Rio - A prisão de oito jovens de classe média da Zona Sul na manhã desta quinta-feira — acusados de integrar quadrilha de traficantes de drogas que agia nos arredores da Praça São Salvador, em Laranjeiras — colocou atrás das grades, segundo a Polícia Civil, autores de outros crimes. Entre os detidos em flagrante durante o cumprimento de 15 mandados de busca e apreensão, está um acusado de agredir um adolescente e amarrá-lo nu a um poste, em fevereiro, e ‘black blocs’ que respondem por dano ao patrimônio público em atos violentos no ano passado.
A imagem do menor preso por uma trava de bicicleta, feita pela socióloga Yvone Bezzerra de Melo, coordenadora do Projeto Urerê, correu o mundo e foi motivo de discussões acaloradas em redes sociais na internet. O crime aconteceu na esquina das ruas Oswaldo Cruz e Rui Barbosa. Três motoqueiros mascarados, intitulados ‘Os justiceiros’, seriam os responsáveis pela agressão.
De acordo com o delegado Roberto Gomes Nunes, da 9ª DP (Catete), o grupo foi delatado, inicialmente, por telefonema ao Disque-Denúncia (2253-1177). As ligações apontavam a venda de drogas pela internet e telefone. Porém, o inquérito revela a estreita ligação dos presos com traficantes de morros próximos. “Ao todo, são 44 pessoas citadas. Havia um serviço de disque-drogas, além do comércio por meio de ‘atravessadores’, para entrega de LSD, haxixe e maconha na Praça São Salvador, aos finais de semana.
Analisaremos os computadores e smartphones apreendidos para localizar os ‘clientes’ da quadrilha através do histórico deles nas redes sociais”, disse o delegado. Os agentes apreenderam na operação pistolas de diferentes calibres, R$ 28 mil em espécie, joias e eletrônicos importado, além de máscaras, gás paralisante, caderno de contabilidade do tráfico. Ainda segundo a polícia, a movimentação financeira do bando, no entanto, ainda não pode ser estimada. Entre os presos também há acusados de roubos de carros e estupros. “Os materiais apreendidos com eles reforçam as provas que reunimos”, garantiu o delegado Nunes.
Reuniões para definir estratégias de ataque a policiais
De acordo com o delegado Roberto Gomes Nunes, cada um dos presos será indiciado por crimes diferentes. Coquetéis molotov e máscaras usadas por ‘black blocs’ durante manifestações, que foram encontrados na casa de alguns dos acusados, deram para a polícia a certeza de que eles, anteriormente presos por atos de destruição, ainda continuavam adeptos da tática utilizada durante os protestos.
“Em depoimento, eles confirmaram que se reuniam e discutiam estratégias de ataque à polícia na Praça São Salvador”, garantiu o delegado.
A polícia identificou os oito presos como: Eduardo Quintilhano dos Santos, 23 anos; Gabriel Zibecchi Villeroy, de 20; Pedro Polatschek Valadão de Miranda Aviz, de 21; Daniel Amora Duarte de Souza, de 26; Vinícius Soares de Moura, de 21; Carlos Junior Carreira Tavares de Oliveira, de 22; Paulo Roberto da Gama Rodrigues, de 52; e Matheus de Araujo Rodrigues, de 22. Outros dois jovens foram detidos, considerados ‘consumidores’ sem envolvimento direto com a quadrilha. Porém, serão investigados. Além de ‘black blocs’, um dos presos ontem também foi investigado num outro caso de repercussão internacional: em fevereiro, grupo de jovens torturou um menor nu, preso a um poste, no Flamengo.
De acordo com policiais, além da venda ‘a varejo’ no tradicional ponto de encontro da boemia carioca, o grupo tinha o hábito de realizar festas periódicas em endereços nobres para angariar novos clientes. No ‘menu’ das celebrações, bandejas de drogas e bebidas importadas davam o tom da animação e estreitavam os laços com os novos consumidores.
Menor acusado de roubo foi torturado
Em caso de grande repercussão internacional, um grupo de jovens torturou e prendeu nu a um poste um menor no Flamengo, bairro da Zona Sul do Rio. Ele teve o pescoço preso por uma trava de bicicleta.
Após sofrer a tortura, o menor foi ajudado por um grupo de moradores do bairro, dentre eles estava a socióloga Yvone Bezzerra de Melo, coordenadora do Projeto Urerê. Segundo Yvonne Bezerra de Mello, o garoto foi encontrado, no final daquela noite, próximo à esquina das avenidas Oswaldo Cruz e Rui Barbosa, com um corte na orelha e marcas de tortura nas costas.
Ele teria dito que um grupo de três motoqueiros mascarados, intitulados de “Os justiceiros”, foi o responsável pela agressão. Um amigo que estaria com ele também teria sido espancado, mas não foi localizado. O adolescente, que precisou da ajuda de bombeiros para se libertar do local, foi levado para o Hospital Souza Aguiar. Em uma das fotos divulgadas, o menino aparentava chorar.
O fato dividiu opiniões na página na rede social da artista plástica. Enquanto muitos apoiaram a atitude de Yvonne de resgatar o jovem, outros criticaram a iniciativa. Em um dos comentários, um internauta postou que o fato foi “simbólico” porque, se a polícia não faz seu papel de prender, a população faz. Já outro afirmou que também poderia ter sido a vítima, porque é negro, morador da região e frequentemente não usa camisa.
“Muitas pessoas me mandaram mensagem com aqueles argumentos do tipo ‘está com pena, leva para casa’. Mas, se ele assaltava, a polícia tinha que ter prendido. O que não posso aceitar é que, em um bairro residencial, tenha acontecido isso”, disse Yvonne.
Caso ganhou repercussão internacional
O site do tabloide britânico 'Daily Mail' destacou a imagem do rapaz com o título: "Vigilantes brasileiros pegam 'ladrão' e usam trava de bicicleta para prendê-lo pelo pescoço em um poste (após deixá-lo nu)". Na reportagem, o jornal destaca a atitude de algumas pessoas nas redes sociais, que apoiaram a violência contra o jovem.
Menor voltou a praticar furtos
O menor voltou a ser apreendido no dia 18 de fevereiro, em Copacabana. O adolescente de 15 anos foi pego por policiais militares após assaltar um turista inglês e uma turista canadense, na altura do posto 4.