Por bianca.lobianco

Rio - O Ministério Público Federal pediu, nesta sexta-feira, decretação de estado de calamidade pública no Rio de Janeiro por conta da falta de água que algumas cidades já vem sofrendo em todo o estado. O pedido está em uma segunda ação civil pública ajuizada contra o acordo realizado pela União e os estados do Rio, Minas Gerais e São Paulo, que autoriza a redução do volume do rio Paraíba do Sul para abastecer cidades de São Paulo. 

O MPF de Campo dos Goytacazes diz que o acordo já causa falta de água em municípios fluminenses.  Segundo a ação, o “rio Paraíba do Sul é a única fonte de abastecimento de água para a população do Rio, neste caso mais de 12 milhões de pessoas”.

O MPF pede que a Agência Nacional de Águas (ANA) anule a redução do volume do rio Jaguari, afluente do Paraíba do Sul. A ação ajuizada pede ainda que a União e o Ministério do Meio Ambiente decretem estado de calamidade hídrica nas cidades banhadas pelo rio pelos próximos dois anos. O MPF também pede um novo plano de educação ambiental e outro de recursos hídricos. Em caso de descumprimento, a ação sugere multa diária aos réus de R$ 50 mil. 

SP pode provocar colapso no abastecimento de água do Rio

Mais de doze milhões de moradores de 26 municípios fluminenses poderão ficar sem água no final de outubro. O risco de colapso no abastecimento de água em cidades do Rio e São Paulo é um alerta do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), caso o governo paulista continue represando volumes do Rio Jaguari,um dos afluentes do Rio Paraíba do Sul, acima do permitido pelo governo federal.

MPF pede decretação de estado de calamidade pública no Rio por conta da falta d'água em 17 municípios fluminensesHelen Souza / Folha da Manhã / Agência O Dia

Segundo informação obtida pelo DIA , no dia 28 de outubro, as cidades do Norte e Sul Fluminense, incluindo Região Metropolitana e Baixada, sofreriam o problema caso a estiagem no Sudeste continue. Para evitar a crise no abastecimento, São Paulo deve triplicar o volume de vazão do Jaguari para o Paraíba do Sul dos atuais 10 metros cúbicos (m³/s) por segundo para 30 m³/s. O nível antes da crise era de 40 m³/s.

“A questão central não é o risco de faltar energia elétrica no Rio, mas a possibilidade bastante grande de desabastecimento de água nas cidades do Rio e São Paulo”, ressalta o diretor-presidente da Agência Nacional das Águas (ANA), Andreu Guillo.

Um ofício do Instituto Nacional do Ambiente (Inea) à ANA e Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) confirma a apreensão das autoridades. No documento, declara uma “profunda preocupação” com a segurança hídrica dos 17 municípios fluminenses que dependem exclusivamente do Paraíba do Sul. A justificativa do governador Geraldo Alckmin é que a vazão precisa ser mantida para abastecer o município de Santa Isabel, que correria o risco de ficar sem água. Técnicos da ANA, porém, não constataram nenhum problema nos reservatórios da cidade, de 50 mil habitantes.

De cada 10l captados, 4l se perdem

O drama da falta d’água enfrentado hoje pelos paulistanos será o de amanhã para os fluminenses se, até março, nada for feito para recuperar o volume dos reservatórios do Sistema Cantareira que abastece São Paulo. “Se nos próximos sete meses, o abastecimento não for normalizado pelas chuvas, a crise será no Rio”, alerta Hélio Vanderlei, gerente de Políticas Públicas da Ong Onda Verde.

Segundo ele, tanto Rio quanto São Paulo não montaram plano B para não depender exclusivamente do Guandu e do Cantareira. “São Paulo deveria ter racionado o consumo de água há um ano. O Rio também terá que fazer”, advertiu o ambientalista, lembrando que, de cada 10 litros captados no Rio, quatro ficam pelo caminho. As populações mais afetadas serão as do Sul e do Norte Fluminense. “É como uma mangueira com 100 litros d’água. Quando diminui o volume, alguém na ponta vai ficar sem”.


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