Por paulo.gomes

Rio - A reconstituição da morte do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, realizada nesta segunda pela Polícia Federal, no Instituto Nacional de Cardiologia (INC), em Laranjeiras, pode botar abaixo o indiciamento de dez acusados por homicídio doloso (quando há intenção de matar), que já havia sido feito pela Polícia Civil. Ao contrário do despacho enviado pela 9ª DP (Catete) ao Ministério Público Estadual no dia 14 de julho, a PF, que agora investiga o caso, divulgou que “não há — por ora — indícios de que algum profissional do corpo de saúde tenha recusado diretamente o atendimento”.

Entre os acusados pela Polícia Civil estão o presidente e três diretores da unidade, na porta da qual Marigo morreu à espera de socorro. Caberá ao Ministério Público Federal, após considerar as duas investigações, decidir se houve responsável pelo óbito. “A solicitação de troca de âmbito da investigação foi feita pela Justiça, que considerou que havia um conflito de competências, já que o caso ocorreu dentro de uma unidade federal e existem servidores envolvidos no processo”, explicou o delegado de Polícia Fazendária, Luiz Carlos Cruz, responsável pela reconstituição.

Segundo ele, não foi possível afirmar que, quando o corpo médico do INC soube do caso, Marigo ainda estava vivo: “No entanto, todos os depoimentos colhidos pela Polícia Civil serão considerados”
A viúva do fotógrafo, Cecília Marigo, clamava por justiça e agilidade das esferas responsáveis. “Quase seis meses já se passaram. Que os culpados sejam descobertos e presos o quanto antes. Perdi meu companheiro de vida”, repetia.

Agentes da PF fizeram na manhã desta segunda-feira%2C no Instituto Nacional de Cardiologia%2C em Laranjeiras%2C a reconstituição da morte do fotógrafo Luiz Cláudio MarigoSeverino Silva / Agência O Dia

O advogado dela, Vicente Donnici, acusava a alta cúpula da unidade de impedir o atendimento da vítima, que sofreu parada cardíaca dentro da linha 422 (Grajaú-Cosme Velho): “Em depoimento aos policiais civis, um funcionário disse que outro paciente, horas antes, em situação semelhante, foi atendido na emergência por ser conhecido de funcionário do INC”.

Já Yuri Sahione, advogado de três integrantes da antiga direção do hospital, que estão entre os indiciados, defendeu seus clientes. “A unidade não possui emergência e, por isto, tem protocolo próprio de atendimento. Possivelmente estamos falando de uma falha de comunicação entre a segurança e o corpo médico, que não foi avisado a tempo”, argumentou.

Entre os defendidos por ele estão Celso Cunto e Márcia Barbeito, médicos que integravam a alta cúpula do INC e se aposentaram depois do óbito, e Cíntia Magalhães, então diretora-geral, que encontra-se afastada do cargo. O presidente do instituto, José Leôncio de Andrade Feitosa, além de vigilantes e recepcionistas, completam a lista de suspeitos.

Viúva de Luiz Cláudio Marigo%2C Cecília Marigo acompanhou o trabalho dos policiais em frente ao INC e pediu que o responsável pela morte seja punido Severino Silva / Agência O Dia

Imagens do coletivo mostram que o fotógrafo embarcou às 11h06 do dia 2 de junho. Seis minutos depois ele caiu no chão do ônibus, vítima de uma parada cardíaca. O motorista foi alertado pelos passageiros e parou em frente à unidade, que estava em greve. Ele teria ouvido de um segurança que a unidade “não realizava atendimento daquele tipo”. Marigo morreu à espera de profissional especializado.

MP Federal vai comparar investigações

Segundo o advogado criminalista Luiz Flávio Gomes, a transferência de investigação entre as esferas estadual e federal é mais comum do que se pode imaginar e não deve ser associada à morosidade processual: “É usual que isto ocorra quando o caso envolve autarquias ou agentes federais, como os servidores citados. É o fato que define a competência”.

De acordo com o jurista, o Ministério Público Federal decidirá, após apreciação do documento final (que contempla as duas investigações), se haverá indiciamento: “Neste caso em específico, por já haver dez indiciados, tudo indica que alguns deles serão, de fato, processados. Porém, se ninguém for processado, os documentos serão arquivados”.

Em nota, o Instituto Nacional de Cardiologia diz que não irá se pronunciar até a conclusão da apuração do caso. O INC reiterou que vem colaborando com a investigação do MP e da Justiça Federal, colocando todas as informações à disposição dos investigadores.

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