Rio - Foi desarticulada nesta terça-feira uma quadrilha especializada em abortos, em que alguns de seus integrantes realizavam esta atividade há mais de cinco décadas. Durante entrevista coletiva na Cidade da Polícia, o delegado Glaudiston Galeano, da Corregedoria Interna da Polícia Civil do Rio de Janeiro (Coinpol), classificou os médicos como "açougueiros".
GALERIA: Operação Herodes desmantela quadrilha especializada em abortos
"Esses lugares eram verdadeiros açougues humanos. Eles matavam como se tivessem matando bezerros. Alguns médicos viviam somente das clínicas de aborto e outros ainda clinicavam em outras regiões", disse.
Também participaram da coletiva o chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, os delegados da Coinpol, Adriana Mendes e Felipe Bittencourt, e o promotor do Ministério Público, Homero de Freitas. Na investigação que durou 15 meses, ficou comprovado que esses médicos agiam há décadas. Considerado um dos chefes da quadrilha, o médico Aloísio Soares Guimarães possui um registro de ocorrência do ano de 1962.
"A legislação é muito benevolente com esses criminosos. A gente quase é obrigado a dizer que vale a pena cometer esse tipo de crime, pois eles fazem isso há décadas", disse Fernando Veloso.
Carros de luxo, duas máquinas de sucção foram apreendidos. Na casa de Aloísio Soares, os policiais encontraram um extrato bancário no valor de US$ 5 milhões, que foi para uma conta na Suíça. Na ação desta terça, chamada de Operação Herodes, foram presas 56 pessoas. Desse total, cinco já estavam presas. O objetivo era cumprir 75 mandados de prisão e 118 mandados de busca e apreensão. Entre os presos, há cinco médicos, seis policiais civis, três PMs, um bombeiro, dois advogados e um sargento do Exército.
Médicos realizavam abortos em gestantes de sete meses
De acordo com o delegado Felipe Bittencourt, a diferença dessa investigação para as outras é que ao longo dos 15 meses, foi possível identificar toda a quadrilha e o modus operandi dela. Ao longo do inquérito, foi comprovado a participação de mais de 100 pessoas, mas muitos não ainda foram identificados.
A investigação aponta também que as clínicas eram independentes, não competiam entre si. Além disso, de 2011 a 2013, 37 vítimas denunciaram o esquema na polícia. Por isso, todas essas pessoas estão sendo indiciadas por 37 crimes. Entre esses 37 abortos, tinha mulheres já com sete meses de gestação, além de uma menina de apenas 13 anos.
"A Polícia Civil sai da lógica de sempre fechar clínicas. Esta é uma estrutura praticada há mais de 30 anos e todas as clínicas foram mapeadas e tem toda uma ramificação de envolvidos. O trabalho foi feito para colocá-los na organização criminosa", afirmou o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.
Na entrevista coletiva foi explicada como era a participação dos policiais civis e militares presos na operação. Os PMs trabalhavam fazendo a segurança das clínicas. Já os agentes da Polícia Civil dificultavam as investigações dentro das delegacias e tinham acesso a todas as informações que estavam sendo feitas sobre as clínicas.
De acordo com os policiais, eles trabalhavam em sete núcleos espalhados pela cidade e cobravam até R$ 7.500,00 por procedimento. Ainda segundo a investigação, a quadrilha realizou por volta de 2.500 abortos, com um lucro estimado de R$ 2,771 milhões. Nesta terça, foram apreendidos R$ 532 mil em espécie, entre reais e dólares. Há também apreensão de material, como medicamentos e documentos. Guilherme Estrela Aranha, Evangelista Pinto da Silva Pereira, Iracema Ferreira Piske, André Luiz da Silva, Aloísio Soares Guimarães e José Luiz Gonçalves são considerados os líderes da quadrilha.