Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - A tarde deste domingo nos arredores do Estádio João Havelange, o Engenhão, não foi de futebol, mas de muita apreensão depois da paralisação das obras no último sábado, devido ao choque entre duas barras de ferro que darão sustentação à nova cobertura do estádio. As obras devem ser retomadas hoje.
No sábado, operários chegaram a afirmar que parte da cobertura, junto ao elevador, havia cedido. A RioUrbe, no entanto, minimizou o incidente. O prefeito Eduardo Paes também se mostrou despreocupado. “O engenheiro responsável pela obra explicou que um operário se assustou com o movimento da arquibancada com o impacto. Não foi nada, e o estádio vai ser entregue ao Botafogo e à população carioca no prazo”. A previsão é reabrir até março.
Entrada do Setor Oeste, pela Rua José dos Reis, é cenário de terra arrasada: muito entulho afasta pedestres, que também reclamam do aumento do número de assaltosPaulo Araújo / Agência O Dia

Vizinhança no vermelho

Interditado há quase dois anos devido a um problema estrutural justamente na cobertura, o Engenhão, ou melhor, a falta dele, tem causado prejuízo não apenas ao Botafogo, que arrendou o estádio da prefeitura e acabou rebaixado no Campeonato Brasileiro deste ano, mas também a comerciantes e moradores, que tinham ali não apenas uma opção de lazer, mas também uma fonte extra de renda.

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“Eu tirava uns mil reais aos domingos e uns R$ 600 às quartas-feiras. Era o que salvava. Não tenho mais de onde tirar dinheiro”, disse Ione Alves, 37 anos, vizinha do estádio, que abriu um bar em casa, na Rua das Oficinas, onde vendia bebidas e salgadinhos aos torcedores que assistiam aos jogos no Setor Norte.

Na Rua José dos Reis, a que dá acesso ao Setor Oeste, o cenário é de pós-guerra: montanhas de entulho e ninguém nos arredores, deixando os comerciantes reféns da violência, que voltou a preocupar os moradores.

Dona Cileide disse que até os bandidos que voltaram à região estão com pena de assaltar a sua lojinhaPaulo Araújo / Agência O Dia

“Nos dias de jogos havia policiamento e movimento. E nos outros dias as pessoas ainda corriam aqui no entorno. Agora não tem mais nada. Já assaltaram a padaria, a farmácia e o correio. Já entraram aqui para me roubar três vezes, mas acho que os ladrões ficaram com pena e não levaram nada, até porque não tem muito o que tirar daqui”, disse Dona Cileide Geraldo, de 64 anos, que abriu a modesta Casa da Coxita em 2007, mas hoje não faz mais coxinhas e vende apenas balas aos alunos das escolas do bairro.

Proprietário do bar La Moriquita e um dos que mais investiram na região de olho nos torcedores, o botafoguense Uriel Roque é mais um que não tem feito outra coisa a não ser torcer e rezar pela reabertura do estádio. “Meu prejuízo foi de mais de 60%. Toda a gordurinha que ganhei nos primeiros anos, já perdi nestes meses de interdição. Tá feia a coisa”, lamentou Uriel.
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Sucessão de erros marca o Engenhão
Construído às pressas para a realização dos Jogos Pan-Americanos de 2007, o Estádio Olímpico João Havelange nunca caiu no gosto do torcedor carioca. Inicialmente recebeu o simpático apelido de Engenhão, por estar localizado no Engenho de Dentro, mas aos poucos transformou-se no “Vazião”.
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Diferentemente do Maracanã, que tem nos arredores estações de trem, metrô e avenidas largas que facilitam a chegada e a saída dos torcedores, o Engenhão tem apenas uma estação de trem à disposição do público.
Além disso, o alto preços dos ingressos no futebol brasileiro afasta o morador da região, que não tem condições financeiras de assistir aos jogos às quartas e domingos. Em 2010, por exemplo, o Fluminense foi campeão brasileiro diante de público de apenas 4 mil pessoas, quando a média do clube, no Maracanã, era de 40 mil torcedores por jogo.
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“Aqui já era meio ruim de o torcedor vir quando tudo estava funcionando. Agora, com todos estes problemas na estrutura, tenho medo de vir ainda menos gente para cá”, diz Dona Cileide, da Casa da Coxita.
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