Por adriano.araujo

Rio - De ascendência síria, o jovem Yan Jamil Aby Hacan, 19 anos, não imaginou que uma compra numa loja da telefônica Vivo, na Barra da Tijuca, terminaria num processo judicial por dano moral. A história, que agora está na 2ª Vara Cível de Santa Cruz, começou quando Yan fechou com uma vendedora um pacote de plano de celular com acesso à internet. Ao sair do estabelecimento, ele foi conferir o Termo de Adesão e Contrato. Sua surpresa foi descobrir que, no espaço para contato, estava escrito “Bode do Mulsumano” (sic).

“Quando falei meu nome, a vendedora riu, mas não imaginei o que iria acontecer. Já passei por constrangimentos, porque acham meu nome estranho. Só que nunca fizeram isso comigo. Quando olhei o documento, não acreditei no que estava escrito”, afirmou o rapaz. Ele trabalha como vendedor num shopping e, ao contrário do que sugere o termo no contrato da Vivo, ele não é muçulmano, seguidor da religião Islã.

O jovem, que tem o avô paterno sírio, entrou com ação judicial indenizatória contra a empresa de telefonia.

Yan Jamil Aby Hacan%2C 19 anos%2C entrou com ação na Justiça contra empresa de telefonia%3A ‘Não acreditei’Cacau Fernandes / Agência O Dia

Para o presidente do Conselho Superior dos Teólogos e Assuntos Islâmicos do Brasil, o sheik Khaled Taky El Din, este tipo de episódio revela uma falta de informação das pessoas sobre a religião muçulmana. “Elas escutam uma propaganda negativa e, sem conhecer, ficam repetindo. Assim como em outras religiões, que devem ser respeitadas, seguimos os mandamentos de paz e igualdade”, afirmou o sheik. Ele disse, ainda, que o conselho tem feito um trabalho para esclarecer a população sobre o islamismo. Livros sobre o assunto são distribuídos no Rio de Janeiro e outras regiões. “Não se pode xingar, nem rir de alguém por causa da religião que ela segue, independentemente de qual seja”.

Os seguidores do Islã são cerca 1,3 milhão de fiéis no mundo. Em 2012, a presidenta Dilma Rousseff, durante discurso, em Nova York, na abertura da 67ª Assembleia Geral das Nações Unidas, repudiou o preconceito contra a religião muçulmana e também a onda de ataques às representações diplomáticas dos EUA, depois da exibição de um filme anti-Islã. “(...) registro neste plenário nosso mais veemente repúdio à escalada de preconceito islamofóbico em países ocidentais”.

Audiência não chega a conciliação

Uma audiência sobre o caso foi realizada no último dia 2, mas não houve conciliação entre Yan Jamil Aby Hacan e a empresa telefônica.

A advogada Eliane Coelho Souza, que faz a defesa de Yan, pede indenização de R$ 80 mil. “Não teve nenhuma proposta de acordo com a Vivo. Este valor que pedimos fica a critério do juiz. É ele quem determina o que deve ser pago”, explicou ela.

Em nota, a assessoria de imprensa da Vivo informou que o caso ainda está sendo tratado no âmbito judicial, sem decisão final até o momento e que a “operadora está fazendo uma apuração mais detalhada sobre o tema a fim de investigar eventual problema interno que tenha ocorrido”.

A empresa também garantiu que “cumpre estritamente as normas legais do direito do consumidor e demais regulamentos da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) quanto à prestação regular de seus serviços de telefonia.”

Em seu despacho, o juiz André Souza Brito diz que a ré ( Vivo) afirma que os fatos “não merecem prosperar, tendo em vista a comprovação dos autos e ausência de respaldo jurídico”.

Você pode gostar