Por thiago.antunes

Rio - O soldado Rodrigo Paes Leme tinha 33 anos quando foi assassinado com dois tiros no peito, em março. Tinha três filhos, sonhos e morreu exercendo a profissão que amava: era integrante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Nova Brasília, no Complexo do Alemão. Na outra ponta do confronto que tirou a vida do agente, estava G. Com apenas 16 anos, já ocupava o posto de gerente do tráfico e acumulava acusações por ataques à sede da delegacia, UPP e incêndios criminosos a ônibus.

Armado com uma pistola, G. não titubeou ao dispará-la na direção do soldado Paes, assim como fizera em outros ataques a agentes da lei, apontam as investigações que culminaram na apreensão dele durante megaoperação quinta-feira. 

O promotor e o ex-delegado da 45ª DP (Complexo do Alemão), que comandaram o inquérito contra a quadrilha do conjunto de favelas, são unânimes ao afirmar que o fato de G. ser um dos acusados pela execução do PM e ter assumido, com tão pouca idade, o posto de gerente da venda de drogas é a prova concreta de que a atuação de menores na linha de frente do tráfico é cada vez mais usual e preocupante, como O DIA revelou em julho.

Operação conjunta da Polícia Civil e Ministério Público capturou 21 acusados de envolvimento com o tráfico do Alemão%2C além de 4 menoresOswaldo Praddo / Agência O DIA

“O G. é um dos mais violentos do bando, sanguinário. Ele estava sempre armado e em todos esses ataques orquestrados pelo tráfico. Não temos dúvida sobre a participação dele na morte do policial Paes Leme”, afirmou o delegado Felipe Curi, responsável pelas investigações que ainda apreendeu outros três adolescentes e prendeu 21 acusados de integrar o tráfico do complexo.

“As investigações mostraram que o tráfico está angariando menores cada vez mais cedo e que estes alcançam mais rápido os postos altos no crime. Há escutas telefônicas que mostram eles comemorando o fato de terem acertado os policiais. Como promotor e ser humano, é chocante ver uma vida ser destruída assim tão cedo”, lamentou o promotor Fábio Miguel de Oliveira, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público.

Após a ação, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, voltou a pedir mudanças na legislação, principalmente quanto ao menor de idade, e ações conjuntas com o Ministério Público e a Justiça.

Venda de drogas

A denúncia do Gaeco mostra ainda gravações telefônicas onde fica claro que G. era o responsável direto pela venda de drogas como maconha e cocaína, em determinada região do Alemão. O adolescente foi encaminhado à 9ª Promotoria de Justiça de Infância e Juventude da Capital, que vai decidir sobre a medida sócio-educativa aplicada ao menor. Para a família de Paes Leme, restam a dor e a saudade. “Daria tudo para poder olhar em seus olhos e dizer que amo você”, desabafou a filha do PM, de 12 anos, ao enterrar o pai.

Índice recorde em 4 anos

O recrutamento cada vez mais frequente de menores para atuar na linha de frente do tráfico, é uma das explicações para o índice tão absurdo de menores apreendidos na criminalidade. Em 2009 (primeiro ano completo de instalação das Unidades de Polícia Pacificadoras), foram apreendidos 1.427 adolescentes de janeiro a agosto. Nesse mesmo período de 2014, a estatística saltou para 4.990, um aumento de mais de 249%. Somente no Complexo do Alemão, alvo da operação da semana passada, 21 jovens foram apreendidos no primeiro semestre deste ano.

“O resultado dessa operação evidencia o que vínhamos dizendo que o tráfico do Complexo do Alemão, vem usando cada vez mais menores como ferramenta de trabalho”, afirmou o coronel Frederico Caldas, coordenador das UPPs.

Para o promotor Fábio Miguel de Oliveira, são necessárias várias mudanças para evitar que jovens como G. se percam no crime. “O fato de os menores ficarem pouco tempo internados, influência bastante na escalação deles pelo tráfico. Por outro lado, as instituições, ao invés de proteger, são verdadeiros presídios, de onde os adolescentes saem piores. É preciso um trabalho de resgate para que os jovens não virem traficantes”, defendeu.

Você pode gostar