Por daniela.lima

Rio - Fortaleza, Bonito e Cartagena, na Colômbia. Estas foram algumas das cidades turísticas escolhidas pela prefeitura de Silva Jardim — cidade com o sexto pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado — para ir a cursos, visitas técnicas, seminários e feiras. A conta é de R$ 413 mil de 2013 para cá. Só o prefeito Wanderson Gimenes Alexandre, do PRB, fez nove viagens, que custaram R$ 138 mil aos cofres públicos. A prefeitura, no entanto, diz que as visitas foram para firmar parcerias e desenvolver “potencialidades turísticas.” 

Gimenes é acusado de fazer turismo por ex-secretário de comunicação Divulgação


A mais curiosa foi a viagem para Cartagena, um dos principais destinos turísticos da Colômbia, em que o prefeito foi com a mulher e chefe do gabinete civil, Viviany Alexandre, por seis dias para visitar uma fábrica “de material utilizado na construção de casas populares”, em abril deste ano. A regalia custou R$ 10 mil em passagens e diárias. Um pacote semelhante na CVC sai pela metade do preço.

No ano passado, o prefeito, a mulher e alguns funcionários gastaram, em apenas uma viagem a Bonito (MS), R$ 21 mil. O ex-subsecretário de Comunicação Social da cidade, Ricardo Mariath, contou ao DIA que esteve na primeira viagem, em setembro de 2009. Segundo ele, que deixou o cargo em março alegando falta de comprometimento com os projetos, a intenção inicial era buscar iniciativas para o turismo sustentável na região. Silva Jardim tem a maior cobertura de Mata Atlântica do estado, com a reserva de Poço das Antas, onde vive o mico-leão-dourado, e o maior manancial de água potável da região — a Lagoa de Juturnaíba. Mas, segundo ele, as viagens não resultaram em nada.

“A visita era para entender o turismo ecológico e aplicar na cidade, mas chegando lá se transformou em passeio. Houve um jantar de confraternização com o secretário de turismo da cidade, mas outras reuniões não aconteceram porque perceberam a falta de interesse. Passamos vergonha”, diz.

No jantar, eles ouviram recomendações sobre a necessidade da criação de legislação para o desenvolvimento do turismo sustentável. No entanto, nenhum parlamentar tomou conhecimento do documento. “Eles diziam ‘depois a gente vê isso’. As visitas viraram passeio e ninguém foi entender como aquilo funcionava”, criticou. 

Farra também entre funcionários

No final de outubro, três servidores da Fazenda passaram dois dias em Fortaleza (CE), para um curso de execução orçamentária, por R$ 7,4 mil. Em julho, dois servidores fizeram o mesmo curso (cinco dias por R$ 6,8 mil). No mesmo período, a prefeitura mandou três funcionários cursar “Gestão de Materiais: Planejamento, Almoxarifado, Compras e Estoque”, por R$ 9,8 mil.

Na secretaria de saúde, três funcionários ficaram dois dias em São Paulo para uma feira de equipamentos hospitalares, e gastaram R$ 6,9 mil, mais R$ 5, 7 mil de passagem.

Em setembro, quatro funcionários da procuradoria geral fizeram curso de assessoria jurídica no Pontalmar Praia Hotel, em Natal (RN), por R$ 12,2 mil. Em agosto, três funcionários da prefeitura participaram de exposição de arquitetura sustentável em SP, por R$ 7,4 mil. Apesar de serem duas mulheres e um homem, foram reservados um quarto triplo e outro individual.

Outra viagem do prefeito para Goiânia, em fevereiro, sob o custo de R$ 5.435,10 também teve como justificativa a pesquisa sobre pesca esportiva. “Mas não teve nada. Passaram o dia pescando e ninguém foi ali para trabalhar”, atacou. 

Fim de royalties, o motivo

A prefeitura diz que as viagens foram por conta do possível fim do dinheiro dos royalties, projeto vetado pela presidenta Dilma. “A viagem a Bonito resultou num termo de cooperação. Este ano o representante de Bonito fez palestra em Silva Jardim.” A viagem a Cartagena foi para conhecer a fábrica de imóveis que pretende construir na cidade. Sobre sua esposa ter viajado, o prefeito diz que ela o acompanhou como “chefe de Gabinete”.

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