Por thiago.antunes

Rio - A presença de uma Unidade de Polícia Pacificadora dentro de uma escola na comunidade Nova Brasília, no Complexo do Alemão, causou indignação entre especialistas. Nesta quinta-feira O DIA publicou com exclusividade uma fotografia que mostra um policial militar exibindo fuzil no pátio da Escola Theophilo de Souza Pinto. A imagem foi feita na noite do dia 10 deste mês.

Maria Teresa Aquino, professora de psiquiatria da Uerj classificou a presença de uma base de UPP dentro do colégio como “um equívoco lamentável, perigoso e sem precedentes”. “A escola, infelizmente, sempre é vista pelos governantes como a ‘casa da mãe Joana’, onde tudo pode. E acham isso normal, o que é pior”, comentou a pesquisadora.

Presença de PMs armados em escola no Alemão é condenada por educadores e pelo sindicato de professoresDivulgação

Segundo ela, homens armados nos arredores e, principalmente, no interior de uma unidade de ensino, só trazem prejuízos, tanto emocionais, quanto educacionais. “Ninguém ensina ou aprende nada num ambiente de constante medo e tensão. A escola vira uma trincheira, como numa guerra, servindo ora de abrigo para bandidos, ora para a polícia. Numa guerra, dificilmente alguém explode ou fuzila uma escola. Mas e balas perdidas? E seu entorno?”, compara Maria Teresa.

Eduardo Alves, sociólogo e um dos diretores do Observatório de Favelas, também critica. “Independentemente de ser contra ou a favor de UPPs, manter um grupo militar com toda sua ostensividade de armas no terreno de uma escola simplesmente é um absurdo. Coisa totalmente sem lógica, sem noção alguma”, avaliou o sociólogo.

O Sindicato dos Profissionais de Educação do Estado (Sepe) recebeu denúncias ontem de que a direção da escola estaria pressionando professores e funcionários de apoio com o objetivo de descobrir quem fez a foto e a divulgou. A direção do colégio nega esta acusação, mas o sindicato adiantou que vai denunciar o caso. “Nós vamos denunciar essa pressão e os riscos que aquela comunidade escolar está correndo ao Ministério Público e à Anistia Internacional”, afirmou a diretora do Sepe, Marta Moraes.

Lúcia Cabral, coordenadora do Centro de Referência dos Direitos Humanos do Complexo do Alemão, por sua vez, adiantou que os integrantes da entidade vão enviar carta, com cópia da reportagem veiculada ontem, para a Secretaria Especial de Direitos Humanos. “Há um bom tempo a comunidade tenta desenvolver ações para a retirada da UPP de dentro do colégio, mas o estado sempre intervém”, comentou.

O pai de um aluno, que não quis se identificar, disse que pensa em tirar o filho da escola. “Por causa da tensão diária, o menino está até ficando doente. Ele tem muitos pesadelos”, comentou. Mesmo diante das críticas de educadores e especialistas no assunto e dos apelos de pais de alunos, o comando da UPP local e a Secretaria de Estado de Educação informaram ontem, por meio de nota, que vão manter o aparato militar instalado lá.

Coronel da PM debate o assunto com direção do colégio

A assessoria das UPPs informou que o tenente coronel Fábio da Rocha Bastos Cajueiro, comandante da 3ª Área de Polícia Pacificadora (APP), composta pelas unidades das regiões de Manguinhos, Alemão e Penha, esteve ontem na Escola Theophilo de Souza Pinto e conversou com diretores.

Em nota, a PM informou que “nenhum problema de tiroteio durante o período escolar ou de risco para os profissionais que trabalham no local e os alunos foi relatado ao oficial. A tropa da UPP está orientada a proteger o local onde está abrigada, inclusive, uma base comunitária da própria unidade” e que a integração entre a polícia e os moradores é o principal objetivo das UPPs.

De acordo com a explicação da PM, “se não há risco para que essa convivência harmoniosa entre eles aconteça, os policiais continuarão prestando seus serviços, inclusive, aos estudantes que utilizam aquele espaço”. A Secretaria de Estado de Educação reafirmou ontem, também em nota, que “a presença da unidade de polícia não trouxe danos ao colégio”.

Segundo a secretaria, as reclamações em relação ao assunto “não representam a posição da maioria dos professores e alunos”. A pasta alegou que o descontentamento em relação à situação estaria partindo apenas de um professor ligado ao Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação.

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