Por thiago.antunes

Rio - Para a Polícia Civil, o assassinato do soldado Ryan Procópio Guimarães, de 23 anos, após sessão de tortura na noite de segunda-feira, teria ocorrido em represália à prisão de dez bandidos, feita horas antes em operação das polícias Civil e Militar, na Vila Aliança, em Bangu. Na tarde desta terça-feira, enquanto o Batalhão de Operações Especiais (Bope) fazia ‘levantamento das vielas da Vila Aliança para o serviço de inteligência da PM’, a Divisão de Homicídios ouvia testemunhas do crime, a fim de encontrar os responsáveis pelos cinco disparos que atingiram as costas do policial.

O corpo de Ryan foi abandonado na mala do seu Honda Fit, na Avenida Brasil. O PM, que era lotado na UPP da Vila Kennedy, comunidade vizinha à Vila Aliança, morava na região, o que pode ter facilitado o reconhecimento dos bandidos. “Nenhuma hipótese está descartada até o momento. Ryan era filho e irmão de policiais militares, e, por isso, a possibilidade de vingança contra algum dos familiares também não está descartada”, disse o delegado Fábio Cardoso.

Cerca de 200 pessoas entre parentes e amigos comapareceram a enterro, marcado por tristeza e emoçãoJoão Laet / Agência O Dia

De acordo com amigos, Ryan estava de folga e teria sido abordado pelos criminosos quando passava pela Estrada do Engenho, por volta das 22h50. Ele teria sido levado à Vila Aliança, dominada pelo Terceiro Comando Puro (TCP). “Sabemos que dois homens o abordaram, mas já solicitamos imagens de segurança da região e coletamos digitais no carro para descobrir quantos foram os cúmplices”, completou o delegado. O veículo foi encontrado no início da madrugada, na Rua Vigilante Fortunato, próximo à Av. Brasil. Além de ter tido as mãos amarradas, o corpo apresentava sinais de fraturas e um dedo arrancado.

Pai e irmão do Bope

Colegas de Ryan da UPP da Vila Kennedy e do 14º BPM estiveram no local da perícia e reforçaram a segurança na região, considerada de risco devido à proximidade com a Vila Aliança. De acordo com amigos da vítima, o soldado estava há cerca de oito meses na PM e tinha passado pelas UPPs do Alemão e do Andaraí, de onde tinha pedido transferência recentemente. Ele era irmão do tenente do Bope Islan Procópio, de 25, e filho do sargento Procópio, um dos primeiros instrutores de artes marciais da tropa de elite da PM, falecido.

Ryan Procópio Guimarães%2C de 23 anos%2C que era lotado na UPP Vila Kennedy%2C foi encontrado morto e com sinais de tortura dentro de seu próprio carro%2C em BanguReprodução Internet

Ryan também era conhecido como Procopinho — apelido em homenagem ao pai — e havia convidado amigos para beber cerveja. A descontração e orgulho de ser policial foram ressaltados por eles. “Era alegre. Saíamos juntos para beber cerveja, se divertir. Era uma pessoa boa, íntegra, sempre rindo. Dizia que a profissão que ele tinha escolhido era ‘de família’. Tinha orgulho, amava demais ser policial, mas não tinha o costume de andar armado e de usar carteira da PM”, disse um amigo.

‘Além de namorado, é meu amigo’

Os últimos contatos de Ryan foram feitos com pessoas próximas, por celular. Inconsolável, a namorada do PM postou em rede social a última conversa entre eles. “Sei lá, eu sinto a sua falta. Mas sua presença me deixa tranquila. Você, além de meu namorado, é meu amigo”, disse, para a última resposta de Ryan: “Eu sei, amor”.

Porém, de acordo com o delegado, o policial teria feito seu último contato com um amigo, que prestou depoimento. “Quando percebeu o cerco, mandou para o amigo: ‘Fui rendido’”, revelou. Cerca de 200 pessoas acompanharam o sepultamento do soldado, sob honras militares, nesta segunda, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. O comandante-geral da PM, Íbis Pereira, acompanhou o funeral.

Colaborou Lucas Gayoso

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