinha e testemunhas já foram ouvidos pela polícia. As declarações de José Júnior foram as mais contundentes. “As mortes reforçam as ameaças, que já denuncio há dois anos, feitas pelos pastor Marcos Pereira e Marcinho VP”, acusou Júnior, referindo-se a Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP. Ambos, estão presos.

Na noite de segunda-feira, Júnior esteve com Tuchinha e o orientou a deixar o Morro da Mangueira, mas ressaltou que ele não fazia parte do tráfico. Segundo policiais, ele havia voltado a participar da Associação de Moradores da Mangueira. Apesar de trabalhar desde 2008 para a ONG AfroReggae, ainda teria voz ativa junto ao tráfico que resiste na favela pacificada. Imagens de câmeras de segurança serão colhidas para rastrear os passos dos criminosos, que fugiram para a parte alta do Morro dos Telégrafos.

Land Rover que Tuchinha usava custa em torno de R%24 120 milPaulo Araújo / Agência O Dia

Gosto por grifes, ouro e carros de luxo

O modesto salário de R$ 2,5 mil — recebido do AfroReggae por palestras e cursos —, não impedia Tuchinha de hábitos extravagantes. Gostava de roupas de grifes sofisticadas, usava cordões de ouro e deixou de morar na Favela da Mangueira, onde mantinha uma casa, desde que deixou o Complexo de Gericinó, onde cumpriu pena em Bangu I.

Passava muito mais as noites numa confortável casa em Jacarepaguá, e vez por outra, costumava subir a Serra e se hospedar num sítio em Petrópolis. O Land Rover Discovery verde, modelo 2009, no qual chegou ontem à favela, está em nome da sua mãe e vale, pelo menos, R$ 120 mil. Tuchinha limpava justamente o carro na hora em que os assassinos se aproximaram para matá-lo.

O ex-traficante Francisco Paulo Testas Monteiro%2C o Tuchinha%2C foi assassinado na tarde desta terça-feira%2C na Mangueira. Ele comandou o tráfico na comunidadeFabio Gonçalves / Agência O Dia

Uma investigação da Polícia Civil levantou que Francisco Testas estava à frente da cooperativa de Kombis que operam o transporte alternativo do Largo do Pedregulho, em São Cristóvão, para o Morro da Mangueira — os chamados cabritinhos. Ameaçado de morte, chegou a ser visto na comunidade com escolta.

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