Por thiago.antunes

Rio - Uma questão considerada antissemita, em uma prova de Geografia aplicada a alunos do 8º ano do Colégio Andrews, no Humaitá, um dos mais caros da rede privada do Rio, motivou manifestações de repúdio de diversas entidades e a demissão sumária de um professor. A denúncia partiu de pais de alunos da própria unidade que não se conformaram com a equiparação feita entre o povo judeu e os nazistas, responsáveis pelo holocausto na Segunda Guerra Mundial.

Na avaliação elaborada pelo professor João Gabriel Monteiro, aplicada na manhã de quarta-feira, três perguntas são precedidas de um texto redigido por ele: “Conforme é sabido, os judeus foram perseguidos por Hitler durante o nazismo. Atualmente um determinado povo é tido como vítima dos israelenses, tendo que viver em assentamentos controlados por Israel”, escreveu, referindo-se à Palestina.

Abaixo, é exibida uma charge que compara um soldado fardado, identificado por uma suástica no braço (símbolo do exército de Hitler), a um militar das forças armadas israelenses atuais. “Chegaram invadindo, tomando terras, assassinando... Quem será pior? Nazistas ou judeus?”, arrebata.

Charge equiparava massacre de judeus na 2ª Guerra aos recentes ataques de Israel a palestinosReprodução

Uma fotografia tirada pelo telefone celular de um aluno judeu, que se sentiu constrangido e a postou numa rede social, foi compartilhada milhares de vezes. Ontem pela manhã, diante dos apelos de pais e representatividades judaicas, o professor foi demitido do Colégio Andrews. 

“Foi um episódio infeliz que não reflete o ambiente respeitoso e democrático que cultivamos há décadas. O profissional entendeu o afastamento. Realizaremos atividades pedagógicas e outras oficinas. Para nós, tão importante quanto o desempenho nos boletins, é formar cidadãos de bem, que respeitem as diferenças, de todo tipo”, garantiu o diretor da unidade, Pedro Flexa.

Pedido de retratação

A decisão de demitir o professor veio depois de um manifesto de repúdio divulgado pela Federação Israelense do Rio. Na nota, a entidade solicitou imediata retratação da instituição de ensino.

“A direção da unidade permitiu que realizássemos atividades didáticas no local. Levaremos vítimas do holocausto para dar esclarecimentos aos alunos e muçulmanos que vivem no estado de Israel para deixar claro que os atos do governo não retratam, necessariamente, o sentimento de um povo”, disse o presidente da Fierj, Jayme Salomão.

De acordo com ele, o professor João Gabriel Monteiro será acionado judicialmente. O professor não foi encontrado pela reportagem. A psicopedagoga da PUC-Rio Marta Relvas criticou a elaboração da questão. “O papel do mestre é estimular cérebros de forma cognitiva e não gerar conflitos. Toda intolerância é movida por falta de conhecimento,preconceito”, diz ela.

Conflitos têm mais de 100 anos

A questão, de acordo com o diretor do Departamento de Relações Internacionais da Uerj, Willians Ginçaves, retrata uma injustiça histórica. “O povo judeu não pode ser responsabilizado desta maneira. Nem todo morador de Israel tem essa origem”, salienta.

Os conflitos entre israelenses e palestinos se intensificaram no início do século 20. Com o fim da Primeira Guerra, a região que formava o império turco otomano foi desmembrada e permaneceu sob o controle da Inglaterra. Em 1948, a ONU determinou a criação de um estado judeu e de um estado palestino na região. Recentemente, ofensiva militar israelense contra palestinos em Gaza deixou mais de 2 mil mortos.

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