Por adriano.araujo

Rio - Cariocas não gostam de dias nublados e, na falta de chuva, também não gostam de economizar água. Pelo menos é o que demonstra pesquisa de opinião feita pela empresa Expertise com 2 mil moradores, de todas as classes sociais em 350 cidades do Rio de Janeiro, de São Paulo e Minas Gerais. Mesmo diante da pior seca dos últimos anos no Sudeste, cariocas e fluminenses parecem não se dar conta da gravidade do problema que provoca desabastecimento nos estados vizinhos.

De acordo com o levantamento, a população da Região Metropolitana e do interior do Rio é a que mais desperdiça água, à frente de mineiros e paulistas. Novos hábitos de consumo, como diminuir o tempo embaixo do chuveiro ou lavar carro com balde no lugar da mangueira, ainda enfrentam resistência por aqui. Enquanto no Rio, sete em cada dez admitem levar menos tempo no banho, em São Paulo e em Minas este tipo de comportamento atinge oito pessoas no mesmo grupo.

Dados mostram que paulistas e mineiros gastam menos água que cariocas. Veja

Alessandra Polide%2C da lavanderia Santa Helena%2C optou por máquinas que utilizam menos águaAlexandre Brum / Agência O Dia

A velha mania de lavar calçada também é maior entre os fluminenses: 61,3%, contra 32,3% dos paulistas, e 37,6% dos mineiros. Apesar do comportamento contraindicado em plena estiagem, a maior parte da população fluminense (76,2%) é a favor do racionamento para contornar o problema. “Se é que se pode dizer isso, a crise hídrica teve um lado positivo. As pessoas passaram a refletir sobre seus costumes e estão conscientes em relação ao desperdício. Justamente por conta da crise, cerca de 88% das pessoas mudaram o comportamento. O ponto dissonante é o Rio de Janeiro, onde 26% não alteraram costumes para reduzir o consumo", constata Christian Reed, executivo responsável pela enquete.

O curioso é que a cidade que maltrata seus rios é a mesma que reconhece seus erros. Quando perguntados sobre os culpados pela falta de água, os fluminenses apontaram o mau uso dos recursos naturais pela população. Para os paulistas, os principais responsáveis são os governos que não fizeram o dever de casa.

Empresas dão exemplo para evitar desabastecimento

?Padarias e lavanderias do Estado do Rio decidiram não esperar pelo pior. Para não ter que recorrer a carros-pipa caso a crise se prolongue até o verão, comerciantes estão conscientizando seus funcionários e trocando maquinário por outros mais econômicos. “A água é matéria-prima. Sem ela, não tem pão”, preocupa-se Sérgio Perez, presidente do Sindicato da Indústria de Massas Alimentícias, Congelados e Sorvetes de Niterói e São Gonçalo. Para ele, que é dono da padaria Francesa, na Cantareira, o nome da região não permite esquecer a escassez dos reservatórios paulistas. “A situação em São Paulo é preocupante. A indústria e o comércio de alimentos serão os mais afetados”, diz Perez, que orientou os empregados a lavar o local com uso de baldes e a fechar bem as torneiras.

No Rio, a lavanderia Santa Helena, na Lagoa, adquiriu máquinas mais caras que usam menos água e vai começar a aproveitar o descarte do enxágue na limpeza do local. “Esta semana, a máquina parou por falta de água. Se a situação se agravar como em São Paulo, teremos que repassar o custo de carros-pipa para os clientes. Não vai dar para aguentar”, prevê a supervisora Alessandra Polide.

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