Rio - Uma personal trainer que atende em domicílio, mas que recebe salário como funcionária comissionada do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ). Um luxo desfrutado pelo conselheiro Júlio Lambertson Rabello, que lotou no seu gabinete a professora de Educação Física Alessandra Pereira Evangelista. Diariamente, pela manhã, ela ‘bate o ponto’ na casa de Rabello, no Cosme Velho, onde atende ele e sua mulher. Chega por volta das 8h30 e fica cerca de duas horas à disposição do casal na academia que eles mantêm na casa. Depois, ela tem o restante do dia livre para atender outros alunos, como revelou em conversa com O DIA.
“Dependeria do horário que você tem de disponibilidade e de onde você gostaria de estar malhando (sic). De manhã, eu tenho um aluno fixo já, no primeiro horário. Até dez e pouca da manhã, eu estou presa (...). É o horário mais tranquilo para mim, este horário da tarde”, disse Alessandra, ao ser questionada pela repórter — que se passou por interessada em contratar os serviços de personal — se poderia ter aula às 15 horas ou 16 horas. A ligação foi feita na última sexta-feira. Nesta segunda, a professora foi procurada novamente, disse que estava com a filha no hospital e que não queria comentar sobre o assunto.
Alessandra foi nomeada para cargo de comissão de Assistente CCDAL5,como mostra o Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, do dia 21 de maio de 2010. O salário atual é de R$ 9.547,68, segundo o site do Tribunal de Contas. Mas, apesar da alta remuneração, ela amplia a renda com trabalhos extras. “O preço que vou ter que te dar é mais ou menos de acordo com o local (...), cada academia tem um sistema de trabalho, entendeu?”, explicou ela, para a repórter.
A assessoria do TCE foi procurada, mas se recusou a responder por escrito as perguntas enviadas por e-mail. Entre os questionamentos, estava se haveria algum tipo de punição para o conselheiro e se, além do salário, a professora de Educação Física recebe outros benefícios. Por telefone, a reportagem foi informada, pela assessoria, que Rabello afirmou que iria exonerar a personal trainer.
Ele também teria afirmado que Alessandra atende, de fato, a família, mas trabalha à tarde no órgão fiscalizador, o que não comprometeria sua função no Tribunal. Informação, no entanto, que contraria o que a própria professora disse à repórter. Também não foi esclarecido se o dinheiro usado para pagar a remuneração da personal será devolvido aos cofres públicos.
O nome de Alessandra aparece, inclusive, num despacho de 18 de julho deste ano, também do Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, em um grupo de funcionários que recebeu majoração (aumento) do auxílio de saúde, a contar de maio.
Não é a primeira vez que Rabello se vê envolvido em questões relacionadas a nomeações no seu gabinete. Em 2011, o nome dele esteve envolvido em uma investigação sobre funcionários fantasmas no TCE. Na ocasião, uma denúncia feita pela Procuradoria Geral da República resultou na Ação Penal 691. Nela aparecem também os nomes do presidente do Tribunal, Jonas Lopes de Carvalho Júnior, de Aluisio Gama de Souza e de José Gomes Graciosa. Em agosto deste ano, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou a denúncia, alegou que faltava “justa causa para ação penal”, e julgou “prejudicado pedido de afastamento dos denunciados de seus cargos”.