Rio - 'A população odeia pobre e nordestino'. Segundo integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-teto (MTST), é a isso que se atribui a tentativa de incêndio sofrida pela ocupação na madrugada deste domingo, enquanto todos dormiam. De acordo com eles, de quatro a seis barracos vazios do acampamento montado em um terreno abandonado no bairro de Santa Luzia, em São Gonçalo, foram atacados com o objetivo de destruí-los, porém, o fogo foi controlado pelos próprios ocupantes. Os integrantes do movimento não têm ideia de quem estaria por trás do ato criminoso.
Na última sexta-feira, centenas de famílias realizaram uma ocupação com o objetivo de reivindicar moradias decentes. Eles alegam sofrer com aluguéis abusivos e especulação imobiliária, principalmente por causa do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj) e da possível chegada da Linha 3 do metrô. De acordo com integrante da coordenação do movimento, Vitor Guimarães, "a ocupação é uma mensagem para o governo para providenciar moradia para pessoas que não têm condições de pagar aluguel na região".
A expectativa dos ocupantes é que um diálogo com a prefeitura comece já nesta segunda-feira. Segundo eles, não houve comunicado oficial do poder público e souberam disso por meio da imprensa.
Daniella Assis, 30 anos, mora ao lado da área e confirmou que o local está abandonado há pelo menos três décadas. O terreno pertenceria a um padre que faleceu, mas, tempos depois da morte do religioso, um dono de outro terreno chegou a cercar a propriedade, que foi removida com ajuda da polícia, na época. Até o momento, ninguém chegou a reivindicar a posse da propriedade. Os ocupantes dizem, ainda, que algumas pessoas apareceram dizendo serem os donos, mas sem apresentar documentação.
No momento em que a reportagem do DIA esteve no local, por volta das 12h deste domingo, um carro entrou no terreno e, ao perceber a presença da imprensa, saiu apressado.
Onde foram montados os barracos não há água encanada. A previsão é que 70 crianças passem a morar no local, mas, no momento, há dez. Nesta segunda-feira, a Prefeitura de São Gonçalo vai analisar a situação. A expectativa do MTST é de que o município desaproprie o imóvel e construa casas populares.
No sábado à noite, o MTST cadastrou 200 famílias para a ocupação. “Moro, com duas netas, em um quarto e sala, mas o aluguel dobrou”, disse a ambulante Fátima Dias, de 54 anos, enquanto ajudava na construção do barraco que vai dividir com três famílias. Mãe de um bebê de 7 meses, Greciane Souza, de 23 anos, também fazia seu barraco. Ela alegou que mora, de favor, em área de risco.