Por thiago.antunes

Rio - Na última década, o Estado do Rio intensificou os gastos na saúde, mas a área se mantém como um dos maiores desafios do próximo governante. Desde que a primeira UPA entrou em funcionamento, na Maré, em 2007, o número de atendimentos de emergência cresceu seis vezes. Subiu de três mil para 19,5 mil pacientes por dia — 17 mil apenas das Unidades de Pronto Atendimento. O programa já atendeu 3,6 milhões de pessoas em suas 57 unidades — 29 delas sob administração do governo estadual.

“Estamos provocando uma revolução na saúde”, comenta a subsecretária da pasta, Hellen Miyamoto. “Apostamos no binômio investimentos/planejamento. A criação das UPAs representa um marco, já que colocou o Rio de Janeiro novamente como idealizador de uma política pública de saúde referência para o Brasil.”

Faz sentido. Além do crescimento exponencial de assistências, a queda nas filas dos setores de emergência nos grandes hospitais refez a ordem das coisas no atendimento da saúde. “Hoje, só vai a hospital quem tem casos mais graves. Os que têm dor de garganta, mal-estar ou febre, por exemplo, procuram a UPA”, diz a assessoria de imprensa da secretaria.

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Há outros números superlativos na conta da administração pública. Os gastos do governo com a área obraram em seis anos: de R$ 1,8 bilhão em 2007 para R$ 3,7 bilhões em 2013. O número de médicos, também segundo a Secretaria de Estado de Saúde, saltou de 3.568, em 2000, para 7.267 este ano, com salários de R$ 5,8 mil a R$ 18 mil. Antes, os profissionais recebiam R$ 1.550.

O que é tratado como avanço, no entanto, também é questionado. O deputado Nílton Salomão (PT), da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa, acha que o próximo governador terá de rever o sistema de concessão da administração das UPAs aos municípios, que em quase todos os casos repassam a tarefa às OSs (Organizações Sociais). “Lá atrás demos um voto de confiança ao governo, ao aceitar a criação das OSs. Mas é preciso rever, pois elas podem permitir equívocos como a contratação de empresas sem experiência na área para administrar as UPAs”, diz Salomão.

A professora Deizy de Pariz Xavier, moradora de Belford Roxo, passou por maus momentos na UPA de Bom Pastor, administrada pelo município. Ao chegar com sua mãe, que sentia-se mal, descobriu que não havia médicos de plantão e teve de buscar socorro na vizinha Vilar dos Teles, em São João de Meriti. Lá, enfim, conseguiu atendimento. E gostou do que viu. A diferença? As duas não são administradas pelo estado, pois foram entregues aos seus respectivos municípios. Por seu relato, conclui-se que uma funciona bem, enquanto a outra deixa a desejar.

“As OSs têm se mostrado ineficientes e, mais do que isso, percebo que viraram uma oportunidade de os governos municipais, como o de Teresópolis, manipularem as UPAs”, acusa o deputado Nílton Salomão. Segundo ele, a prefeitura da cidade serrana contratou uma OS especializada em limpeza para administrar a sua UPA. “Ela foi criada um dia antes de sua contratação! É preciso uma autarquia ou fundação para o estado administrar estas UPAs”, diz.

O governo do estado lava as mãos. Responsável por 29 unidades, propôs a expansão da rede desde que as novas UPAs fossem entregues aos municípios. E apresenta a redução dos atendimentos de emergência nos hospitais públicos como um trunfo, já que separa casos graves dos mais simples, através do sistema de classificação de risco. Em 2007, foram 975.498 atendimentos nos hospitais, contra 620.591, em 2013.

Assistência básica subiu 18% no Rio

Outro fator que se destaca é a assistência prestada nas unidades básicas de saúde. Municipalizado, ele responde por 8.998.137 atendimentos em 2013, contra 7.635.191 em 2010, segundo cruzamento de dados disponíveis no site da secretaria. A construção das Clínicas da Família, foco do segundo período de gestão do governo, explica o crescimento.

“A opção pelo investimento na construção de Clínicas da Família, para entrega aos municípios, é o grande diferencial desse segundo período. As clínicas têm o foco na prevenção e no diagnóstico precoce”, afirma o secretário Marcos Musafir. Ao todo, 59 delas foram construídas nos últimos anos. Segundo ele, o atendimento básico ajuda a reduzir as filas nas emergências.

Sindicato critica, paciente elogia

Presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze critica a política de saúde dos últimos anos. “O governo alega que as UPAs desafogaram os hospitais. O que aconteceu é que se retiraram as filas imensas da porta dos hospitais, hoje degradados, passando-as para as UPAs. Tem gente que fica duas, três horas numa unidade até conseguir atendimento”, lamenta. Segundo ele, o Rio fechou 7.016 leitos entre 2005 e 2013.

Moradora da Rocinha, Érica Luz, historiadora de 22 anos, elogia o sistema com ressalvas. Com a filha Pérola, de dois meses, doente, procurou a UPA da Rocinha, mas descobriu que lá só há pediatra na quarta-feira. Correu então para a UPA de Botafogo, onde encontrou alívio para a bebê. Desde então, passou a buscar ajuda longe da favela. “Isso não é bom, mas pelo menos em Botafogo sou bem atendida”.

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