Por adriano.araujo
Elizângela foi encontrada agonizando na Estrada do ItitiocaReprodução

Rio - Dois suspeitos de participação no aborto que resultou na morte de Elizângela Barbosa, de 32 anos, há pouco mais de uma semana em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, foram presos na noite desta segunda-feira.

Segundo o delegado Wellington Vieira, da Divisão de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI), os presos são Ligia Maria Silva, apontada como a líder do grupo e com participação no aborto, e Rildo José Medeiros dos Anjos, enfermeiro que levou Elizângela até a clínica clandestina, que ficava numa casa no bairro Sapê.

Os dois presos prestaram depoimento ainda na noite de ontem na DHNSGI, que realizou as prisões. Contra eles foram cumpridos mandados de prisão temporária de 30 dias, pelo crime de homicídio

Ainda de acordo com a polícia, os investigadores ainda procuram outras duas pessoas suspeitas de integrar a quadrilha que realizava abortos de forma ilegal na região.

Abandonada em estrada

Elizângela foi deixada pelo marido, o pintor industrial Anderson Santos da Silva, 27, e os três filhos do casal, na Estrada da Tenda, na periferia de São Gonçalo, por volta de 8h de sábado. Ali ela se encontrou com um homem que a levaria a uma clínica clandestina no Sapê, em Niterói. Porém, às 22h de domingo, ela chegou morta ao Hospital Estadual Azevedo Lima.

Segundo o delegado substituto da DH-Niterói, Adilson Palácio, o proprietário de um Gol branco prestou depoimento informando que trafegava com o carro pela Estrada de Ititioca, no bairro de mesmo nome, em Niterói, quando um bando o mandou parar. Ele foi obrigado a levar Elizângela, que agonizava na beira da via, para o Hospital Azevedo Lima.

CASO JANDYRA: Família de jovem morta ao fazer aborto exige justiça

“Depois do aborto malsucedido, Elizângela foi abandonada na estrada ainda com vida. Traficantes da região, com medo de que a polícia suspeitasse que ela teria sido vítima deles, mandaram que o motorista a levasse ao hospital”, afirmou o delegado Palácio. Segundo o policial, além de Elizângela ter chegado ao hospital com sinais de forte sangramento vaginal, exame de necropsia detectou até um tubo de plástico dentro do seu útero.

Anderson revelou, em seu depoimento, que Elizângela já havia tentado, em vão, abortar em casa, com medicamentos, há pouco mais de três meses. “Ela não queria o quarto filho, e isso foi até motivo de discussão entre nós. Ela queria arranjar emprego. Mas, grávida, não conseguia”, alegou o pintor, que poderá responder como coautor do crime.

No sábado, Elizângela saiu de casa com R$ 2,8 mil para fazer o aborto e se encontrou com o desconhecido que a levaria até a clínica. Duas horas depois, ligou para o marido, dizendo que precisava de mais R$ 700. Até o final da tarde de domingo, o contato entre os dois passou a ser por mensagens de celular. Às 17h50m de ela voltou a ligar, dizendo que estava terminando o último procedimento e pedindo que o marido ligasse em 40 minutos. Mas Anderson não conseguiu mais contato. Às 23h, Cosme Barbosa, irmão da vítima, foi avisado pelo hospital que Elizângela havia chegado sem vida à emergência da unidade.

Laudo aponta perfurações no útero

O delegado Adilson Palácio, da Divisão de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI), informou que o laudo sobre as causas da morte de Elizângela Barbosa, 32 anos, aponta perfurações no útero e no intestino da vítima. O exame do Instituto Médico Legal (IML) concluiu que as lesões foram causadas durante o procedimento de aborto feito em Elizângela.

Na casa onde foi realizado o procedimento, os agentes recolheram colchão e almofadas com mancha avermelhada que seria sangue de Elizângela. Roupas íntimas também foram apreendidas para serem periciadas. Dois dias antes, policiais recolheram medicamentos — alguns de uso veterinário —, material para desinfecção e um computador.

Você pode gostar