Rio - O confronto que vitimou quinta-feira o capitão Uanderson Manoel da Silva, comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Nova Brasília, no Complexo do Alemão, confirmou a resistência do tráfico em permanecer em alguns territórios ocupados pela polícia. Mais que enfrentar os agentes da lei, os bandidos têm buscado alternativas para manter seu lucrativo ‘negócio’ de vendas de drogas a salvo da repressão policial.
Nos últimos meses, algumas das 40 comunidades com UPPs registraram episódios de tiroteios que assustaram moradores, feriram inocentes e colocaram a polícia em alerta. O mais recente aconteceu ontem durante uma operação no Morro do Turano, na Tijuca, área com UPP. Drogas foram apreendidas e ninguém ficou ferido, ao contrário de terça-feira, quando um policial da UPP da favela, identificado como soldado Adriano, foi baleado na panturrilha em troca de tiros com traficantes. Ele teve alta sexta-feira do Hospital Central da PM.
Enquanto alguns criminosos preferem o embate para se impor, outros apostam em táticas como as ‘bocas itinerantes’. São criminosos que carregam as drogas em mochilas e sacolas, para não ser presos. Outra estratégia, como O DIA mostrou em julho, é colocar menores armados na linha de frente, para atacar PMs e bases de UPPs.
Segundo relatos de policiais, a maioria das quadrilhas nas comunidades em processo de pacificação é formada por pessoas que não têm antecedentes criminais, nem mandados de prisão. “A gente sabe que eles estão envolvidos, mas se não tiver flagrante, não tem como prender”, conta um policial da UPP São Carlos. “Esses criminosos são comandados pelos chefões do crime, que agora dão ordem de fora da favela para não ser capturados.”
Outro militar, que trabalha na Rocinha, reconhece que as UPPs reduziram a exibição de armas pelos bandidos, mas não significa que o armamento tenha deixado o local. “Ninguém vê mais bandido com fuzil na mão, mas as armas estão lá, tanto que são apreendidas pela polícia. Não existe mais paiol ou refinaria de drogas como antes. Eles trazem de fora e vendem pequenas quantidades de cada vez, sempre disfarçados para escapar do cerco”, afirma.
No Alemão, a quadrilha da Nova Brasília é a mais resistente. Foi alvo de várias operações que culminaram na prisão de traficantes. Audaciosos, já atiraram até contra as sedes da delegacia e UPP locais. O secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame garante que os episódios de violência não vão fazer o processo de pacificação retroceder. “Isso só legitima nossa presença e, sem dúvida, temos que descobrir todos os dias métodos para trabalhar em lugar onde o policial fica muitas vezes exposto”, afirma.
Moradores e PMs com medo
Após a morte do comandante da UPP Nova Brasília, a PM informou ter reforçado com 300 homens o policiamento na área. Porém, uma equipe do DIA esteve na tarde deste sábado na entrada da favela, na Avenida Itaoca, e encontrou as ruas sem policiamento. A assessoria da PM disse que a área não pertence ao patrulhamento da UPP local e sim do 16º BPM (Olaria), e que uma viatura da UPP está fixada no trevo entre as Avenidas Itaoca e Itararé, distante a poucos metros da antiga fábrica da Coca-Cola.
Os recentes confrontos em comunidades com presença de UPP têm causado temor entre policiais e moradores. “Muitos colegas temem circular sozinhos depois de certo horário. Andamos em grupo para ter mais segurança. Acreditamos que conseguiremos cumprir nossa missão e oferecer uma chance de vida melhor para quem vivem aqui”, afirmou um tenente que trabalha no Alemão.
Ouvidos pelo DIA, alguns moradores disseram até que pretendem vender suas casas para morar em outros locais. Nascido e criado na Rocinha, o professor Paulo Santos, 30 anos, comparou o clima na favela antes e após a implantação da UPP. “Sou contra o tráfico, mas estamos nos sentindo inseguros com esses confrontos. Muita gente está indo embora, e eu também pretendo sair quando tiver condições”, afirmou.