Por felipe.martins

Rio - Ainda imune à estiagem prolongada que provoca transtornos no Sudeste, moradores da Região Metropolitana do Rio têm motivos para começar a se preocupar. Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), o nível dos reservatórios da Bacia do Rio Paraíba do Sul chegou, no final de setembro, a 12,9%. É o menor da história, segundo especialistas, que já alertam para a necessidade de consumo racional de água e investimentos para recuperar a bacia. A implantação de um racionamento não está descartada, mas a decisão só será tomada ao final de novembro.

A Bacia do Paraíba do Sul é composta pelas represas de Paraibuna, Santa Branca, Jaguari, Funil e Santa Cecília e é usada para abastecer a capital e municípios da Baixada, por meio de transposição para o Rio Guandu. Além disso, abastece outros 180 municípios, com uma população de 4,4 milhões de habitantes em São Paulo, Rio e Minas Gerais. Algumas cidades menores já têm enfrentado dificuldades com o abastecimento de água, principalmente na parte baixa do rio, que deságua no Oceano Atlântico na cidade de São João da Barra (RJ).

O nível dos reservatórios da Bacia do Paraíba do Sul chegou%2C no final de setembro%2C a 12%2C9%%3A preocupaçãoHelena Souza / Folha da Manhã

“Já deveríamos estar fazendo algum tipo de racionamento”, defende Vera Lúcia Teixeira, vice-presidente do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica da Bacia do Paraíba do Sul (Ceivap).
“Converso com a população e todos acham que o problema é só em São Paulo. Não estamos fazendo nada aqui”, completa a especialista, que espera que a conclusão da campanha eleitoral facilite a mobilização por medidas de contenção no consumo.

Os órgãos responsáveis pela gestão dos recursos hídricos nas regiões atingidas têm se reunido semanalmente para avaliar a situação — antes da crise, as reuniões eram mensais. No final de setembro de 2009, o nível do reservatório equivalente (que representa a média dos níveis dos diferentes lagos) estava em 79,1%, maior valor desde o início do acompanhamento pela ANA, em 1998. No mesmo período do ano passado, chegou a 51,2% e, desde então, vem caindo rapidamente. Entre agosto e setembro, perdeu 6 pontos percentuais, até atingir a mínima histórica de 12,9%. “Já estamos abaixo de 2003, que foi um ano crítico, e de 1955, o pior já registrado”, diz Vera Lúcia.

Ela adianta que as leves chuvas de outubro foram insuficientes para estancar a sangria. “ Estamos em um ano atípico, com poucas chuvas e calor acima da média para esta época do ano, o que aumenta o consumo”.

‘FUTURO PREOCUPANTE’


Atualmente, a vazão do reservatório de Santa Cecília, o último antes da transposição, está restrita a 160 metros cúbicos por segundo, 30 metros cúbicos a menos do que o normal nesta época do ano. Se não chover até o fim de novembro, pode ser reduzida novamente, provocando problemas nos reservatórios que abastecem o Rio.

O jornal ‘Brasil Econômico’ tentou falar com o governo do Estado sobre o tema, mas não obteve resposta. Em entrevista antes do segundo turno das eleições, o governador reeleito Luiz Fernando Pezão admitiu a possibilidade de medidas de contenção de consumo, caso a situação perdure até o fim de novembro. Em apresentação feita no início de julho, o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Inea) admitia que o ‘futuro já é preocupante’. Segundo a entidade, a possibilidade de redução da vazão na barragem de Santa Cecília é restrita, diante dos impactos já sofridos na região do baixo Paraíba do Sul e da dependência da Região Metropolitana do Rio.

Na época, a projeção era de que o nível do reservatório equivalente da bacia chegasse ao fim do ano em, no máximo, 9,8%. O Inea concluiu que a bacia ‘entrou no vermelho’ e pediu a adoção de medidas propostas pelo Ceivap num manifesto em maio, no qual solicita aos governos federal e estaduais investimentos em tratamento de água e esgoto, fechamento de lixões próximos ao rio e seus afluentes e redução de perdas nos sistemas de distribuição de água, entre outros.

“O Comitê considera que, com um programa de recuperação da qualidade da água, nos moldes aqui propostos, racionalizando os usos, protegendo e recuperando os mananciais, se estabelecem as condições para discutir novos usos de água, inclusive a transposição proposta pelo Governo de São Paulo”, conclui o documento.

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