Por thiago.antunes

Rio - A paixão pela dança fez se cruzarem os caminhos de três jovens para quem a vida não deu mole, na Zona Norte do Rio. Ícaru de Freitas, de 22 anos, veio do Pará tentar a sorte como dançarino profissional; Marcos Guedes, 20, trocou o baile charme do Viaduto de Madureira pelos anfiteatros; e Rafael Gomes, 21, ensina a crianças carentes os ritmos urbanos. Eles estão entre os 30 bailarinos recrutados para o projeto Entrando na Dança, que apresenta espetáculos de funk, hip hop e charme este mês.

Nas apresentações, os jovens vão encenar as coreografias que eles ajudaram a montar, sob orientação de coreógrafos como Sônia Destri Lie, Renato Cruz, e Alice Ripoll. Os shows vão se alternar nas arenas da Penha, de Madureira e da Pavuna.

Segundo a diretora do projeto, Nayse López, aproveitar a experiência dos dançarinos é uma das inspirações do Entrando na Dança. “A criação é conjunta, feita para incorporar o vocabulário de dança e as histórias de vida dessas pessoas às coreografias”, diz.

Os dançarinos Rafael Gomes (E)%2C Ícaru de Freitas e Marcos Guedes vão se apresentar na Arena MadureiraDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

O espetáculo ‘Sob Rodas’, que acontece sexta-feira, na Arena do Parque Madureira, às 20h, sintetiza algumas dessas ideias. Depois de três meses de criação, a equipe de Renato Cruz chegou a uma coreografia com pegada multicultural. “Os bailarinos trouxeram para o palco variações de dançar o hip-hop trazidos dos seus estados de origem”, comenta.

Ícaru de Freitas, um dos dez dançarinos que compõem a equipe de Cruz, conta que em Portel, no Pará, onde nasceu, a dança é vista como uma perda de tempo. “Botei na minha cabeça que ia sair de lá e mostrar para elas que ia arrumar um emprego com a dança”, lembrou ele, que partiu com quatro camisetas, fotos da família na mochila e R$ 150.

As batalhas também são a escola de Marcos Guedes, de Padre Miguel. “A gente aprende os passos e observa os movimentos”, explica. Para Rafael Gomes, nascido em uma favela de Austin, é na rua que pulsam seus ritmos preferidos. “Tive contato com as danças em guetos de Bangu, após passar anos em um orfanato com meus irmãos. Descobrir a dança foi encontrar o pedaço da vida que me cabia”, inspirou-se. Hoje, ele dá aula no programa ‘Mais Educação’ em escolas públicas.

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