Por adriano.araujo

Rio - Depois de 47 anos de vida conjugal, o casal Jane e Otavio vai, finalmente, sacramentar sua união. O casamento acontece neste domingo no Armazém 6 do Cais do Porto, numa cerimônia muito especial. Não só porque a noiva é a cantora transgênera e ativista dos direitos LGBT Jane Di Castro, que dirá “sim” ao amado Otavio Bonfim. Eles formarão um dos 160 casais a participar do maior casamento coletivo homoafetivo já realizado no estado.

Nas palavras do coordenador do Programa Estadual Rio Sem Homofobia, Cláudio Nascimento, que organizou a cerimônia, o evento pretende ser um estímulo para que mais casais corram atrás do direito ao casamento — conquistado só ano passado, a partir de norma decretada pelo Conselho Nacional de Justiça.

Cantora e ativista dos direitos LGBT%2C a transgênera Jane Di Castro vai casar hoje com seu companheiro por 47 anos%2C Otávio Bonfim Alexandre Brum / Agência O Dia

“Por muitas décadas, a comunidade LGBT não teve acesso ao direito de se casar. Queremos dizer a todos, com esse evento, que o amor venceu, e celebrar essa conquista importante para a cidadania do grupo”, enfatizou ele, que, junto de seu parceiro João Silva, formou o primeiro casal gay do Rio a conseguir oficializar o direito, no ano de 2013.

Abrindo o cortejo de casais, Jane fará entrada triunfal, cantando ‘Emoções’, do Rei Roberto Carlos. Hoje com 65 anos, a atriz, cantora e ícone do universo arco-íris, conta que atravessou os cinzentos anos de chumbo sem perspectivas de fazer valer os votos de ‘felizes para sempre’. “Estou maravilhada com a oportunidade. Para mim, casar com o homem que amo há tanto tempo é felicidade pura, uma grande realização!”, festejou.

Jane antecipa que entrará no armazém “sem frescuras”, o que significa dizer que a atriz e cantora optou por não seguir o convencional traje de noiva. “Não tenho essa coisa de casar de vestido, com veuzinho, e tudo isso... Para mim já tá bom que não morra pagã”, disse ela, com senso de humor bastante afiado.

A solenidade vai contar com a presença de diversas autoridades públicas, como a desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Cristina Gaulia e o presidente da Associação dos Magistrados do Estado do Rio, Rossidélio Lopes. Para Nascimento, a presença dos representantes de órgãos públicos passa o recado: “Isso mostra que os direitos homossexuais não são direitos menores”.

?Os benefícios para quem opta por oficializar a união

Os benefícios da decisão do Supremo Tribunal Federal, em 2011, de reconhecer a união estável entre casais do mesmo sexo, e da norma assegurada pelo Conselho Nacional de Justiça ano passado, são mais dos que “abstrações jurídicas”. Este é o alerta de Cláudio Nascimento, coordenador do Programa Estadual Rio Sem Homofobia.

“Junto do casamento, vêm o direito à declaração conjunta no imposto de renda, ao plano de saúde do companheiro, ao co-financiamento da casa própria”, enumera. “São infinitas as vantagens, e elas trazem mais segurança para esses que são sonhos e projetos comuns a qualquer casal”, conta.

A cantora e atriz Jane Di Castro, de 65 anos, descreve o que pode ser uma das dificuldades da falta dessa garantia legal. “Conheço casais em que um dos companheiros morreu e a família do falecido trocou a fechadura da porta do apartamento deles no dia seguinte, enxotou o marido, coisas assim”, conta.

No momento de dar entrada na documentação do casamento, na semana passada, ela disse que não teve nenhum problema com a burocracia. “Hoje em dia é lei, o funcionário do cartório tem que reconhecer. É o seu direito. Agora não tem constrangimento”, afirmou, enfática, a cantora.

Reportagem: Luiza Gomes

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