Por thiago.antunes

Rio - Traficantes de drogas promoveram nesta quarta-feira ataques contra militares e queimaram ônibus, espalhando uma onda de violência em vários pontos do Rio e Niterói. Uma das ações mais audaciosas foi a fuga de bandidos que tentaram invadir duas comunidades do Complexo da Maré pela pista lateral da Av. Brasil, trocando tiros com rivais em plena luz do dia.

Militares do Exército apontam armas para a favela para dar cobertura a policiais militares que correm pela Av. Brasil%2C ao lado de veículos que ficaram presos no tráfegoJoão Laet / Agência O Dia

A mais importante via expressa do Rio, num horário de intenso movimento, teve o trânsito interrompido por tanques do Exército para garantir a segurança de quem circulava ali. Três suspeitos de participar desta ação foram presos. À noite, um coletivo foi queimado em área nobre de Niterói, em represália à morte de dois jovens.

O governador Pezão se reúne na manhã desta quinta com o secretário de Segurança José Mariano Beltrame para tratar dos últimos atos de violência da cidade.

O principal atentado desta quarta aconteceu pouco antes das 15h. Como O DIA noticiou há duas semanas, traficantes do Complexo do Caju tentam retomar o controle da venda de drogas nas comunidades Vila do João e Conjunto Esperança, ambas na vizinha Maré. Com apoio de criminosos do Morro da Pedreira, em Costa Barros, bandidos tentaram nova investida na quarta à tarde. Armados com fuzis e pistolas, o bando acessou as comunidades, mas foi recebido a tiros pelos rivais. Os disparos chegaram à Av. Brasil, o que gerou pânico e fez motoristas tentarem sair do local na contramão.

Em plena Avenida Brasil%2C motoristas fugiram pela contra-mão do confronto entre traficantesReprodução

O bando invasor fugiu pelo Canal do Cunha, uma área de mangue ao lado da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os tiros fizeram com que funcionários da instituição fossem liberados antes do fim do expediente. Em nota, a Fiocruz negou a tentativa de invasão. Com a Força de Pacificação do Exército ocupando a via expressa, policiais do 4º BPM (São Cristóvão), da UPP Caju e de unidades de elite da corporação fizeram cerco na região.

Acionados por testemunhas que viram a quadrilha invadir uma empresa de transportes próxima ao Canal do Cunha — o bando foi flagrado por câmeras de segurança —, os PMs da UPP prenderam os fugitivos Leandro da Silva de Campos, Wallace Marcelino e Edson Ribeiro Roque. Eles tentaram obrigar um motorista da firma a ajudá-los na fuga. Os outros traficantes conseguiram escapar.

Os criminosos, que escaparam pelo mangue, estavam sujos de lama. Na delegacia, o trio confirmou que é do Morro da Pedreira. A polícia já sabe que as tentativas de invasão na Maré são executadas por ordem de Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, chefe do tráfico na Pedreira.

Segundo a polícia, os bandidos entram pelo Caju, que é da mesma facção Amigos dos Amigos (ADA), e atravessam o Canal do Cunha em barcos de pescadores para acessar a Maré. Com os presos, foram apreendidos dois fuzis, duas pistolas, carregadores e munição.

GALERIA: Operação deixa mais de 12 mil sem aulas

Morte de dois jovens gera revolta em área nobre

A morte de dois jovens do Morro do Cavalão, que fica entre Icaraí e São Francisco, fez com que criminosos levassem pânico a endereços nobres de Niterói, no início da noite de ontem. Um ônibus da linha 38 (Itaipu-Terminal) foi incendiado na Rua Joaquim Távora. De acordo com informações obtidas pelos policiais militares, cerca de 15 menores mandaram todos os passageiros saírem do ônibus e atearam fogo.  Uma barricada de fogo podia ser vista na entrada do Túnel Raul Veiga, que liga os bairros.

Também no início da noite um veículo com criminosos abordou pessoas que faziam churrasco na Avenida Rui Barbosa, em São Francisco e praticou assaltos. Apavorados, motoristas fugiram pela contramão, e o trânsito foi interrompido por duas horas. O reflexo do engarrafamento chegou à Ponte Rio-Niterói. O registro das duas ocorrências foi feito na 77ªDP (Icaraí). 

Ônibus foi queimado em Icaraí após morte de dois jovens durante ação policial no Morro do Cavalão. Túnel foi fechado devido ao tiroteioUanderson Fernandes / Agência O Dia

Segundo a PM, os jovens eram suspeitos de integrar o tráfico e entraram em confronto com os militares. O comandante do 12º BPM (Niterói), coronel Gilson Chagas, disse que criminosos desceram da mata no alto do morro, que foi cercado pela polícia. “Mobilizamos equipes com apoio de helicópteros para tentar prender os bandidos”. Na noite desta quarta-feira, boatos de que crianças haviam sido reféns em um colégio foram espalhados pelo aplicativo WhatsApp. Chagas mandou checar a informação logo que esta começou a ser espalhada, e constatou se tratar de boato.

Garotinho cancelou sua agenda

Clarissa justifica ausência do paiCarlos Moraes / Agência O Dia

O candidato ao governo do Estado do Rio pelo PR, Anthony Garotinho, teve duas agendas de campanha na Zona Oeste canceladas devido ao tiroteio na Maré, que fechou a Avenida Brasil. A previsão era de que no meio da tarde ele fizesse uma caminhada pelo Calçadão de Campo Grande e depois participasse de uma reunião com lideranças da região no Salão Colonial, mas ele não conseguiu chegar.

Por volta das 19h, Clarissa Garotinho, sua filha e candidata à deputada federal pelo mesmo partido, assumiu a liderança do encontro na Zona Oeste, que já reunia mais de mil de pessoas e justificou a ausência do pai: “Meu pai não vai poder vir. Não sei se vocês sabem, mas teve um tiroteio na Maré, e ele está preso lá na Av. Brasil e não consegue andar 300 metros.”

Confrontos e mortes

Complexo da Penha — Homem identificado como Peru morreu na noite de terça-feira após confronto com o Bope, na localidade Vacaria. Segundo policiais, o suspeito seria olheiro do tráfico e estaria com pistola e granada. Em represália, grupo de 60 bandidos e menores atacou com paus, pedras e garrafas as bases da UPP na Vila Cruzeiro e Merindiba, além de patrulha na Esquina do Pecado.

Complexo do Alemão — Também na noite de terça, houve confronto na Favela Nova Brasília. Um suspeito morreu e dois ficaram feridos. Ontem, PMs foram recebidos a tiros na localidade Prédios Novos.

Mangueira — Terça à noite, policiais da UPP encontraram uma criança e dois adultos baleados após confronto entre bandidos. O patrulhamento foi reforçado.

Água Santa — Suspeitos num Sorento abriram fogo ontem contra uma patrulha que interceptou o veículo na Rua Torres de Oliveira, na entrada do Morro do Dezoito. Os tiros atingiram duas viaturas e um adolescente de 17 anos, que passava no local. Bandidos fugiram para o morro.

Formiga — Revoltados com operação de repressão ao transporte irregular, mototaxistas fizeram protesto e queimaram um carro na Rua Conde de Bonfim. Com medo, comerciantes fecharam as portas. Houve conflito com policiais da UPP, mas sem registro de tiros.

Alerta em possíveis ataques a outras comunidades com UPPs

Os confrontos em várias regiões da cidade afetaram a rotina dos estudantes. De acordo com a assessoria da Secretaria Municipal de Educação, na Maré, 11 escolas, três creches e dois Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDIs) não funcionaram nos três turnos, deixando 8.283 alunos sem aulas. Contando com outras escolas, quase 12 mil ficaram sem escola.

A guerra de facções rivais na Maré se acirraram na semana passada. Informações passadas ao Disque-Denúncia (2253-1177) citavam ameaças de ataques na região e em outras áreas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Naquela semana, foram registrados confrontos no Lins de Vasconcelos, Mangueira, complexos da Penha e do Alemão, Tabajaras (em Copacabana).

As informações da polícia são de que, especificamente na Maré, o traficante Playboy quer retomar o reduto que o ADA perdeu para o Terceiro Comando Puro (TCP) em 2008. Desde então, várias tentativas de invasão foram feitas, mas a primeira depois da ocupação do Exército foi há duas semanas.

Ainda segundo alertas do Disque-Denúncia, traficantes também estariam preparando ataques na comunidade do Mandela II, em Manguinhos, e no Batan, em Realengo. Neste último, o plano seria reunir cerca de 50 bandidos e atacar a UPP local durante a madrugada. Os traficantes sairiam da Vila Vintém para reforçar o ataque. Sobre Manguinhos, o alerta de ataque foi feito ontem. Menores armados estariam sendo usados pelo tráfico em um plano de ataque à base da UPP no Mandela.

A polícia também atenta para informações de supostos alertas de ataques criminosos no dia da votação, domingo. Bandidos de diferentes facções estariam se articulando em redes sociais para uma ação contra seu pricipal alvo: as UPPs. No entanto, apesar dos recentes tiroteios, não foi confirmada nenhuma movimentação.

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