Por thiago.antunes

Rio - Dois vendedores ambulantes foram baleados e pelo menos outros dez ficaram feridos com cassetetes no final da tarde desta sexta-feira, durante uma confusão envolvendo camelôs e guardas municipais, na esquina das ruas Uruguaiana e Senhor dos Passos, no Centro, na calçada do Mercado Popular, o Camelódromo.

Objeto prata seria uma pistola%2C com a qual agente teria feito disparosDivulgação

Os tiros, de pistola, teriam sido disparados por um dos agentes, Fernando Perpétua da Cunha, embora a corporação seja proibida de usar armas de fogo. Em nota, o comando da GM informou que o suspeito  foi imediatamente identificado e levado à 4ª DP (Praça da República). Ele foi preso por não ter porte da arma, que tinha registro.

Fernando foi autuado em flagrante por tentativa de homicídio, porte de arma e disparo de arma de fogo. Com ele, foi apreendida uma pistola 380. Segundo a Polícia Civil, testemunhas estão sendo ouvidas e os agentes aguardam a liberação médica das vítimas para que elas prestem depoimento. 

O guarda municipal seria o mesmo que aparece armado com uma pistola prateada numa foto feita pelos camelôs. As vias chegaram a ficar fechadas por mais de uma hora na região durante o conflito.

Segundo Carlos Alberto de Oliveira, de 38 anos, que tem um box de venda de brinquedos eletrônicos no local, o tumulto começou quando, por volta de 17h15, um guarda municipal interferiu num bate-boca entre um casal.

Discordando da intromissão do agente, o homem discutiu e entrou em luta corporal com o guarda, que teria sacado a pistola e efetuado dois disparos. Os projéteis acabaram atingindo outros dois ambulantes que estavam próximos.

Iago de Oliveira Gonçalves, 21, levou um tiro no braço, e Faguiane dos Santos, 36, na perna. Ambos foram atendidos no Hospital Souza Aguiar, mas não correm risco de morrer. Dois guardas municipais também foram atendidos com ferimentos leves, provocados por paus e pedras atirados por ambulantes. Os guardas reagiram com o uso de cassetetes e spray de pimenta. A corporação pediu reforço do Batalhão de Choque, que dispersou os manifestantes. O caso será investigado pela 5ª DP (Mem de Sá), que solicitou as imagens captadas pelos ambulantes para a identificação dos envolvidos.

Acesso à estação do Metrô foi fechado e microônibus depredado

Indignados com a ação dos guardas municipais, os ambulantes depredaram um micro-ônibus da corporação e ameaçaram fechar a Av. Presidente Vargas. Por segurança, a concessionária Metrô Rio fechou o acesso à estação Uruguaiana por 29 minutos. À noite, o clima era tenso na região.

Em nota, o comando da Guarda Municipal alegou que “uma equipe de quatro guardas foi cercada e atacada por um grupo de ambulantes que atua nas proximidades da Rua Uruguaiana, durante patrulhamento de rotina, depois que os guardas tentaram apartar a briga de um casal”.

Os boxes do Mercado Popular%2C o Camelódromo da Uruguaiana%2C fechados%2C ontem%2C depois do enfrentamento entre camelôs e agentes da Guarda Municipal%3A briga de casal foi estopimJoão Laet / Agência O Dia

O texto ressalta que um reforço da própria GM foi acionado para controlar a situação. “Durante o conflito, um ônibus e uma van da corporação foram apedrejados. Há registro de quatro guardas com ferimentos leves, atendidos no Souza Aguiar”, destaca.

A GM-Rio considerou que a ação violenta dos ambulantes “foi uma represália às operações feitas recentemente pela Secretaria municipal de Ordem Pública e GM contra o comércio irregular e a desordem urbana na região”. “A Guarda Municipal condena a atitude do guarda e iniciou imediatamente processo para demiti-lo”, adianta ainda outro trecho da nota. “Os guardas municipais sempre agem com violência contra nós, mas usar arma de fogo é demais”, lamentou Juscelir Prates, 37.

Na quinta, camelô e PM se enfrentaram em São Paulo

O conflito entre guardas municipais e camelôs no Rio ocorreu um dia depois que, em ação semelhante de combate ao comércio irregular, policiais militares entraram em confronto com ambulantes em São Paulo, matando a tiros um deles, na quinta-feira.

Guardas municipais dispersam multidão na via%2C que ficou fechada por quase uma horaJoão Laet / Agência O Dia

O episódio ocorreu no bairro da Lapa, na Zona Oeste da capital paulista. Durante a confusão, um trio de policiais imobilizava o vendedor de CDs piratas Isaías Brito, de 27 anos, quando um outro, de nome Carlos Augusto Muniz Braga, 30, tentou puxar o spray de pimenta da mão do PM, que reagiu, atirando na cabeça dele. Carlos Augusto, que também vendia CDs, foi levado para um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no início da noite de quinta-feira.

A morte do camelô provocou onda de revolta de colegas da vítima, que protestaram bloqueando ruas da região, incendiando entulhos. Policias da Força Tática da PM paulista reagiram com bombas de efeito moral. Identificado também por vídeos de celular, o PM acusado do assassinato, cujo nome não foi divulgado, foi preso. Ele foi indiciado por homicídio doloso — quando há a intenção de matar.

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