Por paulo.gomes

Rio - Cinco pessoas intoxicadas após comerem um peixe baiacu na última quarta-feira, em Duque de Caxias, tiveram alta na noite de quinta. De acordo com a nota oficial da Prefeitura de Duque de Caxias, os pacientes Paulo César da Silva, 48 anos, Maciel Rodrigues de Freitas, 29, e Adriana Fátima dos Santos, 34, e Anderson Lucas, 31 anos deixaram o Hospital Municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo. Já no Hospital Infantil Ismélia Silveira, o pequeno Cauan Gonçalves, de quatro anos, também foi liberado.

No entanto, o menino Guilherme da Silva Manoel, de quatro anos, e José Augusto de Souza, 41 anos, seguem internados em estado grave. Eles estão no Hospital Adão Pereira Nunes e Moacyr Rodrigues, respectivamente. Outras quatro pessoas seguem internadas com o quadro de saúde estável.

Clique na imagem para aumentar o infográficoFabio Gonçalves / Agência O Dia

A dona de casa Cristiane Maciel, 37 anos, esposa de José Augusto, afirmou que eles têm o costume de consumir o baiacu. “Ganharam dois quilos de peixe de uma vizinha, em filés variados, misturados num pote, e fizeram uma peixada regada à cerveja, num bar próximo. Em anos consumindo baiacu, nunca tínhamos visto pessoas gritando por socorro, no chão”, descreveu a dona de casa, enquanto se apegava a uma coroa de Iemanjá, a Rainha dos Mares.

A origem do pescado ainda gera polêmica. Segundo Cristiane, o marido teria dito que os filés provinham de uma pescaria feita por colegas, em águas próximas, e seriam presente da tia de Anderson Lucas. A mãe de Anderson, Maria José Bento, 52, por sua vez, nega que a comida tenha sido levada pelo filho. Dois relatos, no entanto, parecem confirmar que o grupo sabia que, em meio aos pescados, havia carne do peixe venenoso.

"Foi coisa de três mordidas e já estavam no asfalto, sem conseguir se levantar. Amigos os arrastaram para dentro de carros e os levaram para hospitais. Ninguém imaginava que o veneno fosse tão forte”, disse Maria José, que temia que o filho fosse criminalizado. “Se houvesse má fé, ele não teria comido”, argumentou. Segundo a assessoria da Polícia Civil, a 61ªDP (Xerém) não abrirá investigação, “por não ter havido crime ou coação” e porque a degustação foi por “livre e espontânea vontade”.

Em meio à dor e à agonia, amigos próximos e parentes comemoravam o fato de não terem participado da festança. “Estava a caminho do bar. Me atrasei um pouco. Mais alguns minutos e estaria à beira da morte, igual ao meu pai”, disse a filha de José Augusto de Souza, Thaynara Maciel, 18.

Parentes de uma das vítimas da intoxicação ficaram assustadas com a reação à ingestão dos filés de baiacuFabio Gonçalves / Agência O Dia

'A carne de baiacu é saborosa. Mas tem que saber limpá-la', Roberto Pimentel - Colunista de pesca de O DIA

A despeito do incidente com a família do subúrbio no Rio intoxicada (e a gente daqui torce para o pronto restabelecimento de todos) e da consequente onda a seguir de tentativas de demonização da espécie, é bom lembrar que o baiacu-arara tem uma legião de apreciadores por aqui.

Embora não seja comercializada em peixarias e redes de mercados, sua carne é bastante saborosa. Mas existe uma regra básica para o seu consumo, respeitada à risca tanto por pescadores artesanais como amadores: só comê-lo quando você mesmo o limpa ou quando o procedimento é feito à sua frente, pelo menos.

Sempre comi baiacu. À milanesa, com molho de camarão por cima, é de lamber os beiços. Não há quem resista. Não é à toa que o torpedo (como é chamado o baiacu-arara por aqui por pescadores esportivos) seja uma das iguarias preferidas dos japoneses, que têm nos frutos do mar o seu carro-chefe na culinária. Lá, o assunto é levado tão a sério que há cursos especializados em formação de limpadores de baiacus, com certificados e fiscalização rigorosa. Por aqui, os ensinamentos ficam retidos com os velhos pescadores, que os passam de geração a geração.

Mas, graças à internet, hoje, há vários sites que ensinam como limpá-lo. O perigo está em sua vesícula biliar, do tamanho de uma bola de gude, de tom esverdeado (veja na ilustração ao lado). É lá que está a tal toxina venenosa. Por isso, para um consumo sem sustos, quando da remoção de suas vísceras, é fundamental que essa bolinha de gude do mal esteja intacta. Quando há qualquer indício de vazamento, com a bolinha murcha, é bom esquecer o peixe e trocar rápido o cardápio.

Como o baiacu, há outras criaturas no reino animal marinho, como mariscos, ostras, cavalas, etc, que contêm toxinas prejudiciais ao organismo humano. Conhecer bem as espécies é o primeiro passo para uma alimentação saudável e prazerosa. Bom apetite.

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